Jovem são-tomense com traumatismo craniano grave pede transferência urgente para Portugal

Rapaz de 19 anos está há quase seis meses internado em São Tomé, após ter sido vítima de um acidente. Acabou por ser operado, mas complicações fazem-no queixar-se de muitas dores.

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São Tomé possui acordos de evacuação médica com Portugal Matilde Fieschi

Um jovem são-tomense de 19 anos está há quase seis meses internado num hospital de São Tomé com "traumatismo grave" na cabeça, pede para ser transferido com urgência para Portugal, onde a família considera haver condições para o tratar. Uma médica que analisou o caso diz que a transferência devia ser "para ontem".

Danilo dos Ramos disse à Lusa que foi atingido por uma viatura, quando circulava de bicicleta e bateu com a cabeça no chão. Quando foi levado ao hospital fizeram análises e disseram-lhe que "estava tudo bem".

Contudo, segundo contou o jovem, dias depois começou a ter inchaços na cabeça, o que o obrigou a regressar ao hospital, tendo sido operado. Mas nas semanas seguintes complicações corromperam-lhe toda a pele da parte detrás da cabeça, deixando parte do crânio exposto.

"Eu sinto que a cabeça, quando foi operada, fez como se estivesse a abrir-me a mente, como se alguém estivesse a meter a mão e a tirar algo lá de dentro. Quando fico deitado, sinto que essa pessoa está a dar-me com ferro nas costas", descreveu Danilo dos Ramos.

Deitado numa cama do hospital Doutor Ayres de Menezes, em São Tomé, com uma extensa ligadura na cabeça, Danilo dos Ramos clama por uma evacuação médica para Portugal, para se encontrar solução para o seu problema.

"Espero que isso acabe logo. Está a causar-me muita dor (...) Não quero mais essa dor. Não quero mais essa aflição. Não durmo há 15 dias", apelou.

A urgência é corroborada pela médica são-tomense Ana Maria Costa, que trabalha no Hospital Dr. José Maria Grande, em Portalegre, e que analisou a situação de Danilo dos Ramos através de imagens. A especialista em Medicina Interna, com valência em emergência pré-hospitalar, considera que o jovem sofre de um "traumatismo de alto nível".

"A pergunta que eu coloco é se esse doente tem uma TAC [tomografia arterial computorizada] crânio encefálica feita antes e após a cirurgia?", questionou, alertando que o paciente precisava de uma ressonância magnética nuclear, o que não existe nos serviços de saúde são-tomenses.

Ana Maria Costa admitiu que, na sequência da operação, terá havido "um crescimento de tecido cerebral", "com uma ferida enorme na região cerebral", que é preciso tratar "com a máxima urgência".

"O utente está há cinco, seis meses em sofrimento, com dor e a fazer sabe-se lá o quê, e em São Tomé, com uma lesão dessa num organismo jovem (...) eu não consigo compreender que uma situação dessa esteja em São Tomé, sem a devida solução", lamentou a médica. E acrescentou: "A partir do momento que há lesão cerebral a imposição da assistência da neurocirurgia é mandatória".

A médica disse esperar que a ferida "esteja a ser tratada como uma ferida cirúrgica operatória, em condições assépticas"."Eu espero e agradeço que as entidades de saúde ponham em marcha todo o mecanismo existente em São Tomé para a evacuação [médica] desse jovem e é para ontem", sublinhou Ana Maria Costa.

Um dos irmãos mais velhos de Danilo, Temilson dos Ramos, enviou à Lusa fotografias que fez circular há uma semana nas redes sociais, expondo a "situação chocante" em que ficou a cabeça do familiar. Mas a denúncia não surtiu qualquer efeito.

"Se o hospital aqui sabia que esta é uma situação que não podia ser operada aqui, não mexiam. Mandavam para casa assim. Lá [em Portugal] iam ter solução para ele", reclamou Temilson dos Ramos.

Segundo disse, a família já tratou todos os documentos para que Danilo dos Ramos seja transferido para Portugal, mas, até ao momento, não há uma resposta definitiva.

"Se eles não resolverem" e o irmão morrer, "a família vai ter que rejeitar" o corpo, advertiu.

A Lusa esteve no hospital e tentou ouvir a direcção da instituição e os serviços clínicos, mas foram recusadas explicações, com a orientação para que os esclarecimentos sejam solicitados por carta escrita à administração hospitalar.

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