Câmara do Porto recusa pedido da CDU para usar Rivoli em concerto pela paz

Em vez de um concerto, os promotores decidiram avançar com uma “iniciativa” aberta a artistas e não só, que decorre este domingo, a partir das 16h, na Praça D. João, em frente ao Teatro Municipal Rivoli, no Porto.

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Por causa da posição do PCP sobre a guerra na Ucrânia, a Câmara do Porto fechou, desta vez, as portas do Rivoli a um concerto pela paz Adriano Miranda

A Câmara do Porto recusou um pedido da CDU para que cedesse gratuitamente o Teatro Municipal Rivoli ao Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC), organização conotada com o PCP, para que ali se realizasse um concerto pela paz. A notícia foi avançada pelo Jornal de Notícias e já este domingo o presidente da câmara, Rui Moreira, divulgou a comunicação enviada à vereadora comunista, Ilda Figueiredo, no passado dia 9 de Março, em que lembra que o pedido já fora feito, e recusado, em reunião do executivo, acrescentando que “não pode aprovar” uma iniciativa que “é promovida sob a égide de um partido político que tem vindo a branquear o hediondo ataque da Rússia à Ucrânia”.

Não seria o primeiro concerto promovido pelo CPPC sob o mesmo mote: “Parar a Guerra! Dar uma oportunidade à Paz!”. No passado dia 20, já houve um evento similar no Auditório Municipal de Gondomar, a cargo da mesma entidade. No Porto, segundo o autarca portuense, a vereadora da CDU no executivo municipal, Ilda Figueiredo, apresentou uma moção para que o concerto pudesse decorrer no Teatro Municipal Rivoli, mas o documento foi rejeitado por 11 dos 13 vereadores camarários. Só que Ilda Figueiredo, que também preside ao CPPC, garante que essa moção nada tinha que ver com o concerto. “Era uma moção contra a guerra, em lado nenhum falava do concerto”, garante a vereadora comunista ao PÚBLICO.

Este foi alvo de um pedido ao presidente da câmara, diz, que foi recusado. Numa missiva dirigida à vereadora, e que Rui Moreira acabaria por divulgar na sua página de Facebook, o autarca garante que uma moção envolvendo o concerto tinha sido já rejeitada “por esmagadora maioria”, e aproveita para criticar a posição do PCP em relação à invasão da Ucrânia pela Rússia, considerando que o partido tem “vindo a branquear” o que classifica como um “hediondo ataque”.

Ilda Figueiredo acusa Rui Moreira de confundir a estrutura partidária com o CPPC, mas à Lusa, o presidente da Câmara do Porto diz que se houve alguma confusão esta foi causada pela própria vereadora comunista ao “apresentar uma moção ao executivo da Câmara do Porto que vinha assinada pela CDU e pelo CPPC”. O conteúdo da moção, segundo a agência de notícias, era um cartaz do CPPC e referia-se a uma manifestação no dia 10 de Março.​

No Facebook, Rui Moreira escreveu, já este domingo, que o custo para o município, caso acedesse ao pedido da vereadora comunista, “seria de mais de nove mil euros”, além da cedência gratuita do teatro. “O PCP e os seus satélites têm, naturalmente, todo o direito e liberdade de se manifestarem”, conclui o autarca.

O mesmo tinha também escrito na missiva do passado dia 9 de Março, dirigida a Ilda Figueiredo, em que concluía: “No respeito pela liberdade de expressão, o CPPC tem, obviamente, todo o direito de realizar este concerto num outro espaço público ou privado, mas compreenderá que a cidade do Porto jamais o poderá patrocinar.”

Ora, é isso mesmo que a organização decidiu fazer, agendando já não um concerto, mas uma “iniciativa cultural e de intervenção política” para a tarde deste domingo, na Praça D. João I, em frente ao Rivoli. Também no Facebook, a vereadora comunista publicitou o evento, escrevendo: “Terá a participação de grupos, artistas e pessoas que sempre estiveram contra a guerra e sempre defenderam a liberdade, a paz, seja na Ucrânia, no Iémen, na Síria, no Iraque, em todo o mundo e a solidariedade com o povo ucraniano e todos os povos vítimas de confrontos, bloqueios, sanções, ocupações e guerras.”

Minutos antes do arranque da iniciativa, e em declarações ao PÚBLICO, Ilda Figueiredo lembra que os concertos do CPPC em nome da paz se têm realizado “há muitos anos” no Rivoli, sem que tenha havido qualquer entrave por parte da autarquia. “Havemos de voltar ao Rivoli, porque os presidentes passam mas a luta pela liberdade, pela paz e pela democracia vai continuar”, disse, lembrando que “o fundamental é acabar com a guerra o quanto antes e apoiar os refugiados”. Nesse sentido, o CPPC vai organizar em Gaia, na próxima terça-feira, um leilão de obras de arte, para apoiar o povo ucraniano, disse ainda.

Tal como foi referido pela vereadora comunista, esta não seria a primeira vez que o Rivoli era cedido ao CPPC para um concerto em nome da paz. Na página da organização, ainda é possível encontrar imagens de eventos similares, em 2018 e em 2021, na sala de espectáculos portuense.

Notícia actualizada com declarações do presidente da Câmara do Porto.

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