Três máximas sobre a investigação científica

Há dias, cruzei-me com um jovem investigador. Vinha aborrecido. A razão: conhecera, pela primeira vez, a rejeição de um artigo científico.

Diz-se que a idade adulta acontece quando compreendemos os erros dos outros. Nomeadamente, quando os outros ficam aborrecidos por ninharias. Há dias, cruzei-me com um jovem investigador. Vinha aborrecido. A razão: conhecera, pela primeira vez, a rejeição de um artigo científico. Quando vivemos habituados a ter as melhores redações da turma e as notas mais altas da classe, ficamos sempre com um choque mais prolongado quando, pela primeira vez, percebemos que somos humanos. Aí lembrei-lhe três máximas que aprendi com outros colegas. Máximas que, neste mundo tão eugenista da investigação, aproveito para recordar.

Primeira: “Trabalhar com pessoas boas”. Trabalhar com pessoas ultrapassa a frieza e as ameaças de um ChatGPT. Mas trabalharmos com gente amargurada, que nunca agradece, que só vê defeitos nos outros e que nunca está satisfeita destrói a confiança dos mais jovens e dos mais frágeis. Que, em muitos casos, seriam investigadores excelentes – ou ainda mais excelentes – se trabalhassem com pessoas melhores.

Segunda: “Eles é que perdem.” Ao contrário de pensares, caro jovem, que quem perde és tu, eles é que perdem por não te darem valor ao trabalho. Escusado será invocar o exemplo de genialidades que tarde (ou tarde de mais) foram reconhecidos. Portanto, não te omitas da obrigação de contribuíres para uma investigação melhor. Não te publicam esses? Eles é que perdem.

Terceira: “Porque não há de ter o teu trabalho valor?” Se achares que o artigo vale por uma métrica associada a uma revista, deves também achar que, lá, no fundo, uns valem mais do que outros porque têm casas diferentes, carros diferentes e percursos diferentes. Uma casa vale menos porque é uma casa numa aldeia? Vales menos por teres nascido onde nasceste?

O meu jovem colega continuou o caminho, refletindo no que lhe disse. E o que me deixou contente foi isso mesmo – ele continuou o seu caminho.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

Sugerir correcção
Ler 2 comentários