Toney, o homem que abateu o Man. City, tinha uma mensagem dura para entregar

O avançado inglês continua em grande nesta temporada e abateu o Manchester City. Com esse “bis”, enviou uma mensagem a Gareth Southgate, que decidiu não o levar ao Mundial. Estará arrependido?

Ivan Toney celebra frente ao Manchester City
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Ivan Toney celebra frente ao Manchester City Reuters/CRAIG BROUGH
Jogadores do City após o golo do Brentford
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Jogadores do City após o golo do Brentford Reuters/CRAIG BROUGH
A festa de Toney no estádio Ettihad
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A festa de Toney no estádio Ettihad Reuters/JASON CAIRNDUFF
Mais uma visão do festejo de Toney
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Mais uma visão do festejo de Toney Reuters/JASON CAIRNDUFF

Neste domingo, o avançado inglês Ivan Toney poderá ter acordado a cantarolar os célebres versos de Dia D, dos portugueses HMB: a “queimar por dentro”, com “vontade de se querer expressar” e com uma “mensagem dura para entregar” — e entregou-a por inteiro, sem ruído.

Com dois golos ao Manchester City, Toney não só permitiu ao Brentford vencer (2-1) em casa dos campeões ingleses como fez desses dois momentos — o segundo já aos 90+8’, com o dramatismo associado — a entrega da tal mensagem dura: algo como “senhor Southgate, talvez se tenha equivocado”.

A esta hora, o seleccionador inglês poderá estar a circular de um lado para o outro, no seu escritório, assolado pela decisão de há dois dias ter deixado Toney fora do Mundial 2022.

Depois de entrar na esfera da selecção britânica, fruto dos 11 golos nesta temporada, Toney fazia parte da lista de pré-convocados. No “dia D”, foi dos excluídos, perdendo a “luta” com Callum Wilson, jogador do Newcastle que vai como alternativa a Harry Kane, mas que, curiosamente, até marcou apenas seis golos nesta temporada.

O caso das apostas

Quando falamos de Ivan Toney, falamos de alguém que tem feito por estar na berlinda. Há poucos dias, soube-se que o jogador está a ser investigado pela Federação inglesa pela alegada participação em apostas desportivas.

Apostar em competições futebolísticas é algo totalmente proibido pela entidade, mesmo que não esteja em causa, neste caso, um problema de match-fixing —​ Toney terá estado, diz a imprensa inglesa, envolvido em apostas fora dos seus jogos.

Mas o falatório em redor de Toney não é de agora, nem tampouco justificado por eventuais comportamentos desviantes extrafutebol.

Aos 26 anos, este é um avançado cuja carreira tem tido contornos incomuns, mesmo que não inéditos. Ainda adolescente, foi chamado para ir prestar provas ao Wolverhampton. Mas um problema de saúde não detalhado deixou-o à porta — e não seria a última vez que veria o sucesso fugir-lhe à frente dos olhos.

Teve uma oportunidade no Newcastle com 20 anos, mas o clube nunca o viu com potencial para render na Liga inglesa, apesar de ter entrado quatro vezes em campo — uma vez mais, o sucesso estava ali mesmo à mão.

Anos depois, Toney analisa o falhanço no Newcastle como a inadaptação à vida longe do “colo” da mãe. “Olhando para trás, quando cheguei ao Newcastle, tudo era muito diferente e era a primeira vez na minha vida em que eu não tinha a minha mãe à minha volta, a fazer tudo por mim. Por isso, sim, foi duro”, justificou, à BBC.

Afinal, era de Premier League

O clube emprestou-o sucessivamente e Toney falhou uma e outra vez. Em rigor, cinco vezes. Mas talvez Toney não devesse culpar-se apenas a si mesmo.

Um olhar ao primeiro plantel do Newcastle onde esteve tem o seguinte ataque: Mitrovic, Papiss Cissé, Rivière, Ayoze Pérez e Doumbia, mais criativos como Gouffran, Townsend ou Thauvin, que lhe vedavam também o acesso a outras posições do ataque.

Ivan Toney teve, então, de dar um passo atrás. Aceitou descer até à terceira divisão e foi no Peterborough que conseguiu encontrar o caminho dos golos.

Foram 22 na primeira temporada, 26 na segunda e, se marcava na League One, seria capaz de marcar no Championship? Sim, também.

No Brentford, foram 33. Se marcava assim no Championship (bateu o recorde de golos), seria capaz de marcar na Premier League? Sim, também.

O jogador britânico, de ascendência jamaicana, marcou 14 golos na temporada passada, marca que provavelmente vai pulverizar em Maio, quando se fizerem as contas finais: neste momento, já leva 11. E provou que era, afinal, um jogador digno de Premier League.

Forte fisicamente e no jogo aéreo, mas com capacidade de jogar em apoios frontais e combinar com os criativos, Toney é o protótipo de avançado britânico mais moderno, que já combina alguns preceitos técnicos com a quase sempre presente dimensão física.

Depois, tem o que qualquer avançado de topo deve ter: instinto matador. Os oito golos marcados na Liga inglesa foram obtidos com um rácio de golos esperados de sete — o que equivale a dizer que é um jogador que marca mais do que “seria suposto” marcar, pelo tipo de oportunidades de que dispõe.

Estará Southgate às voltas no escritório?

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