Guimarães também é berço de um Vitória secular

Antigo goleador Paulinho Cascavel reservou viagem ao passado para se juntar à família e renovar orgulho de pertencer à história de um clube com carácter marcante, que procura reaproximar-se do topo em Portugal.

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LUSA/JOSE COELHO

Fundado a 22 de Setembro de 1922, o Vitória Sport Clube e a cidade de Guimarães estão em festa com a passagem do primeiro século de história do emblema vimaranense. Para assinalar a data, o clube antecipou a gala que tradicionalmente organiza em Novembro/Dezembro e que, desta feita, contará com a presença já confirmada de inúmeras figuras que ajudaram a engrandecer um dos emblemas mais importantes de Portugal, não só no futebol, mas nas diferentes modalidades.

Assumidamente um clube da cidade, onde ser vimaranense e vitoriano é sinónimo, as manifestações e iniciativas pensadas e amadurecidas durante o último ano prometem dominar toda uma semana marcada por tertúlias, exposições de arte (foi já apresentada uma serigrafia alusiva ao centenário no Centro Internacional das Artes José Guimarães), cujo pontapé-de-saída foi dado junto dos mais jovens, nas escolas, onde a presença da equipa se fez sentir de uma forma muito vincada.

Isto, para além de inúmeras demonstrações de paixão clubística, como o desafio lançado a todos os adeptos e simpatizantes para envergarem a camisola do Vitória durante este dia, seja em que circunstâncias for: na rua ou no trabalho. Provas de um amor que não dispensa os “parabéns a você”, cantados à meia-noite pelos vitorianos convocados para uma cerimónia no centro da cidade.

A própria equipa de futebol, aproveitando o interregno do campeonato, agendou uma série de jogos com clubes dos diferentes escalões do distrito, denominado “Conquistadores On Tour”, que teve já um encontro com o Joane.
Festejar e reflectir

Em ano de regresso à Europa, que até teve um arranque promissor (acabou eliminado pelo Hajduk Split, na Liga Conferência), o Vitória chega aos 100 anos a tentar superar uma crise financeira que já teve reflexos na construção do projecto da nova direcção. E à procura de uma presença mais regular no top5 da hierarquia do campeonato.

Nas últimas cinco temporadas, o melhor que os vimaranenses conseguiram foi um quinto lugar, em 2018-19, mas a distantes 15 pontos do quarto, o eterno rival Sp. Braga (somaram também um sexto, dois sétimos e um nono postos). É preciso recuar a 2016-17 para encontrar um quarto posto do Vitória na Liga, num século XXI em que marcaram presença por seis vezes no top5, com a terceira posição de 2007-08 (à frente do Benfica) como melhor resultado.

Nesse sentido, este momento de celebração é também uma oportunidade para reflectir e debater a actualidade, aproveitando a presença de gente que contribuiu activamente para um trajecto que deixa orgulhosos todos os vitorianos.

Entre os muitos convidados, desde treinadores a jogadores que marcaram determinados momentos da história do clube, estão confirmados nomes importantes, como o do melhor goleador da história do Vitória: Tito, de 76 anos, com 91 golos em 210 jogos, famoso pelos “chapéus” que desesperavam os guarda-redes. Mas também N’Dinga, de 56 anos, o futebolista com mais partidas disputadas (335) e muitos outros poderão recordar os momentos vividos no D. Afonso Henriques.

Entre eles, um caso raro de identificação com a cidade. Com 60 golos em duas épocas, tantos quantos os marcados por Edmur (melhor média) em três anos, Paulinho Cascavel marcou férias para poder estar presente no centenário. Campeão pelo Fluminense, o avançado brasileiro chegou a Portugal para representar o FC Porto em 1984-85 — também foi campeão só com um jogo —, antes de rumar a Guimarães, saltando para o Sporting depois de dois anos inesquecíveis no “berço”. Até hoje, a ligação afectiva mais marcante da carreira do vice-artilheiro do campeonato em 1985-86 e goleador máximo no ano seguinte, em que superou Fernando Gomes.

“Há três anos fui homenageado pelo Vitória. Agora vim expressamente para o centenário. É um orgulho imenso fazer parte desta família e desta cidade, onde continuo a ser recebido como se tivesse nascido aqui”, destaca o brasileiro que Pimenta Machado indicou ao FC Porto e que no ano seguinte levou para o Vitória.

“Nessa noite regressava ao Brasil e o dr. Pimenta Machado ligou-me. O resto é história. Foram dois anos na carreira e 37 de uma vida em que fiz amizades muito fortes. O meu filho nasceu em Guimarães e a minha filha chama-se Vitória. Esta relação, quase tão longa como o meu casamento, diz tudo e explica muito do que é este clube e o carácter das pessoas que o amam... onde encontro crianças de cinco anos a quem os pais e avós passaram a mística e que sem nunca me terem visto jogar, me vêem como um ídolo”.

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