Cartas ao director

Genialidade ou cegueira?

Os textos de Boaventura de Sousa Santos surpreendem, muitas vezes, pela genialidade ou cegueira que evidenciam. O artigo de opinião publicado no jornal PÚBLICO de 3 do corrente (que só agora li, por contingências estivais) deixou-me perplexa. Muitos são os caracteres que ocupam uma página do jornal onde discorre sobre a guerra infligida pela Federação Russa à Ucrânia e não encontro uma única palavra de desaprovação ou repúdio em relação à potência beligerante que lhe deu causa.

Fala, entre outras coisas, em “guerra fantasma”, como se o que se está a passar na Ucrânia não se visse nem produzisse efeitos devastadores e mortíferos. Alude à “transição energética” e ao “perpetuar a guerra”, como se a opção e alternativa dependessem de uma vontade legitimada, que não envolvesse a submissão à vontade tirana de um ditador para quem os valores da democracia, da liberdade e da vida não contam. Aborda a “segurança cidadã “ como se esta dependesse do depor das armas e da claudicação. E não valoriza a dignidade da resposta à ferocidade dos ataques infligidos a povos soberanos. E, finalmente, a cereja no topo do bolo: refere o “governo de mulheres”, para atacar o desempenho e os “instintos belicistas” da presidente da União Europeia e das primeiras-ministras da Finlândia e da Suécia.

Só nos resta dizer, senhor professor, que estas Mulheres nos enchem de orgulho e fazem acreditar que, com o seu desempenho e exemplo, contribuem para um Mundo melhor onde a igualdade, a dignidade e a vida sejam, de facto, respeitadas. Em Portugal, na Europa e no Mundo, a Humanidade precisa de Mulheres (e Homens) de corpo inteiro, que não se limitem a proclamar direitos – já consagrados, aliás –, mas que exijam o seu cumprimento prático e efectivo. (…) Desta vez, a cegueira terá ofuscado a genialidade.

Guilhermina Marreiros, Lisboa

Reparações sem condições

De acordo com o Instituto Nacional de Estatística, em 2001 havia 1773 judeus religiosos em Portugal, entre esses o meu pai, nascido no Egipto e expulso por ser judeu. A lei dos sefarditas é lindíssima e representa uma oportunidade única para reparações. O trabalho do economista William Darity apresenta um modelo para reparações ARC – “acknowledgement, redress, closure”. O convite de Portugal ao retorno dos sefarditas é o redress e só quando esse processo acabar podemos ter closure. No entanto, essa fase final parece cada vez mais distante. Manuel Carvalho diz que “advogados (…) a vender passaportes a quem os pudesse pagar” – se há uma razão óbvia para isto é o sistema capitalista em que vivemos, que desencadeou a mercantilização de qualquer serviço ou produto. Milhares de pessoas utilizam advogados para tratar de processos de imigração regularmente e legitimamente, isso não se trata de “vender passaportes”. A insinuação óbvia é que os judeus gostam tanto de dinheiro que estão dispostos a vender passaportes a outros judeus para o seu próprio ganho financeiro. Ora, sabemos que isto são estereótipos anti-semíticos e, infelizmente, muita da contextualização deste assunto tem sido feita à volta dessa narrativa. O convite foi feito, os sefarditas vieram, criaram comunidade, arranjaram sinagogas, abriram centros judaicos e museus, tudo isto é fantástico. No entanto, há vários que apontam o dedo como se isto fossem demonstrações de alguma lacuna moral. Reparações são para todos, e devem ser feitas sem condições, como na lei portuguesa tão bem foi escrito. A lei dos sefarditas é uma experiencia humanista, que se poderia aplicar a tantos outros grupos. Numa altura em que o número de ataques anti-semíticos atinge níveis recorde internacionalmente, Portugal pode tornar-se um refúgio para todos os sefarditas que dele precisam – espero que esse seja o caminho que escolhamos. Closure.

Miguel Tillo, Nova Iorque

Atrasos nos CTT

O artigo do PÚBLICO “Imprensa regional espera e desespera pelos atrasos dos Correios”, de 15 de Agosto, obriga-me a reagir, pois mesmo em S. Pedro do Estoril a imprensa regional de quinta-feira, que recebo de Leiria, me é distribuída na semana seguinte e até a Visão me chega às mãos com atraso de dias. Reclamei inúmeras vezes durante dois anos, sem qualquer resultado. A solução parece ser que as falhas passassem a ser financeiramente compensadas pelos Correios às empresas que viram o seu produto ser “maltratado”. Só assim os Correios passariam a pagar melhor aos carteiros e mais facilmente recrutariam.

Ricardo Charters-d'Azevedo, S. Pedro do Estoril

Sugerir correcção
Ler 1 comentários