A era do trabalhador-estudante

Corremos para a faculdade, onde temos aulas de três a quatro horas. Trabalho cinco horas por dia, e sou bastante felizarda, a Bia trabalha oito.

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E o dia começa cedo, lá fora ainda está escuro, o despertador estremece a mesinha de cabeceira e mais um suspiro é libertado.

O futuro de um jovem termina no momento em que ele precisa de trabalhar. “Estatuto de trabalhador estudante”, dizem eles. Permitindo-nos estudar e trabalhar, ganhar dinheiro para sustento e gastar tudo em necessidades básicas. É exaustivo, acordar cedo e deitar tarde, perder alguns bons momentos que a vida também tem para dar. Ir ao máximo de aulas possível e pedir apontamentos a todos e mais alguns. Mas a meta é a mesma: a Maria envia-me o que pode, mas a Ana dá visto na mensagem do WhatsApp.

Já vou atrasada para apanhar o autocarro 21, que pelo menos me deixa à porta!

Corremos para a faculdade, onde temos aulas de três a quatro horas. Trabalho cinco horas por dia, e sou bastante felizarda, a Bia trabalha oito. Acordar cedo e deitar tarde, dormir umas cinco horas por dia, dias de sorte, quando não dá, fazemos directas. Nas horas de almoço rever apontamentos e nos transportes fazer esquemas mentais.

Ganhamos um melhor amigo para a vida, sem o qual somos cadáveres ambulantes: mais uma moedinha, mais um pouco de cafeína!

Que ódio temos por despertadores, servem para tudo, hora de levantar, hora de deitar, terminar o estudo, de correr para o autocarro, de sair da biblioteca. Contamos os segundos que precisamos antes de entrar nas frequências e ainda corremos para comprar as folhas de teste.

Somos máquinas que perdem a capacidade de sonhar e tornamo-nos robôs automáticos que ainda usam agenda para apontar cada necessidade do dia, porque tudo é tanto, que o pouco nos falta.

Depois, seguimos para o trabalho. “Estatuto de estudante”, dizem as entidades empregadoras, que decoram com afinco essa nossa característica específica no momento de renovação de contrato; então ficamos calados porque o português é bom trabalhador.

E no fim de tantas pestanas queimadas, terminamos! E lá vamos nós, orgulhosos, para o LinkedIn. Os risos são grandes, a teórica importa pouco quando a experiência importa tanto, mas para quem trabalha os estágios financiados não são opção.

A nossa definição de trabalhador estudante persegue-nos porque felizmente ou infelizmente não somos desempregados e contribuímos para a Segurança Social. Hora de tomar uma decisão: vamos para o desemprego e esperamos por um estágio na área durante meses? Ou optamos por continuar a trabalhar? O oxigénio não enche o estômago.

Aí termina o sonho de ganhar experiência na área, e somos apenas mais um currículo com demasiadas qualificações para a caixa do supermercado. Afinal, nem todos podem ser doutores.

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