Cartas ao director

Falta de escrutínio

Miguel Alves já se demitiu, a respectiva cabeça já rolou na guilhotina mediática, mas obviamente o assunto não está encerrado. Ainda não sabemos para onde foram, nem por onde andam os famosos 300 mil euros, há dois anos transferidos da esfera pública para singelas mãos privadas, para uma empresa de um homem só, criada na hora, sem historial nem actividade, entregues sem garantia ou contrapartida. Onde estão? Tresmalharam-se?

Na caricata entrevista que o protagonista fez para se defender, muito na base do ou é burro, ou nos toma todos por burros, havia uma verdade. Se ele não tivesse sido nomeado secretário de Estado, provavelmente o assunto não se teria mediatizado com a mesma amplitude. Que o diga também o recente secretário de Estado, J. Maria Costa, que vê agora saírem notícias sobre alguns negócios feitos durante os seus largos anos à frente da Câmara de Viana do Castelo.

É perfeitamente natural que a acrescida exposição e maiores responsabilidades políticas aumentem o nível de escrutínio e consequente ressonância mediática dos casos. Isso não é mau. O que é mau é todos os outros negócios e euros que se tresmalham de norte a sul, por pequenos reinos e expeditos reizinhos.

Os melhor habilitados e mais interessados em denunciar são os mais directamente afectados, os munícipes, sendo também verdade que muitos desses reinos são algo asfixiantes na reacção ao questionamento do seu poder (quase) absoluto. Mais democracia e escrutínio, precisa-se!

Carlos J. F. Sampaio, Esposende

Novo aeroporto de Lisboa/Portugal

Li o editorial [do director do PÚBLICO] sobre o assunto em epígrafe. Bom texto, bom trabalho e excelente finalização. Mas o problema do novo aeroporto de Portugal está naquilo de que sofremos, desde o final da época áurea dos Descobrimentos: não há dinheiro! Como diria, melhor que eu, Vítor Gaspar...

Maria Natália Mariano, Lisboa

Ucrânia/Rússia armamento/sanções

A análise do investigador José Pedro Teixeira Fernandes publicada ontem no PÚBLICO é suficientemente elucidativa sobre como os efeitos imediatos das sanções contra a Rússia têm tido pouco efeito sem garantias de eficácia no futuro, mas cujas consequências colaterais vão gradualmente entrando pelas nossas casas. Mais grave do que isto é o dilacerante e contínuo sofrimento de todo o povo ucraniano, ora marcado pela busca de acolhimento migratório, ora, mais recentemente, pelas agruras do Inverno que se avizinha, a que acresce a falta de electricidade e de combustível.

Se a tudo isto acrescentarmos a fustigante e crescente destruição territorial da Ucrânia, que tanto Zelensky como o secretário-geral da NATO prenunciam, é altura de indagar de que vale falar de integridade nacional em detrimento de um imediato apelo à negociação política relativamente ao conflito. Em termos político/bélicos, torna-se desnecessário uma paridade entre os beligerantes; basta, isso sim, o reconhecimento em como a guerra, mesmo que seja de responsabilidade de uma das partes – in casu a Rússia – não favorece qualquer dos intervenientes. Estamos no séc. XXI e será à mesa das negociações que em última instância se ajustarão as bases negociais.

António Bernardo Colaço, Lisboa

É a ideologia, “estúpido!”

Falo da aprovação pelo Parlamento Europeu (PE) da resolução que “reconhece a Rússia como patrocinador de terrorismo utilizando meios terroristas “. As posições dividem-se, mas... os votos falam por si: 494 a favor, 58 contra e 44 abstenções. Isto, num Parlamento democrático (como, por ser óbvio, deviam ser todos). Deixo de lado os abstencionistas que a si próprios chamam“ independentes”, quando não “inteligentes” ou neutrais, mas que eu designo por “amibianos”, no caso vertente, para me focar em dois artigos vindos aqui no PÚBLICO, de Teresa de Sousa (T.S.) e Ricardo Cabral (R.C.): “Nenhuma abstenção é justificável. É apenas lamentável” e “Uma resolução questionável do Parlamento Europeu”, respectivamente em que a primeira não entende a abstenção das deputadas do PS e o segundo o faz com a própria aprovação. Igualmente pela mesma ordem, T.S. aduz que a votação foi política e não diplomática ou comercial o que compete ao PE pela natureza do seu munus e R.C. porque hélas! os EUA não escolheram uma resolução idêntica, porque não tem suporte legal.

Partilho a posição de T.S., pois entendo que a lei não é a ética e deve ser no Parlamento que as posições políticas se afirmam “custe o que custar”, como é o caso em questão. Se não, onde fica a ideologia democrática? E é desta que precisamos para nos não tornarmos em neutros espúrios, num tempo em que se destrói de forma terrorista toda a sociedade dum país “à bomba”.

Fernando Cardoso Rodrigues, Porto

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