O capitalismo como ditadura

Quanto mais se desinveste nas políticas sociais, mais cresce o descontentamento e mais os governos neoliberais nele procuram sustentar as soluções que querem sempre impor: privatizar e securitizar.

Chegado o outono regressa a recorrente crise do sistema público de saúde. E, contudo, há muito pouco tempo, com a pandemia, vivemos a ilusão de que a saúde pública, em Portugal e nos demais países onde ela foi sujeita a décadas de austeridade e a processos de “racionalização” de serviços e equipamentos que favoreceu descaradamente a privatização, ia ser finalmente devidamente valorizada, os seus trabalhadores iam passar a ser respeitados, as suas carreiras e as suas remunerações iam espelhar o seu esforço e compromisso profissional, dando-se dessa forma um contributo decisivo para resolver o crescente défice de pessoal com que o SNS se enfrenta. Esta foi a mais amarga das ilusões alimentada pela reação social e política à pandemia. A de que os gestores neoliberais de governos, de direita ou sociais-democratas, pareciam arrepender-se de 30 anos do que haviam (des)feito. Não fora Boris Johnson salvo pelo SNS britânico, não estava ele grato ao enfermeiro português? – que, diga-se de passagem, havia emigrado para procurar fora de Portugal as condições de trabalho que aqui lhe não davam. A verdade é que, uma vez passada a opressão do medo da pandemia e a encenação política do “estamos todos no mesmo barco”, a forma como se tem tratado os trabalhadores da saúde pública é uma extraordinária lição sobre a verdadeira natureza do neoliberalismo.

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