Cartas ao director

25 de Novembro e 11 de Março 1975

Na peça política ontem assinada pela jornalista Ana Bacelar Begonha sobre o 25/11/1975 no PÚBLICO, diz Francisco Assis, do PS, que o Parlamento devia evocar, ou seja, celebrar o 25 /11/1975, André Ventura, do Chega, diz que tem insistido para que seja feriado nacional, e o CDS, o IL e o Chega vão comemorar com jantares-comício o 25 de Novembro, mas, ironia das ironias, muitos destes partidos tão empenhados em celebrar essa data não celebram o 25 de Abril citando um ditado popular: “Diz-me com quem andas e digo-te quem és.”

O curioso destas posições políticas acerca desta data é que ninguém destes partidos fala no 11/3/1975 quando se aproxima a referida data, em que a extrema-direita, quer civil quer militar, comandada pelo general Spínola, tentou um golpe militar para derrubar o Governo e acabar com o 25 de Abril de 1974. Spínola fugiu para Espanha depois de o golpe fracassar e exilou-se no Brasil, sendo reabilitado como se nada tivesse acontecido, regressando a Portugal pela mão do Governo do PS em 1976 e promovido a marechal.

Daniel Marques Simões, St.º António da Charneca

O que é terrorismo?

O Parlamento da União Europeia deliberou que a Rússia é um Estado terrorista. Ao fazê-lo, o Parlamento Europeu extravasou dos seus poderes, que, aliás, são poucos, e o remetem para uma absoluta irrelevância na estrutura da União. Qualquer reunião de ministros das finanças, que organicamente não existe, o supera em poderes decisórios de facto.

Ao proceder como procedeu, não só não criou qualquer legislação que defina o que é terrorismo, como aplicou essa legislação inexistente, mas sem ter competências judiciais. São muitos atropelos juntos. E, com o seu procedimento, nem sequer foi original. Limitou-se a imitar práticas que lhe vêm do outro lado do Atlântico. Práticas de quem abertamente proclama que, sempre que se mostre necessário defender os seus interesses, intervirá militarmente em qualquer parte do mundo. Nem precisavam de o dizer, porque todos sabem que assim procedem fartamente, com a cordial ajuda dos europeus. Só que o que não se percebe é como é que entendem que essas intervenções, com guerras devastadoras contra países que só têm por culpa terem grandes reservas de petróleo ou situarem-se em locais de influência estratégica, não são actos terroristas. Se um terrorista mata um homem – é terrorismo; mas, se se matam milhares e se arrasam cidades, já não é?!

Guerras legítimas são só as que se conduzem em legítima defesa. Mas, mesmo essas, não podem deixar de causar terror a quem as sofre.

António Reis, Vila do Conde

O PR e o futebol

Pareceu-me que terá sido grande o preço que o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa teve de pagar para ir ver o jogo de abertura de Portugal ao Qatar, numa viagem diplomática com autorização da Assembleia da República e tudo.

Na minha opinião, fez um triste papel quando numa pequena palestra não disse bem, nem disse mal dos assuntos controversos e nem se apercebeu de que, sensivelmente ao mesmo tempo, em Beja, a Polícia Judiciária desencadeava uma operação que nos faz suspeitar de que em Portugal também ainda há violação dos direitos humanos.

Gostaria muito mais de ver na bancada o popular professor vestido com a camisola de Portugal, a tirar selfies, que tivesse comprado o seu bilhete para ver o futebol de que tanto gosta, viajasse por sua conta e risco, à semelhança do que nos habituou, por exemplo, com toda a naturalidade, como um cidadão comum, quando vai à praia tomar banho.

José Rebelo, Caparica

O tráfico humano no Alentejo e no Qatar

A polémica em torno da falta de direitos humanos no Qatar tem incendiado as forças políticas em Portugal e no chamado “Ocidente”. Anteontem, tomámos conhecimento do desmantelamento de uma rede de tráfico humano em Cuba, Alentejo. Há cerca de dois anos, foi desmantelada outra rede do mesmo género em Odemira. Como é possível que depois do alarido que houve em Odemira haja nova situação semelhante? Seria de esperar, depois do que se passou em Odemira, que a Autoridade para as Condições de Trabalho estivesse atenta à situação deste género de utilização de trabalhadores imigrantes em todo o país, mas não foi isso que aconteceu. A intervenção das autoridades só se deu depois de inúmeras denúncias desta situação, porquê? Quem tem estado a proteger as autoridades ao permitir esta exploração extrema? Em Portugal ou no Qatar, isto tem um nome: capitalismo, ou não será?

Mário Pires Miguel, Reboleira

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