João Almeida arrisca, mas não petisca

O ciclista português esteve ao ataque na Volta a Espanha e chegou a estar numa posição prometedora para uma eventual reentrada na luta pelo pódio, mas acabou por não ganhar tempo à maior parte dos rivais - a excepção foi Carlos Rodríguez, que caiu, e já tem Almeida a apenas 25 segundos na luta pelo top 5.

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João Almeida em acção pela Emirates EPA/JAVIER LIZON

João Almeida colocou-se nesta quinta-feira ao ataque na etapa 18 da Volta a Espanha, mas o esforço acabou por não dar grandes frutos ao português. O ciclista da Emirates chegou a estar com uma vantagem considerável para os rivais, mas os interesses contrários de várias equipas acabaram por retirar ao português aquilo que chegou a conquistar durante o dia.

No fim de contas, Almeida chegou em décimo lugar, no grupo dos favoritos, na etapa de montanha ganha por Remco Evenepoel, que cimentou a liderança da geral – bateu Enric Mas e Robert Gesink na meta, com o neerlandês a ter um final inglório a poucos metros do fim, depois de ter estado em fuga.

Ainda assim, nem tudo foi em vão. Almeida confirmou estar em boa forma (bem quereria o português que a prova durasse mais uma semana), já que as energias gastas durante a etapa – rolou muito tempo sozinho – não o impediram de acompanhar os rivais depois de ser alcançado pelo grupo principal.

Dessa forma, Almeida pôde ganhar algum tempo a Carlos Rodríguez, que caiu nesta etapa, perdeu o quarto lugar para Miguel Ángel López e ficou com o português “à perna” na luta pelo top 5 (Almeida está a 25 segundos, sendo que Rodríguez, com feridas no corpo todo, poderá sofrer nos próximos dias).

No final da etapa, o português descreveu o plano: “Quis tentar de longe, para colocar pressão nas equipas que querem segurar os seus lugares. O Soler deu-me uma boa ajuda, mas teve de guardar alguma energia para ajudar o Ayuso, que neste momento é a nossa prioridade, porque queremos que mantenha o pódio”.

Como tudo aconteceu

Já com uma fuga grande na frente (e sairia desse lote o vencedor da etapa), Brandon McNulty “rebocou” João Almeida para uma posição intermédia, ganhando mais de um minuto e meio ao pelotão – mantendo essa diferença no fim do dia, o português reentraria na luta pelo pódio.

McNulty acabou por não ter pernas para ajudar o português, que rolou vários quilómetros sozinho, até um dos Emirates em fuga, Ivo Oliveira, parar no final de uma das subidas, para esperar pelo seu líder.

O lançador de sprinters e medalhado na vertente de pista ainda ajudou Almeida durante alguns quilómetros planos, mas o trabalho da Astana no pelotão (pouco interessados em deixar o português roubar o top 5 a Miguel Ángel López) foi reduzindo a diferença para o ciclista das Caldas da Rainha.

Quem se mantinha na frente era Marc Soler, que poderia ter uma de três missões: ajudar Almeida neste ataque à distância, ajudar mais tarde Ayuso na última escalada do dia ou fazer, como já tem feito, uma corrida para si próprio, lutando pela vitória na etapa. A decisão do espanhol e da Emirates foi a primeira opção.

Soler esperou por Almeida, deu-lhe dois bidons de água e ainda “puxou” o português durante largos quilómetros: primeiro a subir, depois a descer.

Esse trabalho de Soler permitiu a Almeida chegar a um grupo grande que tinha os “restos” dos fugitivos – na frente já só tinha ficado um “plantel” de luxo com Carapaz, Pinot, Carthy, Higuita, Gesbert e Gesink.

O problema para Almeida foi que Nibali, que estava em fuga, se prestou a recuar e ir para a cabeça do grupo de Evenepoel, Mas e López. A descer, como sempre faz, o italiano reduziu rapidamente a distância para o grupo de Almeida e acabou com o sonho do português nesta etapa – mas não na totalidade.

Os dois grupos acabaram por unir-se e houve, depois, quilómetros de muita animação até à meta. Atacaram Evenepoel, Mas, López, Urán, O’Connor e até o próprio Almeida. As forças eram bastante equilibradas e os dois primeiros da geral, Evenepoel e Mas, tiveram um pouco mais para dar no último quilómetro, com especial força do belga.

Para esta sexta-feira há uma etapa com potencial para uma fuga. Há montanha, mas, sem chegada em alto – é um final com descida e depois terreno plano –, poderá ser perfeita para uma duelo entre um lote de fugitivos. Em todo o caso, a dois dias do final da Vuelta, não é de excluir uma táctica criativa de alguma das equipas que luta por lugares melhores na classificação geral.

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