Cartas ao director

Fernando Chalana e Almeida Bruno

O jornal PÚBLICO é sério e feito muito profissionalmente. No número do dia 11 do corrente continuava a dar foros de 1.ª página, com foto mesmo, de Chalana, futebolista, saudosamente recordado por benfiquistas e por grande parte dos portugueses a quem proporcionou, aliás, muitos momentos de euforia e descompressão. Na pág. 13, ocupando um terço dela, era noticiado, no mesmo dia, em texto da jornalista Liliana Borges, a morte do general João de Almeida Bruno, spinolista e oficial de Abril. Compreensivelmente, com uma biografia omissa de outras funções importantes desempenhadas ao longo da sua carreira militar.

Reconheço que os critérios jornalísticos não são exactamente os do historiador ou, sequer, do analista político. Mas o impacto dum e doutro na construção da nossa História recente, designadamente, do fim do Império com a descolonização e da normalização democrática em Portugal, não são confrontáveis.

Chalana ficará na memória dos aficionados com imagens de jogadas incríveis que se esfumarão no tempo; Almeida Bruno serviu corajosa e brilhantemente na nossa guerra de África e defendeu os interesses da sua Pátria, Portugal, em múltiplas funções no pós-25 de Abril.

Como anota o insuspeito coronel Matos Gomes (então seu capitão, num assalto das nossas tropas a base do PAIGC, no Senegal), “a democracia e a nova posição de Portugal no mundo, após o 25 de Abril, devem-lhe muito (…)”. Cuja acção, ainda assim, certamente é desconhecida da generalidade dos portugueses.

À tradicional seriedade jornalística do PÚBLICO também incumbe, a meu ver, um certo doseamento formativo dos seus conteúdos, sem excessivas concessões ao efémero.

Joaquim Heleno, Queluz

Uma questão de valores

Não sou psicóloga, psicoterapeuta nem professora catedrática. Sou mãe de três filhos adultos, avó de seis netos. É nessa minha qualidade que considero surpreendente, vindo de alguém com todas essas qualificações, que a professora Margarida Gaspar de Matos, na entrevista publicada a 10 de Agosto no v/jornal, entenda como invasão de privacidade a legítima preocupação que pais possam ter em relação a filhos seus com problemas seja de que natureza for, sexual ou outros, reduzindo-a a uma “curiosidade” que lhes deve ser negada por direito.

A entrevista em questão sublinha que, perante situações difíceis que os jovens possam enfrentar, sobretudo de ordem íntima, deverão ser os terapeutas a quem se devem dirigir para procurar o apoio e ajuda de que necessitam, distanciando ou mesmo excluindo a existência dos pais, os quais, porventura movidos por curiosidade, poderiam ou iriam apenas atrapalhar. É uma questão de perspectiva, que lamentavelmente ignora a importância que um ambiente familiar são, aberto e equilibrado pode ter na formação dos mais novos. Uma questão de valores, em que naturalmente a curiosidade não entra.

Teresa de Lancastre Valente, Lisboa

O quarto problema...

A contratação de Sérgio Figueiredo (S.F.) por parte do ministro das Finanças, Fernando Medina, já foi por demais glosada. Do que li, aduzem-se sempre três problema para a contrariar: a mais que alegada troca de favores (com amizade pelo meio?); a desvalorização dos funcionários daquele ministério, até porque as funções a desempenhar por S.F. (com palavras de “politiquês”, onde nunca falta o “stakeholders") a justificar parecem ser “pleonásticas"; o valor do vencimento (em part-time?) ser desmesurado.

Na minha opinião, há um quarto problema, muito diferente. Tenho para mim – e disse-o imensas vezes – que um dos problemas do Estado português é o deixar-se corroer por dentro. Quando se viu um secretário de Estado da Saúde dum governo socialista transitar para presidente duma grande associação de hospitais privados, está tudo dito. Ou melhor, infelizmente não está, pois Fernando Medina decidiu povoar o seu ministério com mais uma “toupeira”. Porque sou social-democrata, ideologicamente, custa-me muito ver um governo com a mesma ideologia (?) “dar a mão” – sem ser necessário, mesmo tecnicamente – a alguém que da social-democracia pensa aquilo que “Maomé não pensa/disse do toucinho”.

Fernando Cardoso Rodrigues, Porto

Deixa arder que o meu pai é bombeiro

Esta frase era dita há uns anos em linguagem comum, para significar “não dez importância a isso”. Hoje, deixa arder parece ser o lema deste Governo e de outros que o antecederam.

Com multas inferiores ao custo da limpeza da floresta, o que os governos dizem é deixa arder.

Com terrenos florestais em nome de habitantes de cemitérios (sem indicação do número da campa), o que se pode fazer senão deixar arder? Se, como referi várias vezes, as florestas não tratadas forem expropriadas, e as multas forem dolorosas, a situação poderá resolver-se por agrupamentos de terras que o Estado entregará para exploração controlada a uma empresa privada. Mas expropriar terras é um atentado à propriedade e isso nem um Partido Socialista pode tolerar. Por isso: deixa arder!

Victor Macieira, Ourém

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