"[Há uma] montanha invisível que as mulheres têm de escalar antes mesmo de começarem a subida." A metáfora é de Caroline George, guia de montanha, que integrou um grupo de 80 mulheres na escalada dos 4168 metros do monte Breithorn, nos Alpes suíços. A jornalista Renata Monteiro fez parte da equipa, e escreve sobre a expedição na Fugas desta semana.

Apresentar montanhas cobertas de neve na primeira Fugas de um Verão já de si meio tímido e invernoso pode parecer contra-senso. Mas o trabalho da Renata não é uma reportagem sobre alpinismo – é sobre a tal "montanha invisível". "As pessoas vão ter com os meus clientes homens a pensar que eles são os guias", exemplifica Caroline George. A verdade é que os desportos de montanha são ainda um meio predominantemente masculino e a falta de representatividade, escreve a autora, deixa as mulheres "facilmente intimidadas". A iniciativa de pôr 80 mulheres a escalar um pico acima dos 4000 metros, lançada pelo Turismo da Suíça, pretende abrir a porta da igualdade. É um caminho ladeira acima, mas é importante começar a trilhá-lo.

Ainda por território suíço, Mara Gonçalves apresenta-nos Lugano, uma pérola de nome (e tempero) italiano no cantão de Ticino, o mais meridional do país. As vistas de postal são o prato forte, mas é também à mesa que se toma o gosto à cidade e ao lago que partilham o nome Lugano: vinhos nascidos entre picos nevados e vegetação mediterrânica, peixe de água doce trabalhado em restaurantes com estrela Michelin e o receituário de uma região historicamente pobre que virou riqueza. Para ler de faca e garfo.​

A propósito de riqueza: "Lá para o final do ano", escreve Edgardo Pacheco, "é provável que" Portugal seja "o país com mais castas autóctones no mundo". Há que dar um passo atrás e apreciar a magnitude desta afirmação: no mesmo mapa onde se destacam gigantes como França, Itália, Espanha e outros, poderá ser neste rectângulo atlântico (ilhas incluídas) que se concentra o maior número de variedades de uva de todo o planeta. A vinha portuguesa é, afinal, uma arca de biodiversidade.

O Edgardo é um exímio caçador (ou pescador) de histórias e de conhecimento científico sobre alimentação, e quem o costuma ler percebe que a sua afirmação não se esgota no mero orgulho por sermos "os mais qualquer coisa do mundo". O verdadeiro destaque é este: estamos rodeados por uma riqueza enorme e porventura nem nos apercebemos disso.

É também com o propósito de aumentar a percepção sobre o vinho, de fixar conhecimento, de apresentar as caras de quem lhe dá forma, que nasceu esta semana um projecto-irmão da Fugas, chamado Terroir. Irá viver sobretudo em meio digital, com algumas incursões na edição impressa da Fugas, e, esta semana, é com este trabalho sobre biodiversidade – onde vêm à conversa o combate às alterações climáticas, os males da eugenia e uma série de novas castas que estão a ser estudadas – que o Terroir mostra ao que vem.

Sem sair da mesa, espreitamos também o novo restaurante de Tiago Santos em Aveiro. Chama-se Courage e é para ler em francês, embora a comida seja manifestamente portuguesa, um registo biográfico e autoral das cozinhas e regiões que têm marcado o percurso do chef aveirense.

No mundo da alta cozinha, todos os caminhos vão dar ao resort algarvio Vila Vita Parc, que este ano completa 30 anos e assinala a efeméride com uma série de jantares a várias mãos, com um longo cartaz de chefs com estrelas Michelin – e o bi-estrelado Hans Neuner no papel de anfitrião.

Pedro Garcias desfia, na sua crónica, semanal, uma história concisa das tabernas de Alijó, embalado pelos "vinhos ‘modernos’ feitos à moda antiga" que lhe fazem lembrar o que então se bebia nestas casas que "eram o opiário dos trabalhadores do campo e das obras".

Em Matosinhos, outro reencontro com o passado, com um prato da cozinha de pescadores que foi desaparecendo da restauração local: o arroz de sardinha. O chef Álvaro Costa quer trazê-lo de volta à carta dos restaurantes, a começar pela do Avô Arnaldo, onde presta consultoria.​

Miguel Esteves Cardoso escreve sobre outra saudade – a abundância de feijão-verde durante o Verão nos restaurantes portugueses –, porém, com uma inquietação: será realmente sustentável deliciarmo-nos com estes (e outros) vegetais que não atingiram ainda o seu potencial de crescimento? Aí, voltamos ao tema das montanhas que ainda temos de escalar – e a da sustentabilidade é uma das mais gigantes e árduas de vencer. Mas deixo esse assunto para a Sandra Silva Costa, que na próxima semana estará de volta, de baterias recarregadas. Boas fugas!

 

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