Cartas ao director

Sonhos

Parece evidente que o “sonho americano” não é para todos nós sonharmos. É um sonho apenas ao alcance dos grandes (os grandes da política, da finança, do desporto, do espectáculo, etc.) que nos é servido goela abaixo pelos meios de comunicação de massas. A forma como nos é impingida esta narrativa mostra que os diferentes canais noticiosos são, afinal, desconcertantemente semelhantes. Fica a sensação de que há uma pretensão mais ou menos velada de nos transformar a todos numa espécie de zombies sociais. Zombies que andam de um lado para o outro à procura de um pedaço de sonho americano para devorarem num ápice e que, logo após o terem consumido, voltam a arrastar o seu desejo sem que se vislumbre outra vontade que não seja a de saciar esta fome inumana. É a discreta transformação dos cidadãos em consumidores.

Talvez vá sendo tempo de compreendermos que o “mundo ocidental” está a cantar como um cisne e que as gerações futuras irão habitar um mundo com equilíbrios geopolíticos muito diferentes dos actuais onde, temo bem, o discurso dos Direitos Humanos não terá lugar, nem sequer como ornamento. É o “sonho chinês”?

Rui Silvares, Cova da Piedade

Imigração

Apesar de Portugal necessitar de uma regeneração populacional consistente por via da imigração, a ausência de uma verdadeira política nesta matéria, que proporcione uma integração real na comunidade nacional, irá levantar graves problemas a médio e longo prazo, tal como se está a verificar noutros países da Europa. O país deveria promover uma imigração legal e controlada, em função das necessidades do mercado laboral, dando alguma prioridade aos candidatos dos países lusófonos, e combater eficazmente a imigração ilegal, fonte de grande exploração laboral. O que se está a passar nas estufas da Costa Vicentina é um bom exemplo, pela negativa, de tudo aquilo que não deve ser feito, graças à inacção dos sindicatos e do governo.

A inexistência de uma legislação adequada para combater eficazmente a imigração ilegal torna o país apetecível para as redes clandestinas de tráfico de mão-de-obra. Alguns políticos julgam que a integração se efectua naturalmente, à imagem do conceito económico de “mão invisível do mercado”. Não é assim! São necessárias políticas concertadas, meios financeiros e muita determinação para que o acolhimento e a integração tenham sucesso. Se não houver mudança de rumo, a extrema-direita não deixará de explorar a fundo a “questão da imigração” (mais uma “bandeira”, entregue de bandeja pelo governo), tal como explora a situação de não-integração de muitas comunidades de portugueses de etnia cigana.

Pedro C. Pereira, Ferragudo

Os parcos salários dos professores

A directora adjunta do PÚBLICO, no início do editorial de domingo intitulado “Para além dos salários”, escreveu que o Presidente francês Emmanuel Macron, numa carta dirigida aos professores franceses, prometeu uma “revalorização geral das remunerações” a partir de 2023. Segundo Macron, ninguém entrará na carreira auferindo um salário inferior a 2000 euros líquidos. Se para o nível de vida na França ainda será pouquíssimo este prometido salário, visto que os preços dos produtos não vão cessar de aumentar – como acontece no nosso país -, este salário de 2000 euros líquidos representa quase o montante que um professor português aufere no último escalão de vencimentos (10.º) – à volta de 1900 euros e tal (atente-se, pois, no desnível e na discrepância dos vencimentos). Se nos lembrarmos de que a nossa entrada na CEE – que já foi há uns bons anos - tinha como escopo aproximarmo-nos do nível de vida dos países mais evoluídos, verificamos que esse desígnio não está a ser cumprido – longe disso - e outros países que mais tarde entraram na CEE estão a ultrapassar-nos no índice de desenvolvimento e produtividade. Continuamos, portanto, sempre a marcar passo.

António Cândido Miguéis, Vila Real

A enganadora consulta da Rússia

A realização de uma consulta anunciada pela Rússia às populações das regiões ocupadas pelas tropas russas, tais como Lugansk, Donetsk, Kherson e Zaporijjia para saber se eles querem ser russos, reproduz o comportamento de Adolfo Hitler pelo que, as semelhanças das atitudes de Putin e do chefe nazi são cada vez maiores. Basta recordar que Hitler invadiu a Áustria e, usando a táctica do “referendo”, consolidou a anexação do território Austríaco. É evidente que todas as consultas efectuadas em condições semelhantes às existentes nos territórios ocupados pelos russos não podem ser levadas a sério e não poderão ter qualquer validade futura, uma vez que não foi respeitado o direito internacional.

Manuel Morato Gomes, Senhora da Hora

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