O adeus a Gerard Piqué, mais que um futebolista

O central de 35 anos anunciou o final de uma carreira quase toda feita no Barcelona. Fará o seu último jogo pelos “blaugrana” neste sábado em Camp Nou, frente ao Almeria.

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Piqué fez dupla durante muitos anos com Carles Puyol, outro símbolo do Barcelona Reuters/Sergio Perez

Era uma questão de tempo, mas não deixou de ser uma surpresa. Gerard Piqué, defesa-central com uma vida inteira no Barcelona, anunciou o final de carreira com um vídeo publicado nas redes sociais. Já retirado da selecção espanhola desde 2018 e com poucos minutos na equipa orientada pelo seu ex-colega Xavi Hernández, Piqué, de 35 anos, revelou que irá fazer o seu último jogo pelos “blaugrana” neste sábado, em Camp Nou, frente ao Almeria. Será o seu 616.º jogo pela equipa principal do Barça, 14 anos depois de se ter estreado pela mão de Pep Guardiola. Passará do relvado para as bancadas como o quinto jogador com mais jogos, ele que, como explicou no vídeo de despedida, “desde pequeno não queria ser futebolista, queria ser jogador do Barça”.

Em catalão, Piqué dirigiu-se aos adeptos e explicou durante pouco mais de dois minutos porque decidiu “fechar o círculo” como jogador. “Ultimamente, pensei muito nessa criança, no que pensaria esse Gerard se lhe dissessem que iria cumprir todos os seus sonhos. Que chegaria à primeira equipa do Barça, que ganharia todos os títulos possíveis, que seria campeão da Europa e do mundo. Que jogaria ao lado dos melhores da história. Que seria um dos capitães. Que faria amigos para sempre. Foi há 25 anos que entrei no Barça. Fui e voltei. O futebol deu-me tudo, o Barça deu-me tudo, vocês, os ‘culés, deram-me tudo. E agora, que os sonhos dessa criança se cumpriram, quero dizer-vos que chegou o momento de fechar o círculo”, justificou Piqué.

O final de carreira de um dos mais emblemáticos jogadores do Barcelona das últimas duas décadas era expectável no final da época, mas o próprio acabou por antecipar esse desfecho. E uma das razões será a perda de estatuto na equipa catalã. Era um dos capitães, mas raramente tem sido titular no eixo da defesa, atrás de jogadores como Eric García, Andreas Christensen, Jules Koundé ou Ronald Araújo na hierarquia de centrais. Esta época tem apenas 555 minutos de utilização em nove jogos (cinco a titular, quatro como suplente utilizado), mas a sua condição mais frequente é aquecer o banco do Barça.

Com a saída de Piqué, perde-se mais um elo com a gloriosa equipa que Guardiola construiu entre 2008 e 2012, por muitos considerada como a melhor de sempre – da “velha guarda”, restam Busquets e Alba. Chegou a La Masia com 10 anos, saiu para o Manchester United aos 17, e regressou a Camp Nou quatro anos depois para ser um dos esteios defensivos dessa maravilhosa equipa que tinha, entre outros, Xavi, Iniesta e Messi.

Ainda ganhou títulos em Old Trafford (uma Premier League e uma Champions), mas foi no Barcelona que se afirmou como um dos melhores centrais da sua geração, uma rara combinação de poder físico e técnica, e com os títulos que o provam: oito títulos de campeão de Espanha, três Ligas dos Campeões, sete Taças do Rei, seis Supertaças, três Supertaças europeias e três Mundiais de clubes. E não foi tudo no que a títulos diz respeito. Durante mais de uma década, foi um fixo da selecção espanhola (102 internacionalizações, cinco golos), conquistando o Mundial em 2010 e o Europeu em 2012.

Gerard Piqué Bernabéu nasceu em Barcelona a 2 de Fevereiro de 1987, numa família de classe alta da capital da Catalunha. Tinha ligação familiar ao Barcelona através do seu avô, Amador Bernabéu, vice-presidente dos “culés”, que o fez sócio do Barça ainda antes de ele nascer. Durante o vídeo com que Piqué anunciou a despedida, aparecem muitas imagens do pequenito Gerard, ora com uma bola, ora com a camisola “blaugrana”, a antecipar a vida a que parecia destinado.

Mas Piqué, usurpando o lema do Barcelona (“més que un club”), sempre foi mais que um futebolista. Foi um símbolo do clube e também da região que este representa, um fervoroso apoiante da independência da Catalunha – o que lhe valeu muitas críticas, sobretudo em contexto de selecção espanhola. Também ganhou espaço mediático suplementar com a sua relação de 11 anos com a cantora colombiana Shakira, com quem teve dois filhos – foi uma relação pública em todos os momentos até ao momento da turbulenta separação.

Piqué não vai cair no vazio quando fizer os seus últimos minutos como jogador do Barcelona, no próximo sábado. Como empresário, tem interesses no ténis e no futebol, como dono do FC Andorra, que está actualmente na II Liga espanhola. E quem sabe um dia, cumpra o seu sonho final de ser presidente do Barcelona, como em tempos chegou a admitir. No seu vídeo de despedida, deixou uma porta aberta para o regresso e talvez seja essa mesmo. “Serei mais um ‘culé’ a apoiar a equipa. Transmitirei o meu amor pelo Barça aos meus filhos, tal como a minha família fez comigo. Já me conhecem, mais cedo ou mais tarde, irei regressar. Vemo-nos em Camp Nou. Viva o Barça. Sempre.”

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