No final desta semana, a mãe de uma amiga foi parar ao hospital de urgência. O atendimento foi correcto, mas faltou empatia, compreensão, queixava-se a minha amiga depois de uma noite não dormida, junto da mãe. Os médicos são muito jovens e podem ser tecnicamente competentes, mas quando chega às competências sociais, falham, dizia-me. Nada a estranhar. Estes são os rapazes e raparigas que estiveram fechados, durante o seu secundário, a marrar afincadamente para terem as melhores notas, para conseguirem entrar nas ínfimas vagas que abrem a Medicina. Poucas, porque assim exigiu a corporação ao longo de décadas contribuindo para a alegada falência do Serviço Nacional de Saúde.

Falta de competências sociais que não vão melhorar com o tempo. Não só entre os futuros médicos, como entre os futuros "qualquer coisa" haverá falta de empatia, de olhos nos olhos, de sorrisos ou de compreensão pelo sofrimento do outro. E não acontecerá só na sua vida profissional, como na privada. Lembro-me de há uns anos ver uma reportagem sobre jovens japoneses sem qualquer interesse por terem relações íntimas, fossem de amizade ou de amor. Aparentemente a tendência espalhou-se. A geração Z, a que nasceu em meados de 1990 e vai até 2010, vai pelo mesmo caminho, escreve a jornalista Judith Woods, no The Telegraph. Esta geração não procura relações afectivas, nem sexuais, lamenta. "Eu gostava de ser avó, por isso, espero que a Geração Z largue os smartphones e tente essa coisa chamada sexo", suspira.

Este é um problema grave se, para lá das competências sociais, reflectirmos sobre a reposição geracional, a natalidade e o aumento da esperança média de vida, com sociedades cada vez mais envelhecidas. Muitos governos já se deram conta dos malefícios dos telefones e há quem os queira limitar, por exemplo, nas escolas. Por cá a lei não passou, o PS assim o decidiu, mas o Conselho das Escolas diz que cabe a cada direcção de agrupamento escolar decidir. Cristina Vaz de Almeida, presidente da Associação Portuguesa de Literacia em Saúde, escreveu há uma dezena de dias no PÚBLICO: "O que seria de nós se não nos tivéssemos mantido confinados durante a covid-19, em que morreram milhões de pessoas? O que seria de nós se não tivéssemos imposto, em 1994, o cinto de segurança nos carros e cadeirinhas especiais para transporte de crianças? E, mesmo assim, as mortes na estrada são em demasia."

Boa parte dos estados norte-americanos está a processar a empresa Meta de Mark Zuckerberg porque as funcionalidades do Facebook e do Instagram viciam as crianças. Esta é a maneira de combater o impacto das redes sociais na saúde mental dos mais novos, alegam. 

Mais novos que estão menos autónomos, que não sabem o que é brincar na rua, uns com os outros, sem terem toda a sua vida controlada pelos pais. E isto pode estar também a contribuir para problemas de saúde mental, suspeita Peter Gray, professor e investigador de psicologia e neurociência no Boston College, que juntamente com os colegas David Lancy, antropólogo e professor emérito da Universidade do Estado do Utah, e David Bjorklund, professor de psicologia da Florida Atlantic University, publicou, na edição de Setembro do Journal of Pediatrics, um trabalho sobre o impacto da falta de actividades independentes no desenvolvimento dos mais novos. Uma tese que vai ao encontro do que o professor Carlos Neto não se cansa de dizer: a necessidade de as crianças brincarem de maneira autónoma para crescerem saudáveis.

Os medos são naturais e aproxima-se um dia que procura sublimá-los. O Pão por Deus, que era apanágio das tradições portuguesas, foi substituído pelo americano Halloween com todo o consumismo que o mesmo envolve. Festas com temáticas mórbidas, idas para a escola de máscara, algum medo (ou muito, não sei). Isabel e Ana Stilwell, numa das suas birras desta semana — informo que a Birras de Mãe são também um podcast, diferente das Birras escritas — reflectem sobre o medo, como tendemos a desvalorizá-lo, quando não somos nós. "O medo não é coisa 'de bebés', não é um disparate, não é exclusivo das crianças e é importante que elas saibam disso e, em lugar de o esconderem ou camuflarem, se sintam livres para falar dele", escreve Ana Stilwell.

Em comum, o Pão por Deus e o Halloween têm os doces (noutros tempos, os doces do Pão por Deus eram figos secos e nozes), e doces é coisa que muitos de nós sente falta logo a seguir à refeição (quem não gosta de um quadradinho de chocolate com o resto do vinho que ficou no copo, ou de uma bolachinha com o café?). O The Washington Post explica porquê e como evitar. Contudo, há refeições que são doces por si só. Ninguém imagina um lanche sem um docinho e a proposta do Ritz Four Seasons, em Lisboa, é manter a sua tradição do Chá da Tarde mas, desta vez, fez um desafio ao chef pasteleiro Diogo Lopes, o de criar doces cuja inspiração é uma gama de produtos da marca francesa de alta cosmética e perfumaria Guerlain. Uma parceria que acabou por se tornar um case study para a marca parisiense. Começou em Portugal e poderá ser estendida a outros mercados.

Um chá que pode ser um óptimo programa para avós e netos. No entanto, não foi a escolha da professora Elsa de Barros. E voltamos às crianças para fechar esta newsletter. O desafio proposto pela avó Elsa de Barros às suas netas, de 5 e 7 anos, foi ir até ao rio (Tejo, neste caso), sentarem-se e contemplarem o cenário, das águas aos barcos que passavam. Depois, ver uma exposição, mas com olhos de ver, com tempo para ver, sem distracções, sem pressas, com tempo para contemplar. Um desafio para as crianças dos dias de hoje, mas um desafio superado. Precisamos de contemplar para pensar, mas também para ser, diz Elsa de Barros, citando Heidegger. Para sermos seres mais empáticos, mais compreensivos, mais humanos. E é isso que queremos que os nossos filhos sejam, nem que seja pela razão mais egoísta desta vida, a de nos eternizarmos nos nossos netos!

Boa semana!