Cartas ao director

Os Direitos Humanos e os negócios

O não respeito pelos direitos humanos no Qatar dos imigrantes utilizados na construção das estruturas para o Mundial de futebol, levou inúmeras organizações de direitos humanos à sua denúncia pública. Suspeita-se que morreram milhares destes trabalhadores pelo desrespeito das regras de segurança e da carga horária de 12 horas/dia sem folgas. A ONU equiparou este abusivo tratamento aos trabalhadores a escravatura. Infelizmente esta prática de não respeito pelos direitos humanos abrange a generalidade dos países/monarquias do chamado Médio Oriente. Também sabemos que estas monarquias, onde se insere o Qatar, são grandes compradores de material de guerra e grandes fornecedores de petróleo e gás aos países da União Europeia e Estados Unidos da América. Todos sabemos que os Estados Unidos e a União Europeia aplicam sanções pela prática de não respeito pelos direitos humanos em outros países em que eles são efectivamente mais cumpridos do que nestes países do Médio Oriente, então porque não aplicam sanções a estas monarquias? Ou a aplicação de sanções a outros países não será mera hipocrisia?

Mário Pires Miguel, Reboleira

Ucrânia: negociar a paz ou ​eternizar a guerra

Nada, mesmo nada, justifica a invasão da Ucrânia por Putin. Mas não se pretender fazer acordos de paz entre a Federação Russa e a Ucrânia, com a intervenção do que ainda possa representar a ONU, é eternizar uma guerra que está a destruir directamente a Ucrânia e indirectamente a Europa.
A ajuda militar em armas e armamento, constante dos EUA, não vai ser a forma de fazer terminar a guerra na Europa. É uma forma de escoar material de guerra americano, e de levar ao limite os disparates iniciados por Putin. E se daqui a um ano, ainda continuar este estado de guerra, a Rússia de Putin estará mais pobre e debilitada, mas em simultâneo a Ucrânia estará totalmente desfeita. Ou se faz já a paz ou se aguardará que caia tudo em tal deterioração que já nem sequer a paz será negociável.

Augusto Küttner de Magalhães, Porto

Lisboa respira mal

É o que diz o PÚBLICO de domingo, citando estudos especializados. Pouca gente pensará em... navios quando se fala na poluição do ar em Lisboa. E no entanto, são eles um dos principais culpados do mau ar de Lisboa. Quem o diz? Para não ir mais longe, cito uma proposta apresentada na Assembleia Municipal de Lisboa que li no PÚBLICO de 23 de Março: “Enquanto atracados em Lisboa estes navios são responsáveis por cerca de 3,5 vezes mais emissões de dióxido de enxofre que todo o parque automóvel da cidade num ano inteiro, e por um quinto do total das emissões de óxidos de azoto”. Mais do que todos os automóveis de Lisboa durante um ano. Não seria isto razão suficiente para começar a pensar em soluções que ataquem o problema na raiz?

Há no mundo milhares de portos onde atracam cruzeiros como estes que fazem o favor de nos visitar. Pois Lisboa consegue a façanha de ser a sexta cidade europeia mais exposta a este tipo de poluição. Cidades como Barcelona e Veneza, por exemplo, que enfrentavam o mesmo problema, começaram a limitar o número destes visitantes e até a proibir o estacionamento dos navios que não dispusessem de sistema de ligação à electricidade enquanto se encontram atracados. Claro que para isso o Terminal de Cruzeiros teria de estar devidamente equipado. E está? Pergunte-se a quem sabe e logo nos dirão que estão “firmemente empenhados num futuro de emissões zero” e são muito capazes de nos anunciar “um compromisso histórico de redução do índice de emissões de carbono em toda a frota de cruzeiros em 40% até 2030”, que é quando já todos nos teremos esquecido do que nos disseram.

José Lima, Lisboa

Há muito desperdício

No antigo regime totalitário salazarento, antes da Revolução dos Cravos, toda a população tinha de ser muito parca e precavida nas palavras que dizia. E se fosse ‘do contra’, até as paredes ouviam. A vida era muito ‘madrasta’ para quase toda a gente. E, nesses tempos cinzentos, outras cores não existiam, só em sonhos libertadores.

Nesse tempo, tivemos um almirantado presidente da República, que ficou conhecido pelo ‘corta fitas’. Hoje, és livre. Vives em democracia. E digas o que disseres, ninguém deste regime te liga patavina. Agora, o povo aperta cada vez mais o cinto, apesar de ter todas as cores do mundo, mas pouco mais tem do que a liberdade de expressão. Tu, até te podes manifestar, e ficas aliviado. Mas nada mais acontece do que foi cozinhado com as ementas do poder.

Por isso, não havendo já um ‘corta fitas’, temos um exibicionista nadador que acumula em ser um ‘selfiesta global’, para além do dispendioso gosto extremo de falar por tudo quanto é sítio, mesmo para inoportunos destinos. Assim, o país jamais sairá da cepa torta, uma vez que outras individualidades públicas de tão onerosa corte fazem o mesmo.

José Amaral, Vila Nova de Gaia

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