Cartas ao director

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Uma apreensão terrível!

Para os gregos, a reflexão, o pensamento crítico, inspirava prazer e este sentimento reapareceu com o Renascimento, muito particularmente com o Iluminismo. Pertenço a uma geração que também vivia isso e bebia o pensamento filosófico, inspirando-se nessa reflexão para desenvolver as utopias de um mundo mais justo e humano. Hoje, a maioria de nós sente que abrir espaço ao pensamento livre cria nostalgia e muita amargura. A minha geração vivia a ideia de socialismo como um sonho libertador apoiado no humanismo. Sentia o fascismo como um anti-humanismo e olhava para o comunismo como herdeiro do sonho de um mundo melhor que já vinha do iluminismo humanista. Líamos e relíamos Marx e comparávamo-lo com as aspirações dos primeiros cristãos que viviam em comunas.

Pensando nos tempos que ocorrem, compreendemos mal que o comunismo se tenha tornado no seu contrário a partir de Estaline. Hoje, Putin herdou o espírito expansionista do estalinismo e do nazismo: transformou o amor em ódio, o valor da verdade, que tornava possível o diálogo, em mentira de conveniência, o humanismo na crueldade, a história na construção expansionista do domínio. Há, hoje, uma necessidade desesperada de encontrar uma autoridade moral num mundo desprovido de valores. Sentimos um vazio no espaço nacional e no europeu. Este é o pior legado que podemos deixar aos nossos netos!

João Baptista Magalhães, Folhada

Os ossos de Eça

Tenho seguido a polémica levantada pelos ossos de Eça. Vejo que os descendentes se dividem sobre a questão: uns querem os ossos em Lisboa, no Panteão; outros em Tormes, onde eles estão. A questão não é nova (já em tempos se propôs o mesmo à família de então e já então foi recusada a deslocação) e parece não ter solução. A não ser… a não ser uma solução salomónica, que se calhar (hélas!) deixará desapontados os dois ramos familiares (e nós todos a assistir): se é verdade que o corpo humano conta duzentos e tal ossos, e mesmo que possam não ser tantos os que ainda lá estarão, porque não os dividir fraternalmente entre o túmulo de Baião e o Panteão? Todos teriam os seus ossos, e até Eça talvez não se sentisse muito mal com uma casa na cidade e outra nas serras. E a solução também não é única: não foi assim que resolveram o dilema com as ossadas de Nuno Álvares Pereira, de Vasco da Gama, de Camões (aliás, também ele repartido por dois panteões)? E toda a gente achou bem, Eça é que é essa!

Jean Némar, Lisboa

O enganador manual de sedução do Governo PS

Quase um ritual de enamoramento é o pacote de benesses que o Governo PS anunciou para fixar os jovens em terras lusas: reembolso anual do valor das propinas pagas num país onde a Constituição aponta para a gratuitidade do ensino — e que só Cavaco Silva interrompeu enquanto direito universal; IRS zero no primeiro ano de trabalho do licenciado ou mestrando – para salários que pouco mais são que gorjeta; uma semana de férias nas Pousadas da Juventude para conhecerem a diversidade e beleza do país — onde não terão casa para morar; passes gratuitos apesar do caos que o PS aportou aos que nem têm garantida a mobilidade para irem trabalhar todos os dias (como na área metropolitana do Porto), …etc., etc., etc.!

Se fosse só grave, já era imperdoável e inaceitável, mas é mais do que grave! É enganador porque ilusório, patético porque não exequível e ofensivo da inteligência mínima porque varre para debaixo do tapete a busca de soluções sérias para uma questão nacional que há-de ascender a trágico.

Maria da Conceição Mendes, Canidelo

Recordar é jogar

Lembram-se quando os jogos de futebol de 11 masculinos não tinham período de compensação? Lembram-se quando não havia substituições? Lembram-se quando o Benfica foi eliminado, em Lisboa, pelo Celtic de Glasgow, através de moeda ao ar? É natural que haja mudanças. No entanto, a arbitragem do futebol português precisa de reciclagem. É inconcebível que o árbitro dê 23 minutos de compensação no jogo FC Porto-Arouca. É certo que o tempo vale ouro, mas exageros dessa natureza não dignificam o futebol português.

Ademar Costa, Póvoa de Varzim

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