Carlsen cita Mourinho para justificar abandono da Sinquefield Cup

Norueguês deixou no ar a ideia de que algo de errado terá acontecido durante a partida com Hans Niemann.

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Magnus Carlsen EPA/YOSHUA ARIAS

Magnus Carlsen provocou sensação na Sinquefield Cup, ao abandonar a prova, depois de ter perdido na 3.ª ronda frente ao jovem norte-americano Hans Niemann, de 19 anos, o menos cotado dos 10 participantes, mas que já tinha vencido Shakhtiar Mamediarov e liderava, isolado, o torneio de xadrez.

Este jovem, desconhecido há ano e meio, altura em que não integrava os 1000 primeiros jogadores do ranking mundial, teve uma ascensão meteórica tendo ultrapassado, com a vitória sobre Carlsen, a barreira dos 2700 pontos e atingido a 39.ª posição da hierarquia. Mas o seu passado está assombrado por acusações de fraudes, que lhe valeram mesmo uma suspensão num dos sites mais utilizados para jogar xadrez online. No entanto, em jogos presenciais, como era o caso, nunca nenhuma acusação lhe tinha sido imputada.

O campeão mundial não apresentou nenhuma justificação concreta para se retirar da prova, publicando apenas na rede social Twitter um “post” em que refere que teve de abandonar a competição, apesar de apreciar imenso os torneios organizados pelo clube de xadrez de Saint Louis, Estados Unidos, e que esperava poder vir a desfrutar da participação futura em provas organizadas por este clube.

Não deixando nenhuma acusação explícita, Carlsen, no entanto, adicionou um vídeo de José Mourinho em que este, ainda treinador do Chelsea, em conferência de imprensa, profere a frase “ If I speak I am in big trouble” ("Se eu falar terei grandes problemas"), deixando no ar a ideia de que algo de errado teria acontecido durante a sua partida com o jovem norte-americano, mas que não possuiria provas concretas para fundamentar essa acusação.

A polémica está, pois, instalada, com Hikaru Nakamura a defender a posição assumida por Carlsen, mas muitas vozes, como a de Levon Aronian e comentadores online como o alemão Jan Gustafsson, o inglês Lawrence Trent e Rustam Kazimdzhanov, do Uzbequistão, que seguiram toda a partida durante cerca de cinco horas, a não verem motivo para qualquer acusação de fraude, até porque os jogadores são alvo de revista antes de entrarem na sala de jogo e esta está equipada com sistemas que impedem ligações por wi-fi a computadores ou telemóveis.

Assim, os amantes da modalidade dividem-se entre aqueles que acusam o norte-americano de ter jogado muito acima do seu nível habitual, e aqueles que defendem que Niemann é apenas um jovem talentoso que jogou uma excelente partida, aproveitando um dia menos bom do número um mundial.

Com esta decisão de Carlsen, Hans Niemann perdeu a liderança da prova, pois os resultados obtidos diante do norueguês não serão contabilizados, uma vez que não chegou a disputar 50% dos jogos previstos, aproveitando a oportunidade o seu compatriota Wesley So para assumir a primeira posição, depois de ter vencido na terceira ronda outro dos norte-americanos presentes, Fabiano Caruana.

Na quarta jornada, em que Carlsen não compareceu perante Mamediarov, aparentemente sem ter avisado a organização do evento da sua decisão, ocorreu apenas um resultado decisivo, com Caruana a vencer o francês Lagrave, redimindo-se da derrota do dia anterior.

Niemann voltou a dar boa conta de si, perdendo mesmo a oportunidade de voltar a vencer, perante o franco-iraniano Alireza Firouzja, também de 19 anos, numa partida de grande complexidade.

Com quatro jornadas realizadas, So soma 2,5 pontos, com quatro jogos, seguindo-se o russo Nepomniachtchi, que beneficia do abandono de Carlsen, com quem tinha perdido na ronda inaugural, com dois pontos, mas menos um jogo, tal como Niemann.

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