Miguel Afonso, treinador acusado de assédio, suspenso por 35 meses

Para além do antigo treinador da equipa de futebol feminina do Famalicão, a Federação Portuguesa de Futebol castigou o ex-director desportivo Samuel Costa por ano e meio.

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Principal rosto de um caso de assédio sexual que foi denunciado pelo PÚBLICO, Miguel Afonso, antigo treinador das equipas de futebol femininas do Famalicão e do Rio Ave, foi nesta quinta-feira suspenso pelo Conselho de Disciplina (CD) da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) por um período de 35 meses​.

Visado por alegados comportamentos discriminatórios em função do género e/ou da orientação sexual, num processo que foi instaurado a 30 de Setembro, o treinador foi condenado, por unanimidade, pela prática de cinco infracções disciplinares muito graves, tendo, cumulativamente, de pagar uma multa de 5.100 euros.

“Ao insistir, reiteradamente, em questões e temáticas que colocavam uma tónica mais pessoal e íntima nas conversas e interacções mantidas com as suas jogadoras, mesmo quando as jogadoras demonstravam não se sentir confortáveis ou à-vontade com tais questões, o agente da prática das aludidas infracções evidenciou um tom algo persecutório, limitativo e castrador da liberdade pessoal daquelas jogadoras e, em última análise, da sua dignidade”, pode ler-se no comunicado emitido pelo CD.

Confirmando o teor das mensagens que o PÚBLICO já havia revelado no final do mês de Setembro, o Conselho de Disciplina da FPF concluiu que Miguel Afonso tinha “plena consciência que as comunicações e interacções que mantinha com as jogadoras extravasavam o âmbito da estrita relação profissional”.

Mas o treinador não foi o único visado pelas deliberações do órgão federativo. Samuel Costa, ex-director desportivo do Famalicão, foi também punido pela prática de três infracções disciplinares igualmente qualificadas como muito graves, com 18 meses de suspensão e multa de 3.060 euros.

“Quem profere, perante terceiros, as expressões ‘cheira-me a merdas lesbos’, ‘bicharada’, ‘são mesmo gays’, ‘fufalhada’, ‘é tudo lésbicas’ está a adoptar comportamento discriminatório em função da orientação sexual, socorrendo-se de terminologia depreciativa relativamente à orientação sexual de determinadas pessoas, e assim evidenciando postura de intolerância e até desprezo face a diferentes orientações sexuais, pois tal linguagem não se revela adequada ou sequer tolerável no contexto da prática desportiva”, assinala o CD.

“O treinador principal ofendeu a dignidade das cinco ofendidas, todas com idades inferiores a 21 anos, discriminando-as por (...) não acederem aos seus avanços, todos sabendo que o facto de as ofendidas não cederem às suas investidas poderia prejudicá-las também no plano da sua prática desportiva, como efectivamente sucedeu. O team manager, que também exercia autoridade relativamente às jogadoras, adoptou comportamentos ofensivos e discriminatórios em função da orientação sexual, causando-lhes prejuízos também no plano da prática desportiva”, conclui.

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