Mónica Calle regressa ao teatro da palavra, guiada por Oscar Wilde

Até 12 de Novembro, a criadora leva ao Teatro Nacional São João a sua versão de Salomé, num espectáculo sobre o desejo e a morte, entre a palavra, a música e o corpo.

Paulo Pimenta
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Desejo, morte, religião: uma tríade que tem vindo a ocupar um lugar central, e tentacular, no trabalho de Mónica Calle. Vimo-la em Só Eu Tenho a Chave desta Parada Selvagem (2022), Carta (2021) e Ensaio para Uma Cartografia (2017), a latejar através do corpo; de coreografias de resistência e resiliência alicerçadas em ideias de união, transe e sacrifício.

Em , é a palavra o guia principal, mas sem se deixar o corpo para segundo plano. O elenco (João Cravo Cardoso, Johann Ebert, José Miguel Vitorino, Maria Teresa Projecto, Miguel Fonseca e Mónica Garnel) está em constante frémito, entre a pulsão da palavra falada, a procura pela “plenitude” da palavra cantada, convocada através da ópera homónima de Richard Strauss, e o ritual da dança, num quase-transe, ofegante na respiração, e num corpo a corpo com a palavra.

Numa peça que é também uma crítica de Oscar Wilde à misoginia e à vilificação das mulheres, Calle sublinha o modo como Salomé “foi olhada ao longo da história sempre de um ponto de vista masculino”, mas colocando-a num corpo de uma actriz de 50 anos. “Neste texto há uma coisa que me interessa muito, que tem a ver com o facto de todos nós estarmos condicionados pelo olhar dos outros; de sermos postos em caixinhas”, observa. “Salomé personifica a mulher jovem, sensual, objecto de desejo, que é símbolo de perigo e transgressão, mas também a culpada de todos os pecados e de todo o mal que veio ao mundo. Isto é um olhar absolutamente masculino.”

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