A actual direcção da federação obteve os melhores resultados de sempre no judo?

Conflito aberto entre um grupo de sete judocas e o elenco liderado por Jorge Fernandes está na ordem do dia. Dirigente refuta acusações e exalta palmarés durante o actual mandato.

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Jorge Fonseca soma dois títulos mundiais e uma medalha de bronze olímpica Reuters/SERGIO PEREZ

A frase

“Não vou reunir com ninguém, vamos seguir o nosso caminho. Fomos eleitos com um programa, os resultados é que mandam sempre nas coisas, foram os melhores de sempre no judo”

Jorge Fernandes, presidente da Federação Portuguesa de Judo (FPJ)

O contexto

Na quinta-feira, um grupo de sete dos melhores judocas nacionais, com Telma Monteiro à cabeça, divulgou uma carta aberta em que contesta muitas das decisões que têm sido tomadas, nos últimos meses, pelo elenco federativo liderado por Jorge Fernandes.

Entre outras críticas, os atletas denunciam “falta de compreensão, de flexibilidade e sensibilidade” por parte de Jorge Fernandes, falam em discriminação, em ingerência na esfera de decisão dos treinadores e num “clima insustentável e tóxico” promovido pelo dirigente.

Este conflito já mereceu uma manifestação de preocupação por parte do secretário de Estado do Desporto e da Juventude, João Paulo Correia, que agendou uma reunião entre as partes como estratégia de mediação. Mas Jorge Fernandes também já veiculou a sua visão sobre o assunto, refutando as críticas.

O presidente da FPJ sublinha que esta tomada de posição é apenas de uma minoria, constituída essencialmente por atletas do Benfica — “Não é representativa do judo nacional” , garante que nunca impediu judocas de fazerem estágios no estrangeiro e que não interfere nas escolhas sobre os nomes que representam Portugal nas diferentes provas. E exalta os êxitos alcançados no seu mandato, falando nos “melhores [resultados] de sempre no judo”.

Os factos

São dezenas os atletas que competem pela selecção, nos diferentes escalões, e a frase de Jorge Fernandes é suficientemente genérica para poder gerar diferentes interpretações. O PÚBLICO optou por concentrar-se apenas nos resultados obtidos pelos judocas seniores nas três competições globais mais relevantes, os Jogos Olímpicos, os Campeonatos do Mundo e os Campeonatos da Europa.

Jorge Fernandes iniciou o mandato em 2017 e, desde esse ano até ao presente, Portugal conseguiu um terceiro lugar olímpico (Jorge Fonseca, em Tóquio), dois títulos mundiais masculinos (igualmente por Jorge Fonseca, em 2019 e 2021) e um título europeu feminino (Telma Monteiro, em 2019). A estes resultados, juntou mais duas medalhas em Mundiais e quatro em Europeus, para um total de três de ouro, uma de prata e seis de bronze.

Este foi o pecúlio alcançado, até à data, pela actual direcção nas principais provas do calendário. Um registo melhor que o da equipa anterior, liderada por José Costa Oliveira (entre 2013 e 2016 conseguiu uma medalha de ouro, uma de prata e três de bronze, com destaque para o terceiro lugar de Telma Monteiro nos Jogos Olímpicos de 2016), e que o do elenco encabeçado por Carlos Andrade, que só exerceu funções entre 2011 e 2012 (duas medalhas de ouro e duas de prata).

O caso muda de figura quando se leva em conta o longo “reinado” de António Aleixo, que durou desde 1997 a 2011. Nesse período, Portugal conquista o bronze olímpico por Nuno Delgado (Sydney 2000), sete títulos europeus (Nuno Delgado, Michel Almeida, João Neto, João Pina e Telma Monteiro, por três vezes), e três segundos lugares em Campeonatos do Mundo (todos de Telma Monteiro). A estes resultados, há ainda que juntar um conjunto de outras presenças no pódio, para um total de sete medalhas de ouro, oito de prata e 14 de bronze.

Em termos absolutos, trata-se do balanço mais positivo do judo português, mas obtido num período muito mais longo do que o da actual direcção (14 anos contra cinco). De resto, na vigência do elenco liderado por Jorge Fernandes o judo português conseguiu igualar a melhor performance olímpica nacional e juntou-lhe dois títulos mundiais, algo inédito até então. Um palmarés de alto nível que, à semelhança do que aconteceu em anos recentes com Telma Monteiro, se alicerçou largamente no talento de Jorge Fonseca.

Em suma

Salvaguardada a subjectividade inerente à triagem de resultados que foi feita, e tendo em conta a curta janela temporal do mandato da actual direcção da FPJ, resulta claro que, em termos qualitativos, os resultados atingidos pelo elenco dirigido por Jorge Fernandes poderão ser entendidos como os melhores da modalidade.

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