O interior do país está a mudar graças a estes projectos – e o próximo pode ser o seu

Vencedores de edições passadas do programa Promove, estes três projectos inovadores estão hoje a dinamizar o interior de Portugal. Conheça-os em detalhe.

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Este ano, o Programa Promove chega à sua 5ª edição: desde 2018, a iniciativa lançada pela Fundação “la Caixa” em colaboração com o BPI e a Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) já permitiu apoiar 46 projectos e 22 ideias inovadoras. Este é um programa que tem como objectivo apoiar projectos e ideias que potenciem o desenvolvimento sustentável de regiões no interior de Portugal. Investe, a fundo perdido, em projectos-piloto e ideias inovadoras nas áreas de gestão eficiente de recursos naturais, criação de novos pólos de especialização, atracção de turismo e novos residentes, e em projectos de investigação nos domínios das águas termais, parques e reservas naturais, estudos sobre riscos biológicos e promoção de novas culturas e produtos naturais.

O intuito é dinamizar projectos-piloto e de I&D que venham dar força ao interior de Portugal, gerar conhecimento e inovação. E também valorizar os recursos, as competências locais e o reforço dos recursos humanos qualificados.

É fácil constatar a relevância deste programa: basta olhar, por exemplo, para três projectos vencedores da 3ª edição, decorrida em 2020-2021, que já estão a mexer com o interior.

Aquae Vitae: os benefícios das águas termais

Começamos pelo projecto de I&D Aquae Vitae, promovido pelo Centro de Investigação de Montanha - Instituto Politécnico de Bragança. Segundo Maria José Alves, responsável pelo projecto, este surgiu “com o intuito de avaliar os efeitos terapêuticos da água termal, tendo em conta a sua composição química e microbiológica, desenvolver bebidas e/ou alimentos funcionais de base termal com possível incorporação de compostos bioactivos naturais, criar produtos cosméticos sustentáveis de base termal, e avaliar a sustentabilidade dos recursos hidrominerais e geotérmicos regionais”.

Agora, as regiões abrangidas pelo projecto Aquae Vitae já começam a constatar os seus benefícios. Nas palavras de Maria José Alves, “O projecto Aquae Vitae assume um papel importante nas regiões directamente envolvidas (NUTS III “Terras de Trás-os-Montes”, “Alto Tâmega” e “Beiras e Serra da Estrela”), visto que pretende dinamizar e promover a água termal, um dos recursos mais relevantes que caracteriza estas regiões”.

O projecto Aquae Vitae tem permitido saber cada vez mais sobre os benefícios das águas termais e, graças a isso, podem estar a caminho novas terapêuticas e outras novidades: “estão a ser estudadas novas indicações terapêuticas e alternativas de tratamento e prevenção de determinadas patologias. Simultaneamente, estão em fase de desenvolvimento alimentos e bebidas de base termal, bem como cosméticos sustentáveis”.

EscarpArte: à descoberta da pintura esquemática da pré-história em Mirandela

O projecto EscarpArte é outro dos vencedores da edição do Programa Promove de 2020-2021. Tendo como domínio temático a valorização do capital simbólico para a atracção de turistas e residentes, tem como objectivo estudar e divulgar ao público a maior concentração de pintura esquemática da pré-história recente em Portugal, localizada na Serra de Passos/Serra de Comba, em Mirandela, no norte do país. De acordo com Patrícia Cordeiro, responsável pelo projecto, “As condições e regras do Programa Promove permitiram criar um consórcio que une entidades completamente distintas mas com papéis complementares e, por isso, temos no projecto o ensino superior através da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, uma empresa especializada em arqueologia, a Dryas, o município de Mirandela, onde se desenvolve este projecto, e a nossa entidade, o Laboratório Colaborativo MORE – Montanhas de Investigação através da área Património, Turismo e Bem-Estar”.

O projecto EscarpArte destaca-se por dar a conhecer um património arqueológico que, apesar de ser “há muito reconhecido e estudado pela comunidade científica”, é “pouco conhecido do público e com pouca valorização do ponto de vista sócio-económico”. Deste modo, a missão deste projecto é “tentar criar uma solução, essencialmente tecnológica, de visita e fruição turística, ou seja, ir além da adequação do sítio arqueológico para visitação no local. Na base desse resultado piloto, está também o estudo arqueológico com recurso à prospecção digital e a digitalização de pinturas e outros vestígios arqueológicos”.

Já este ano e até à conclusão do projecto em 2024, a expectativa de Patrícia Cordeiro é que sejam programadas algumas acções educativas sobre a temática e que no verão seja possível testar a solução digital de apoio à visita, para a qual foram desenvolvidos conteúdos multimédia.

Landfood: a bolota como futuro da indústria agroalimentar portuguesa

É no Alentejo, mais concretamente em Portalegre, que encontramos mais um dos vencedores da edição do Programa Promove de 2020-2021: o projecto LandFood. Tendo como promotor o Armazém da Bolota e como domínio temático a criação ou consolidação de novos pólos de especialização, a missão do projecto LandFood é valorizar a bolota como matéria-prima nutritiva e sem glúten para a indústria agroalimentar, contribuindo para assegurar a competitividade económica da floresta endémica alentejana. Pedro Babo, responsável pelo projecto, esclarece que “o apoio do Programa Promove foi essencial para o lançamento do LandFood, na medida em que nos possibilitou investir na implementação de acções e no estabelecimento de parcerias para o desenvolvimento com entidades do ensino superior da região”.

Produzida por carvalhos, sobreiros e azinheiras, que compõem cerca de 36% da nossa floresta, Pedro Babo explica que “a bolota é o fruto maior da nossa floresta endémica. É mais nutritiva dos que os cereais, e é rica em substâncias com propriedades nutraceuticas. Por exemplo é uma fonte de vitamina E, um potente antioxidante, e tem 5 vezes mais potássio em peso do que a banana. Contudo, há vários factores que têm confinado os produtos de bolota a mercados de nicho. Apenas a bolota de azinheira é naturalmente doce, e é a única que pode ser consumida directamente; o elevado custo dos produtos resultantes, como a farinha e sucedâneos de café de bolota, pelo facto de serem produzidos em pequena escala e de um modo artesanal; o ainda existente condicionalismo cultural, que associa a bolota à alimentação animal; a falta de consciencialização dos produtores florestais para o potencial deste recurso; e, por fim, a inexistência de uma cadeia de valor, que garanta a apanha, transporte e fornecimento de bolota em quantidade”.

Por isso mesmo, o projecto LandFood está a trabalhar numa cadeia de valor para comercialização da bolota e a estudar todas as potencialidades deste activo: “está a ser desenhada e implementada uma linha de processamento industrial, que irá permitir, por um lado, tornar a bolota de todas as origens comestível e, por outro, explorar soluções que se enquadrem num paradigma de bioeconomia circular para a valorização dos sub-produtos do processamento da bolota”.

Assim se prova que o Programa Promove está de facto a trazer projectos inovadores ao interior do país. A boa notícia é que a 5ª edição está em curso, e pode candidatar-se até ao próximo dia 7 de Fevereiro, às 23h59. As iniciativas apoiadas dividem-se em três categorias: Projectos-piloto inovadores, Projectos de I&D mobilizadores e Ideias com potencial para se tornarem projectos-piloto inovadores. Consulte o site da iniciativa para conhecer todos os pormenores e arrisque. O seu projecto pode ser o próximo a mudar o interior do nosso país.

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