Ministro assume: urgência pediátrica de Loures vai fechar à noite por falta de profissionais

Alerta de que a urgência pediátrica do Hospital de Loures iria encerrar esta sexta-feira a partir das 21 horas e no fim-de-semana foi feito pelos sindicatos médicos.

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Ministro da Saúde, Manuel Pizarro, visitou esta terça-feira o Hospital Amadora-Sintra LUSA/RUI MINDERICO

O alerta de que a urgência pediátrica do Hospital de Loures iria encerrar esta sexta-feira entre as 21h e as 9h e no fim-de-semana foi feito na segunda-feira pelos sindicatos médicos. Horas depois, o ministro da Saúde rejeitou a ideia, referindo que estava em marcha uma reorganização das urgências, a ser elaborada pela direcção executiva do SNS. "Não se pode dizer que a urgência pediátrica vai fechar", começou por dizer na segunda-feira. Mas esta terça-feira, novamente confrontado com o tema, assumiu que o encerramento à noite vai mesmo acontecer por causa da falta de profissionais.

O que disse ontem e reitero é que na próxima semana vai ser anunciado um plano para o funcionamento regular das urgências de pediatria em toda a área metropolitana de Lisboa, designadamente na península de Setúbal, mas também na parte em torno da capital. Isso não significa que não haja entretanto alguns constrangimentos”, começou por afirmar Manuel Pizarro, à margem da visita que fez esta manhã ao Hospital Amadora-Sintra, juntamente com a bastonária da Ordem dos Enfermeiros, mas depois assumiu: “E, sim, é verdade que no caso do Hospital de Loures o encerramento de uma parte dos serviços vai ocorrer mais cedo, apenas porque não há disponibilidade de profissionais.”

Em declarações aos jornalistas, transmitidas pelas televisões, o ministro explicou que a falta de recursos “é uma das razões que levam a essa medida de reorganização, que há-de ser anunciada na próxima semana e que é antecipada no caso da urgência de pediatria do Hospital de Loures, que deixará de facto de funcionar à noite”. Segundo o conselho de administração da unidade, “o serviço de urgência pediátrica passa a funcionar de segunda a sexta-feira, entre as 9h e as 21h". A solução, perante este encerramento, é os pais recorrerem às urgências pediátricas que se manterão abertas. “Continuam abertas as urgências pediátricas no Hospital de Santa Maria, no Dona Estefânia, no São Francisco Xavier. A rede do SNS continua a assegurar uma resposta às necessidades das pessoas.”

Manuel Pizarro lembrou que a direcção executiva do SNS “está a trabalhar na organização de um modelo de atendimento metropolitano” das urgências – não apenas pediátricas que “permita assegurar previsibilidade às pessoas e que responda à disponibilidade de profissionais que temos”. “Neste momento, existem em toda a área metropolitana de Lisboa 12 urgências de pediatria em funcionamento. Acho que podemos organizar melhor os serviços, garantindo um número de urgências que corresponda às necessidades, com a proximidade geográfica possível, mas que ao mesmo tempo corresponda à disponibilidade dos profissionais que existem para assegurar estes serviços”, acrescentou, salientando que o “essencial” é garantir “qualidade e segurança” e noutras zonas do país já funcionam modelos semelhantes com sucesso.

Na próxima semana, a direcção executiva vai reunir com os 12 hospitais para discutir a reorganização das urgências pediátricas. Numa resposta ao PÚBLICO, enviada na segunda-feira, o organismo liderado por Fernando Araújo disse que estão a ser discutidos “diferentes cenários de reorganização” da rede e disse que antes da reunião não será tomada uma decisão sobre “o modelo que melhor defende os utentes”. Além dos representantes dos 12 serviços de pediatria, na reunião vão participar a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, o INEM, a linha SNS24, a unidade técnica operacional e a comissão executiva nomeadas para estudar a reorganização da rede de urgências pediátricas

Faltam pedopsiquiatras no SNS

O ministro da Saúde foi também questionado sobre a situação da saúde mental infantil. O PÚBLICO noticiou esta terça-feira que o SNS tem falta de pedopsiquiatras, havendo um défice de especialistas muito acentuado no Algarve – com apenas um médico a tempo parcial no serviço público – e no Alentejo, que conta apenas com dois médicos.

Manuel Pizarro assumiu que existe um constrangimento. “Temos médicos de pedopsiquiatria a menos no SNS em relação às necessidades. Estimamos que necessitaríamos de cerca de 200 e temos 132. Estamos a formar mais médicos”, disse, referindo que ao mesmo tempo é preciso assegurar capacidade de atracção desses médicos.

Referindo que as questões de saúde mental não são só tratadas por especialistas em psiquiatria da infância e da adolescência “esses são necessários para os casos mais graves e complexos” , o ministro referiu que “há muitos outros casos que podem ser tratados pelos médicos de família e pelos psicólogos, que temos de aumentar nos centros de saúde”.

“Estamos a aumentar o recrutamento de psicólogos, que não é ainda suficiente, mas nos últimos três anos entraram 90 psicólogos para os centros de saúde e nos últimos seis anos foram admitidos mil psicólogos nas escolas”, afirmou, referindo também o investimento por via do Plano de Recuperação e Resiliência, que tem permitido aumentar as equipas de saúde mental comunitárias. “Foram criadas dez novas equipas em 2022 e vão ser criadas dez equipas adicionais em 2023”, disse, assegurando que o ministério está atento ao problema e “à necessidade de lhe dar uma resposta”.

No âmbito da visita que fez ao Hospital Amadora-Sintra, o ministro salientou o esforço dos profissionais daquela unidade, que admitiu trabalharem em condições difíceis. “A sala de observações da urgência deste hospital tem a capacidade para uns 40 doentes e tem hoje internados 108 doentes. Arranjaram-se novos espaços físicos com muita imaginação, mas ainda assim as condições de trabalho são muito difíceis”, reconheceu. “Vamos acelerar as altas das pessoas que já não têm indicação clínica para permanecerem internadas no hospital, isso ajudará a aliviar, e imaginamos outras soluções, designadamente recorrer a outros hospitais que possam dar apoio”, apontou como resposta imediata para aliviar a pressão.

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