Novos cursos do IEFP dão resposta às necessidades do sector vitivinícola

O desafio partiu de sector e enquadra-se no programa europeu Reskilling 4 Employment. Formações decorrerão na Sogrape, Aveleda, Esporão, Symington, Fladgate e Adega Mayor.

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A função de tractorista é uma das que enfrenta maior falta de pessoal especializado. Paulo Pimenta

O Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) vai estrear em Évora a primeira de três novas formações vocacionadas para dar resposta às necessidades actuais do sector agrícola, muito práticas, e, para já com enfoque na vinha e no olival. A iniciativa partiu destas fileiras e enquadra-se no programa europeu Reskilling 4 Employment, por cá rebaptizado de PRO_MOV. Há seis empresas parceiras — Sogrape, Aveleda, Esporão, Symington Family Estates, The Fladgate Partnership e Adega Mayor, a última a aderir ao projecto —, que alocaram técnicos para alguns dos módulos teórico-práticos e que têm interesse em integrar os formandos a posteriori nas suas organizações.

Os cursos de Operador Agrícola Especializado, Operador de Máquinas (o vulgo tractorista, mas não só) e Operador de Lagar e Armazém correspondem às “ocupações críticas” identificadas pelas empresas, aquelas onde no sector primário mais se sentem os efeitos da falta de mão-de-obra, explicou ao Terroir o coordenador do Laboratório da Agricultura do PRO_MOV. “E vamos começar pelo Operador Agrícola Especializado, que é a pessoa que faz a poda, que está no campo a pé e trata das plantas – sejam elas vinha, olival, fruta ou arrozal. E é um currículo mais simples”, concretiza André Soares.

Parêntesis para algum contexto. André Campos é também director de estratégia da Sogrape, empresa que tem na verdade a coordenação daquele laboratório. O Reskilling 4 Employment —​ que tem como objectivo requalificar um milhão de pessoas em situação de desemprego ou risco profissional até 2025 — nasceu na associação The European Round Table for Industry, que tem projectos-piloto em Portugal, Espanha e Grécia. A única empresa portuguesa com assento nesta “mesa redonda” europeia era a Sonae (dona do PÚBLICO), que em 2021 ficou responsável por traduzir a iniciativa em Portugal. Nasceu assim a Business Roundtable Portugal, associação que convidou logo 42 empresas parceiras a criar uma rede de laboratórios. Eram sete no início, faltava um para o sector primário e para a agricultura. A Sogrape e a Sovena propuseram a sua criação.

Muito focada na vinha e no olival, a primeira formação do Laboratório da Agricultura do PRO_MOV arranca a 7 de Novembro em Évora, nas instalações da Sogrape (Herdade do Peso), Esporão, Sovena, Symington (Quinta da Fonte Souto) e Adega Mayor na região alentejana. No futuro próximo, o objectivo é “expandir [a iniciativa] ao Douro, Vinhos Verdes e Dão”, aproveitando também os outros parceiros da rede.

A turma-piloto tem 20 vagas e “a formação, remunerada, terá três meses teórico-práticos e três meses de formação em contexto profissional, ou seja, estágio”. Garantido, nas empresas parceiras. “Há uma possibilidade de empregabilidade muito elevada”, sublinha André Campos, que acrescenta uma mais-valia já deste primeiro curso: inclui, sem qualquer custo para os formandos, a formação “Conduzir e Operar com o Tractor em Segurança​” (COTS, um módulo de 50 horas) e a habilitação como Aplicador de Produtos Fitofarmacêuticos, duas certificações muito procuradas no sector.

Os candidatos têm de ser maiores de idade e estar inscritos no IEFP (em qualquer centro de emprego, não precisa de ser no de Évora). E têm de ter gosto pelo trabalho ao ar livre e no interior. “[Com este laboratório] a ideia era tentarmos resolver o tema do reskilling não só nos grandes centros urbanos, mas também no interior”. E, claro, resolver um problema real das empresas do sector primário, que entre outros desafios se debatem com a crescente falta de mão-de-obra. “É um investimento muito grande destas empresas”, admite André Campos.

O responsável está convencido que mais empresas se juntarão à rede criada pelo Laboratório de Agricultura do PRO_MOV e à parceria com o IEFP. “Ao definirmos estas três formações, não só respondemos às necessidades da indústria, como também estamos a desenhar quase uma evolução de carreira. Com currículos que sirvam às empresas, que sejam multisector – que não sejam só para a vinha ou para o olival – e que sejam curtos.” Curtos para que ninguém desista. E multisector porque o Laboratório se chama afinal da Agricultura e porque, manifestamente, há outras fileiras interessadas. “Temos tido contactos dos sectores do arroz, da fruta, do tomate...”

Mesmo os módulos ditos teóricos, “em sala”, serão dados nas quintas e herdades das empresas associadas ao projecto, quer por formadores do IEFP, quer por quadros das empresas. “No caso da Sogrape, será o nosso director nacional de viticultura [João Vasconcelos] a dar um dos módulos. E todas as empresas forneceram pelo menos um quadro sénior para esta primeira formação.”

Neste primeiro curso, os formandos aprenderão a “aplicar fitofármacos, fazer uma poda, tratar um solo e utilizar ferramentas digitais – sejam elas software, sejam sensores ou drones”. Ou não fosse este um programa que visa a reconversão profissional.

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