Ary Borges, da maternidade precoce à estreia perfeita

A jogadora do Brasil, que foi mãe com apenas 15 anos, tornou-se na primeira brasileira a marcar um hat-trick no seu primeiro jogo num Campeonato do Mundo.

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Ary Borges festeja o terceiro golo no Mundial EPA/MATT TURNER
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Os últimos três jogos da primeira jornada da fase de grupos do Campeonato do Mundo feminino de futebol confirmaram o estatuto de candidatos do Brasil e da Alemanha, que golearam o Panamá e Marrocos, respectivamente. Mas não só. O jogo de estreia das “canarinhas” colocou na ribalta o nome de Ary Borges: a nordestina, que foi mãe com apenas 15 anos, tornou-se na primeira brasileira a marcar um hat-trick no seu primeiro jogo num Mundial.

Depois dos Estados Unidos e da Espanha terem entrado no Campeonato do Mundo com triunfos claros, a Alemanha e o Brasil também deram uma prova de força. No Coopers Stadium, em Adelaide, uma selecção brasileira renovada, o que a retira do lote das favoritas a vencer o Mundial, aproveitou ter pela frente na estreia uma das mais frágeis equipas da competição para mostrar à concorrência que também terá que ser levada a sério.

E o duelo com o Panamá serviu para que um dos nomes da nova geração brasileira entrasse na maior montra do futebol feminino pela porta grande. Com o Brasil a ter o domínio absoluto desde o primeiro minuto, foi sem surpresa que, aos 19’, após um cruzamento de Debinha, Ary Borges fez de cabeça o primeiro golo.

Visivelmente emocionada, a médio de 23 anos não conteve as lágrimas no festejo. Porém, a estreia de Ary em Campeonatos do Mundo estava apenas a ganhar contornos de perfeição. A jogadora natural de São Luís, no Maranhão, voltou a marcar antes do intervalo, fez a assistência para Bia Zaneratto fazer o 3-0, e, a 20 minutos do fim, completou o hat-trick que fechou a goleada em 4-0.

Cinco minutos depois, Ary Borges, já com o título de primeira jogadora do Brasil a marcar três golos no seu primeiro jogo num Mundial, foi substituída pela “rainha” do futebol brasileiro: aos 37 anos, na sua 184.ª internacionalização, Marta jogou o seu sexto Mundial.

A noite na Austrália era, no entanto, de Ary Borges. A camisola 17 do Brasil, que aos 23 anos faz a estreia num Mundial, é um dos rostos da renovação imposta pela treinadora sueca Pia Sundhage, que comanda as brasileiras desde 2019, e, embora ainda sem presenças na mais importante competição de selecções, já tem um vasto currículo no futebol do seu país.

Criada pela avó em São Luís, Ary deixou o Maranhão quando tinha dez anos para se juntar aos pais em São Paulo. Começou por fazer testes no Santos, mas quando se preparava para representar o modesto Centro Olímpico, o início da carreira teve de ficar em stand by devido a uma gravidez precoce – foi mãe de um menino, que nasceu em Setembro de 2015.

Dois anos depois, aos 17, Ary mudou-se para Recife, por indicação do seu antigo treinador no Centro Olímpico, e foi campeã do campeonato pernambucano em 2017 e 2018 pelo Sport, o primeiro clube que representou.

Seguiu-se uma transferência para o São Paulo, onde esteve apenas um ano, e nova mudança, agora para o rival Palmeiras onde, no ano passado, foi decisiva ao marcar um dos golos da vitória do “verdão” na final da Libertadores. Já no final de 2022, foi anunciada como reforço Racing Louisville, mas a exibição no jogo de estreia no Mundial 2023, podem tornar fugaz a passagem da jogadora pelo Kentucky.

Se o Brasil é visto como outsider na luta pelo título, a Alemanha está, juntamente com os Estados Unidos, a Espanha e a Inglaterra, no grupo dos principais favoritos, e as germânicas abriram as hostilidades atropelando Marrocos.

Num jogo com dois golos na própria baliza (Ait El Haj, aos 54’; e Yasmin Mbrabet, aos 79’), a goleadora do Wolsburgo Alexandra Popp bisou ainda na primeira parte, cabendo a Klara Buhl e Lea Schuller marcar os restantes golos na goleada, por 6-0.

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