Cartas ao director

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Não era preciso cair com estrondo, mas precisava de cair

A queda de alguns deuses caseiros, como aconteceu com Passos Coelho, repetiu-se ontem com o ruído do mimetismo que infiltrou António Costa. Como quem teimou em governar sem legitimidade moral, nos idos de 68, não foi preciso cair da cadeira para que o líder do Governo atirasse a toalha ao chão.

Como o rei que saía quase sempre nu, foi preciso que a realidade tropeçasse no primeiro-ministro, quando o natural seria António Costa ter os olhos bem abertos ao invés de teimar no seu ensaio sobre a cegueira. António Costa tem o que já tardava: sucumbiu, por fim, à carga – em overdose do seu aparelho político-partidário: um PS arrogante, desrespeitoso, incompetente, com tiques totalitários e sem credibilidade mínima exigida.

Respiramos todos um pouco melhor com esta queda aparatosa e impossível de evitar. Venha nova gente!

Maria Morais Mendes, Canidelo

Teimosia, perseverança e ética republicana

Pouco mais haverá a dizer. António Costa é perseverante, nos momentos em que é virtuoso... e teimoso, quando se deixa cair no vício do “orgulhosamente só”. A sobranceria e a teimosia caracterizam as ditaduras. Ao contrário, a humildade e a coragem perseverante constituem marcas de democracia. Enterrar a cabeça na areia, como Costa vem fazendo há tempo excessivo, elogiando um SNS que se desmorona e insistindo em manter governantes, tanta vez contra o sentimento generalizado dos portugueses, raia uma teimosia pouco democrática. Uma maioria parlamentar que, orgulhosa e assiduamente, vota isolada, sem aceitar qualquer proposta da oposição, acaba por castigar um povo que sofre há demasiado tempo. Onde os valores da ética republicana?

José Sousa Dias, Ourém

Uma perigosa confusão

Os dicionários são claros: independente (adjectivo): que age com autonomia; que não se deixa influenciar; inimputável (adjectivo): que não pode ser acusado ou responsabilizado por.

Queríamos um sistema de Justiça independente, responsável, eficaz e respeitável, mas confundimos conceitos e criámos um organismo inimputável chamado Ministério Público; nem sequer precisam de se dar ao trabalho de enunciar uma acusação concreta para derrubar um governo.

Perante quem responde o Ministério Público? Na prática perante si mesmo (o Conselho Superior do MP é dominado pelos procuradores). O que sucedeu aos procuradores que apresentaram acusações sem fundamento?; ou que arquivaram, apesar das evidências?; ou que vazaram para a comunicação social violações sistemáticas do segredo de justiça, promoveram julgamentos na praça pública que depois não conseguiram fazer valer nos tribunais? António Costa demitiu-se, porque leu num comunicado da PGR que era suspeito de qualquer coisa. A Inquisição nunca fez melhor.

José Cavalheiro, Matosinhos

Obviamente, demito-me

Após a suspeição havida sobre o primeiro-ministro, e a prisão preventiva de algumas figuras públicas, com buscas domiciliárias de permeio, acerca de algo “ilícito” sobre a exploração de lítio e de hidrogénio, António Costa apresentou a sua demissão como chefe do executivo. A vida política activa de António Costa terminou por agora ou para sempre, dado o tempo que a Justiça leva para resolver tanta corrupção acumulada a nível de cúpulas do poder.

As oposições, como abutres, já se vão perfilando ante a melhor das fatias, enquanto o Presidente da República ouve o Conselho de Estado e os próprios partidos. Agora, só nos resta esperar o desfecho “do que é da política e o que é da Justiça”. Quem não sabia? Há dias, num jornal diário de grande expansão (JN), na primeira página e em letras garrafais, era anunciado que “gestores de topo têm motorista, casa, luz e gás subsidiados e pensões milionárias”. E todas estas “criminosas mordomias” à custa de quem? Do escravo do mundo laboral que não consegue viver com ordenados de base tão miseráveis; que tem de fazer que “vive”, sem nada quase ter para sobreviver.

José Amaral, Vila Nova de Gaia

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