A literacia em saúde tem nome: Pizarro

É necessário que haja eficiente comunicação em saúde pública, através de mensagens científicas, simplificadas, explicadas por mediadores ou investigadores.

Recentemente, o ministro da Saúde, a propósito dos cansativos outbreaks que servem aos portugueses, mas que em pouco contribuem para a melhoria da sua literacia, afirmou: “Não está prevista a necessidade de medidas de saúde pública de natureza obrigatória.” Manuel Pizarro, quando foi abordado e questionado sobre o aumento da procura dos serviços de urgência nos últimos dias, admitiu que houve “algumas perturbações de funcionamento, que são muito difíceis de evitar nessas circunstâncias”, mas considerou que “os hospitais foram capazes de dar a resposta devida” e que “a situação é hoje, felizmente, bastante mais calma”.

É verdade, está tudo ótimo. Mais de 60 pessoas internadas em macas nos corredores no Hospital do Alto Tâmega. O Centro Hospitalar de Lisboa Norte, no Hospital de Santa Maria, sempre repleto de doentes. Não, não está tudo calmo, senhor ministro. As pessoas, os portugueses, cheios de literacia em saúde, mas sem saúde, recorrem aos hospitais — o fim de linha: os hospitais universitários.

Na verdade, casos não urgentes, sem respostas nas unidades de saúde locais ou centros de saúde, congestionam as urgências, com casos muito urgentes que, de facto, precisam atender, com urgência. É que a literacia dos portugueses, continua sem resposta: o Serviço Nacional de Saúde e o sistema não encontram uma solução. No fundo, não há uma resposta à contratação de profissionais de saúde e pagamento baseado em meritocracia. Os médicos acima de tudo, são codecisores com os doentes. As promessas vão com os programas teóricos de literacia, de saúde ou de doença.

Outro grande problema em Portugal, que derreia os cidadãos pagadores: os cuidados continuados integrados. Que resposta? A Santa Casa de Misericórdia de Lisboa em muito tem contribuído, com a receita do jogo, para a contratação de amigos e familiares de políticos ativos e inativos, desvirtuando a sua missão, criada pela Infanta Leonor de Portugal. Quando os hospitais não respondem, competiria às misericórdias ajudar. Mas, o provedor Edmundo Martinho defende que é preciso “dar uma volta completa ao apoio domiciliário”, que não pode ter equipas sucessivas na casa das pessoas nem apenas “a esfregona e a marmita”. É verdade. Nem esfregona e muito menos a marmita. Talvez desistir, sem cuidados. Nos dias de hoje, os mais velhos e mais novos, vítimas de tromboses, vêem a sua vida colapsar nas urgências, com humanistas, mas jovens médicos, em São Francisco Xavier, sem capacidade de decisão.

Vem então o ministro provocar alguns especialistas de comunicação em saúde — onde se insere a literacia e informação —, ao afirmar, na sua intervenção na sessão do Infarmed, que a (sua) estratégia (de comunicação em saúde?) é confiar na “literacia em saúde” dos portugueses. Qual é esse nível?

Sucede que estes especialistas, que ensinam médicos e discentes de medicina não integram estes fantásticos outbreaks — exceto os senhores da escola de saúde pública (durante anos subvencionada pelo ministério da saúde) e que por isso dá chancela azul a tudo o que o ministério diz. E isso é literacia em saúde?

Vamos lá ver o que faz a tutela pela literacia deste povo. A literacia em saúde é definida pela Organização Mundial de Saúde como “o grau em que os indivíduos têm a capacidade de obter, processar e entender as informações básicas de saúde para utilizarem os serviços e tomarem decisões adequadas de saúde”. Para isto acontecer, é necessário que haja eficiente comunicação em saúde pública, através de mensagens científicas, simplificadas, explicadas por mediadores ou investigadores com competências a abordar os subgrupos da população. É preciso que tenham competências. Eficazes, empoderadoras e mobilizadoras para decisões positivas em saúde e ganhos efetivos em saúde pública.

Sabemos que, para conseguirmos contribuir para o maior conhecimento em saúde das pessoas, devemos capacitar e envolver, influenciar e apoiar as decisões das pessoas em saúde, contribuir e desenvolver competências para a elaboração de planos de informação, literacia e comunicação e de projetos que promovam a literacia em saúde e para a saúde, visando ganhos na saúde das pessoas, individuais e coletivos. Em teoria, fazer promoção de estilos de vida saudáveis e, na prática, empoderar os nossos públicos.

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