Cartas ao director

Itália, um processo gasto

Tal como aconteceu em 2013 em que o antipartido 5 estrelas-M5S teve 26% dos votos, a Itália tenta agora com a extrema-direita e idêntica percentagem outra solução de rejeição da política neoliberal praticada pelos partidos tradicionais.

É a confirmação de que as propostas desses partidos não satisfazem o eleitorado, e que o jogo pela ascensão interna e as guerras parlamentares se sobrepuseram ao contacto com o eleitorado, afastando as forças políticas tradicionais da realidade.

Uma Europa em zig zag, fortemente condicionada e penalizada pela política externa americana, capaz de enunciar mas logo hipotecar princípios e valores fundamentais, reflecte nas urnas o desespero dum naufrago à deriva; na América latina, pelo contrário, Bolívia, Chile, Colômbia, Peru, e em breve também o Brasil procuram finalmente encontrar o seu caminho, sem a subjugação ao “amigo” americano.

José Cavalheiro, Matosinhos

Reconhecer e valorizar

Diz o povo e com muita razão que “a educação começa em casa”. Porém, sejamos sensatos, compete à escola assumir o papel principal no processo educativo em concordância com os valores democráticos. Contexto onde são notórias as dificuldades em substituir docentes (…) dando razão àqueles que têm vindo a advogar para a necessidade de uma estratégia diferente para o ensino do futuro. E isso caracteriza a conivência e a irresponsabilidade dos decisores que menosprezaram esta realidade. Agora, visto que a docência e a degradação da qualidade do ensino estão ameaçadas, é urgente uma reforma estrutural tendo como base a formação e a contratação de professores. Porque, mais do que nunca, é preciso aumentar a atractividade pela profissão. Importa, por isso, reconhecer e valorizar a iniciativa, o empenho e o desempenho, como nas demais profissões da sociedade, uma vez que o nosso país não pode continuar a ser pobre para uns e rico para outros. Todavia, é bom recordar para os mais incautos, o sucesso escolar passa também por respeitar o ritmo de aprendizagem dos alunos, dando prioridade às áreas fortes do seu conhecimento e por estabelecer a interdisciplinaridade curricular.

Manuel Vargas, Aljustrel

Um tiro no pé

Luís Montenegro, ao pretender “forçar” o grupo parlamentar a votar favoravelmente a eleição do candidato do Chega a vice-presidente da Assembleia da República e assim “normaliza” este partido, terá cometido um enorme erro por duas ordens de razão: vem denunciar que sem o apoio daquele partido dificilmente chegará a primeiro-ministro e por outro lado verificou que pelo menos um terço da sua bancada não concorda com essa posição e como tal votou contra. Bastou que a votação fosse secreta, o que não é de estranhar pois a maior parte dos deputados da bancada social-democrata são da linha de Rui Rio. Não sei se terá apostado em seguir a linha que se tem expandido na Europa com coligações de direita e extrema-direita tal como está a acontecer na Suécia e agora em Itália. Mas por cá já se viu que não resulta e que o PSD já pagou bem caro com o acordo que fez nos Açores.

Terá Montenegro dado um enorme tiro no pé em relação ao seu futuro político?

António Barbosa, Porto

O Luís

A crónica de Ana Sá Lopes - “Chega agradece a ‘normalização’ e anuncia que Montenegro prepara o futuro” - recordou-me o tratamento íntimo com que André Ventura abordou o presidente do PSD, há dias no Parlamento. Nesse momento para discordar dele e, mesmo assim, o Luís saiu-lhe meigo e até o fácies se lhe adoçou. E, com o mesmo ar de “menino bom”, explicou que era assim que se tratavam, como bons amigos que eram. E, digo eu, como presidentes de dois partidos que bons amigos também o são. O acordo dos Açores, com Rio na presidência, já era premonitório, mas agora a orientação clara dada aos deputados do partido para votarem favoravelmente a ida do Chega para a vice-presidência da Assembleia da República não deixa dúvidas do que se prepara no PSD. E o Chega agradece ao... Luís. Bom, houve eleições na Itália e também lá vai haver “normalização” com uma Giorgia agora mais suave, assim como na Suécia a “normalização” vai em marcha. A Hungria já “normalizou”, embora agora, como vai faltar o “dinheirito”, queira recuar (?). De “normalização em normalização”, há quem pense que a normalização “chegará"? Cuidado Luís - permita-me o abuso - e... olhe que não, olhe que não....

Fernando Cardoso Rodrigues, Porto

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