Fladgate investe 15 milhões em quintas e na ampliação de hotel no Pinhão

A The Fladgate Partnership comprou 100 hectares de vinha no vale do Pinhão e prepara a amplicação do The Vintage House. Nas instalações contíguas ao hotel, que eram da Casa do Douro, nascerão um museu, um restaurante e uma loja.

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Os antigos balões da Casa do Douro ficam ao lado do hotel The Vintage House, que ganhará novas valências e 25 novas suites até 2025. Anna Costa

O grupo que detém a Taylor’s e outras casas de vinho do Porto, o hotel vínico The Yeatman e o empreendimento World of Wine, ambos em Vila Nova de Gaia, já tinha investimentos e quintas no vale do Pinhão, no Douro, mas com os mais recentes investimentos é incontestavelmente o agente económico mais importante naquele pedaço do Cima-Corgo.

A Fladgate vai ampliar o hotel The Vintage House, junto ao rio Douro — até 2025 a unidade ganhará mais 25 suites —, e nos 14 mil metros quadrados que eram da Casa do Douro, mesmo ali ao lado, vai construir um museu, um restaurante, um bar e uma loja, num investimento global de 9 milhões de euros. O prazo é Maio de 2025, mas uma das duas novidades surgirá primeiro, ainda não sendo ainda certo por onde começará a obra.

Foi em 2015 que o grupo recomprou o hotel Vintage House (um antigo armazém da Taylor’s que foi convertido em hotel e inaugurado pela primeira vez em 1998) e o terreno adjacente, 14 mil metros quadrados cujo valor de aquisição a Fladgate não revela. “A obra começará pela demolição dos antigos balões da Casa do Douro. Provavelmente, deixaremos dois para memória [futura]”, revelou ao Terroir o presidente executivo do grupo, Adrian Bridge.

Na Quinta da Roêda, também no Pinhão, a Fladgate quer abrir outro restaurante já em 2023. Anna Costa
Na Roêda, nascem os Portos da Croft e também se faz azeite. Anna Costa
A Quinta da Roêda abriu as portas ao enoturismo em 2015. Anna Costa
Durante a pandemia, a Roêda ganhou novos espaços, melhorando a sua oferta de enoturismo. Anna Costa
Anna Costa
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Na Quinta da Roêda, também no Pinhão, a Fladgate quer abrir outro restaurante já em 2023. Anna Costa

Antes disso, em 2023, o grupo vai ainda abrir um restaurante na Quinta da Roêda, onde nascem os Portos da Croft e que também fica ali no vale do Pinhão, do outro lado da ponte sobre o Douro. “Vamos construir um restaurante onde era a cozinha velha”, partilhou, em primeira mão, Adrian Bridge.

Numa ruína da icónica quinta, que está aberta ao enoturismo desde 2015, nascerá uma nova sala de provas, “será remodelada em Outubro”. Uma novidade a juntar a outras que surgiram durante a pandemia: na Casa do Alambique é hoje contada a história do Brandy Croft e numa outra casa nasceu um segundo núcleo expositivo.

Em 2020 e 2021, revelou ainda ao PÚBLICO o presidente executivo da Fladgate, o grupo comprou três propriedades e uma vinha no total de 100 hectares no vale do Pinhão: as quintas da Vedejosa, Arruda e Bragão e a vinha do Bucheiro (10 hectares). Um investimento de 6 milhões de euros. A Fladgate já ali tinha uma área considerável de vinha: são suas as quintas de Terra Feita, Junco, Cruzeiro, Santo António, Casa Nova e Eira Velha. Agora é dona de grande parte do vale, elevando a área total de vinha própria para 700 hectares (cerca de 220 no Pinhão).

Vinha própria, para segurar produção

“A nossa política é ter cerca de 25, 30 por cento de vinha própria”, explica Adrian Bridge. Com as novas propriedades, o grupo passa a ter 13 quintas. E ainda compra uva a 74 lavradores. Mas, de ano para ano, este número tem vindo a diminuir, há negócios que entram em falência e gente que abandona a actividade.

“Os viticultores do Douro estão a falir”, contextualiza um irritado David Guimaraens. O director de enologia do grupo é uma das vozes críticas das actuais regras de certificação na região duriense e de um regime que tem dois preços e duas medidas para as mesmas uvas, pagas a 60, 70 cêntimos para DOC Douro e a 1,50 para o generoso ("Nunca na vida se vindima a mesma vinha duas vezes, a primeira para vinho do Porto e a segunda para DOC Douro”, ironiza). Este ano, perdeu mais um parceiro e fornecedor de uvas: “vendeu as vinhas por não ter viabilidade económica”. Defende, por essas e por outras, que se actualizem “as regras do jogo": “Toda a gente tem de optar, parcela a parcela. Ou faz Porto e recebe o benefício, e o resto é uva de mesa, ou faz DOC Douro e aí não recebe benefício”.

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David Guimaraens, director de enologia da Fladgate Partnership. Anna Costa

Para aumentar a área de vinha própria, a escolha óbvia era o Pinhão, onde a Fladgate faz muito vinho LBV (Late Bottled Vintage) e Porto Ruby, categorias que vendeu bem durante a pandemia. “Conhecemos muito bem o vale do Pinhão. E, num ano extremo como este, o rio Pinhão está a ter um comportamento fenomenal. Este é o ano do rio Pinhão. Como tudo na vida, a virtude está no centro. E o rio Pinhão está no centro”, explica o enólogo.

Estão ali “duas das quintas da Fonseca que são a base dos vintages daquela casa desde o início do século XIX”, Cruzeiro e Santo António, e “Terra Feita entra nos vintages da Taylor's há muitas, muitas décadas”, sublinha.

Durante a pandemia, a Fladgate aproveitou para modernizar a adega da Quinta de Vargellas, no Douro Superior — mecanizou os lagares de granito e aumentou o número de camas para alojar a roga durante as vindimas — e continuou a investir em práticas sustentáveis. Como noticiou o PÚBLICO este domingo, Dia Nacional da Sustentabilidade, o grupo vai investir 1 milhão a 1,5 milhões de euros para ser auto-suficiente na produção de electricidade. E, ainda este ano, lançará a nova garrafa da Croft, 25 por cento mais leve.

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