Ocupações pelo fim ao fóssil

No primeiro semestre de 2022/2023 ocuparemos portas, corredores e anfiteatros, questionando e discutindo em debates e formações de activismo o futuro que não nos preparam para. Aprendemos com os movimentos de Maio de 1968 em França, primavera secundarista no Brasil e diferentes experiências que já aconteceram nos últimos meses por toda a Europa.

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Greve climática Nuno Ferreira Santos

À nossa volta vemos fogo. Nas florestas deste país e noutros. Nas casas de tanta gente, locais de trabalho, transportes. À nossa volta vemos fogo no chão, no ar irrespirável, no mar sem vida.

Conferência após conferência climática, não vimos, contudo, esse fogo reflectido nos olhos de quem julga ter poder. Olhámos para as faces dos políticos que vendem tranquilamente o nosso futuro ao maior comprador. Olhámos com atenção, pois são os nossos olhos que vêem o fogo.

Olhámos como a reacção aos nossos protestos internacionais com milhões de manifestantes foi de desresponsabilização e repetida negação da gravidade da crise que enfrentamos. Em tempos decisivos para tomar acção, escolhem-se barões do petróleo como António Costa e Silva para ministro da Economia e do Mar. Investe-se em combustíveis fósseis quando, seguindo os únicos planos realistas, temos de atingir neutralidade carbónica até 2030. Olhámos com raiva, enquanto todos os meios legais de preservar um futuro se esgotavam e mudámos conscientemente de táctica.

Recusamos cair em submissão num futuro que, seguido este curso de aumento de temperaturas, é apocalíptico. As alterações climáticas não são uma realidade distante no tempo e no espaço e esta geração, mais que nenhuma, vai gritar do alto dos seus pulmões, exigindo a vida a que tem direito, exigindo a possibilidade de uma vida. Vamos ocupar as nossas faculdades e secundários até ganhar — impedir o normal funcionamento dos nossos espaços, com os nossos corpos, até se garantir o fim aos fósseis até 2030.

No que toca às ciências, e seguindo o nosso comunicado, sabemos que “os cientistas estão fartos de serem ignorados e verem a sua mensagem manipulada, sempre para proteger os interesses do sistema”. Em medicina interrogamos: “Somos a resposta aos corpos queimados, mas onde ficamos quando a nossa casa está a arder?”. Em psicologia recusamos fecharmo-nos em consultórios: “Quando prevenir à escala do indivíduo é impossível, agir à escala da sociedade é a única resposta adequada.”

Para as ciências sociais e humanas vemos as faculdades e secundários que de nós dependem como “espaços políticos por excelência”, enquanto em direito interrogamos “porque é que vemos injustiças à nossa volta e nada fazemos?”. Para as engenharias sabemos que “não é esse o mundo que sonhamos construir quando entramos nesta faculdade”, porque desde o secundário sabemos da nossa vontade perante o mundo que queremos construir.

Somos milhares, de todo o país e todo o mundo, mas com uma só voz ergue-se o clamor da vida que exigimos defender: Fim ao fóssil!

No primeiro semestre de 2022/2023 ocuparemos portas, corredores e anfiteatros, questionando e discutindo em debates e formações de activismo o futuro que não nos preparam para. Aprendemos com os movimentos de Maio de 1968 em França, primavera secundarista no Brasil e diferentes experiências que já aconteceram nos últimos meses por toda a Europa. Temos muitas ideias e muitos meios de as tornar realidade, mas as ocupas serão construídas por e para cada instituição, garantindo uma força democrática em todo o processo.

Os nossos olhos vêem fogo. As ruas estão em chamas ateadas por quem julga ter poder. A nossa vontade arde por verdadeira liberdade.

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