1. Estaria disposto a pagar para usar o Facebook ou o Instagram se isso significasse não ter de ver publicidade?

Há poucos dias, uma notícia do New York Times adiantou que a Meta estará a ponderar uma modalidade paga do Facebook e do Instagram, destinada aos utilizadores na Europa que não queiram anúncios. Esta versão seria uma forma de a empresa se proteger das implicações das leis de privacidade da União Europeia, numa altura em que as regras voltaram a ser apertadas. 

Desde Agosto que o Facebook e o Instagram estão na lista de plataformas online abrangidas por legislação recente, aprovada em finais do ano passado, que impõe novas regras no que diz respeito aos anúncios (da lista constam também o Google, a Amazon, o TikTok e o Linkedin). Entre outras limitações, o chamado Regulamento Serviços Digitais proíbe publicidade direccionada a perfis de crianças, bem como publicidade seleccionada com base em algumas categorias de dados pessoais, como a etnia, opiniões políticas ou orientação sexual.

Também proíbe as artimanhas – ou "padrões obscuros", na gíria do sector – que levam as pessoas a carregar em botões ou fazer escolhas que, na verdade, não querem fazer. Quem nunca clicou num botão num site antes sequer de o cérebro ter tido tempo de processar o que estava a acontecer?

Estas proibições são um problema para a Meta (e não só). Foi, por exemplo, a capacidade do Facebook de mostrar anúncios a pessoas com inclinações ideológicas específicas que o tornou uma máquina de fazer dinheiro em campanhas eleitorais.

Porém, isto não quer dizer que a ideia de uma modalidade paga e sem anúncios esteja prestes a avançar: de comentários anónimos feitos a um jornal a uma mudança profunda no modelo de negócio vai um salto. E o preço é uma questão. Cada utilizador do Facebook na Europa representou cinco euros mensais em receitas publicitárias ao longo do primeiro semestre (a Meta não disponibiliza dados específicos do Instagram). Seria expectável que uma eventual subscrição rondasse este valor.

O que os executivos do Facebook estarão talvez a pensar é se os utilizadores valorizam a privacidade o suficiente para pagarem por ela, especialmente se souberem que, dada a nova legislação europeia, essa privacidade está hoje um pouco mais protegida. Seria interessante ver a empresa a colocar um preço precisamente naquilo cuja ausência de valor para a maioria das pessoas lhe permitiu construir um negócio gigantesco. 

2. Os NFT colapsaram sem sequer terem direito a um estrondo que se ouvisse. 

O mercado desta espécie de certificados digitais afundou-se 61% entre o pico do início de 2022 e o mês passado. O número de transacções caiu 81%. Os dados foram compilados pela agência Bloomberg; mas o mercado dos NFT não é uma ciência exacta, e há fontes a darem conta de quedas ainda maiores.

Empresas e respeitáveis instituições juntaram-se em tempos à festa e lançaram as suas colecções de NFT. No geral, esses esforços foram discretamente abandonados. Também houve quem investisse em NFT na expectativa de ter mais-valias estrondosas. E quem quisesse transformar a tecnologia num sistema de pagamentos recorrentes aos artistas, que lhes daria uma participação em cada venda subsequente. Não correu bem: o maior mercado online a funcionar nesta premissa acaba de desistir

Por baixo da aura de sofisticação, os NFT são essencialmente entradas numa base de dados (em concreto, numa blockchain). Cada entrada atesta algo: por exemplo, que alguém comprou o NFT correspondente à imagem de um panda aborrecido, a um gigantesco mosaico de imagens criado por um artista, ou ao primeiro tweet de sempre

O comprador de um NFT não compra necessariamente a imagem do panda, nem o ficheiro digital com o mosaico de imagens e ainda menos compra aquele tweet original. A compra do NFT não dá, por si, nem o direito legal a ser dono do tweet, e muito menos qualquer poder técnico: a mensagem continua disponível para quem a quiser ler e partilhar na Internet enquanto os responsáveis do Twitter assim a mantiverem (está aqui).

A compra de um NFT esgota-se na própria compra: compra-se o acto de comprar e a possibilidade de nos vangloriarmos disso.

Nos casos em que um NFT dá um direito legal sobre qualquer outra coisa (uma escultura física ou um ficheiro digital, por exemplo), o NFT é apenas um certificado assegurado por um contrato ancorado em leis já existentes e externas à blockchain.

Imagine-se agora a dar quase três milhões por um registo numa base de dados que contém um link para um tweet público e nada mais. Não há nada que possa fazer com esse tweet que qualquer outra pessoa não possa também fazer. É certo, pode imprimi-lo, pô-lo na parede de casa e dizer às visitas que gastou milhões num NFT daquele tweet. Mas, tirando a gabarolice, não estará a mostrar nada que qualquer pessoa não possa também imprimir, afixar e exibir. 

Ora, sendo tudo o resto igual, é então na gabarolice que reside o valor de um NFT. E, tal como a privacidade, esta forma específica de gabarolice não parece estar em alta.