Aliados avisam Putin que ou pára a guerra ou vêm aí mais sanções

Os ministros dos Negócios Estrangeiros da UE e da NATO fizeram um ponto da situação dos últimos desenvolvimentos no terreno e um balanço do impacto das medidas restritivas contra a Rússia. Os aliados resistiram à pressão de Kiev para a imposição de uma zona de exclusão aérea, mas prometeram sanções mais duras e mais apoio humanitário.

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Antony Blinken e Ursula von der Leyen EPA/YVES HERMAN / POOL

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Foi uma semana de destruição e caos na Ucrânia que, como lembrou o Alto Representante para a Política Externa e de Segurança da União Europeia, “mudou o mundo” e levou os parceiros europeus e aliados transatlânticos a tomar decisões históricas e adoptar medidas inéditas de punição e isolamento da Rússia e apoio e solidariedade com o Governo e a população ucraniana

“Estamos a ser testados neste momento de crise, mas estamos a responder à altura. Aquilo que julgávamos não ser possível há uma semana, está a acontecer”, declarou o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, que esta sexta-feira viajou até Bruxelas para uma primeira avaliação da barragem de sanções económicas e financeiras, de iniciativas diplomáticas e movimentações militares dos membros da NATO e da UE.

“Este é um momento crítico. Não nos podemos dar ao luxo que isto não dê certo”, concordou Josep Borrell,

Em sucessivas reuniões extraordinárias no quartel-general da NATO e no Conselho da União Europeia, os aliados passaram em revista as acções concertadas nestes últimos dias por mais de 40 países. Numa declaração ao lado de Antony Blinken, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, fez um balanço do impacto das sanções: provocaram a queda livre do rublo, obrigaram o Banco Central a aumentar as taxas de juro para 20%, mantêm a Bolsa de Moscovo fechada e levaram dezenas de empresas a parar a sua produção, investimento e vendas na Rússia, apontou.

“Mas sabemos que este conflito está longe de estar terminado, e por isso estamos preparados para tomar novas medidas muito duras se o Presidente Vladimir Putin não parar a agressão e reverter a guerra que desencadeou”, prometeu Von der Leyen — respondendo também aos apelos do Presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, que através do Twitter deu conta da discussão do “fortalecimento das sanções contra a Rússia” e também da “questão da adesão da Ucrânia à UE” num telefonema com a chefe do executivo comunitário.

Os 27 ministros dos Negócios Estrangeiros da UE e os seus homólogos dos EUA, Canadá e Reino Unido repetiram a mesma mensagem de condenação e responsabilização da Rússia pelos ataques deliberados contra civis, que podem constituir crimes de guerra, bem como de disponibilidade para ir tão longe quanto necessário nas medidas contra a Rússia e no apoio à Ucrânia (especialmente humanitário, nesta fase).

Para os aliados, há um limite muito claro e que não vão ultrapassar: a linha da fronteira ucraniana. “Não fazemos parte deste conflito e temos a responsabilidade de garantir que não escala e que não alastra para além da Ucrânia”, afirmou o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, que ouviu o ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Dmitro Kuleba, repetir o apelo para a imposição de uma zona de exclusão aérea sobre o seu país, de forma a travar a Força Aérea da Rússia.

Essa seria uma decisão que atiraria a Aliança para o centro do conflito e inevitavelmente conduziria a um “cenário de guerra total na Europa”, com consequências devastadoras” e “ainda maior sofrimento humano”, apontou Stoltenberg, justificando a resistência dos aliados à pressão da Ucrânia. Os membros da NATO reafirmaram a sua determinação em “defender cada centímetro quadrado” do seu território, mas asseguraram que não seria o bloco a escalar a situação com medidas que Moscovo entenderia como provocatórias.

“Esta é a guerra de Putin. Foi ele que a escolheu, planeou e lançou contra um país pacífico” e que não representava nenhuma ameaça à segurança da Federação Russa, recordou Stoltenberg. Uma “guerra ilegítima” e que “viola todos os princípios do direito internacional aplicável”, acrescentou o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, que se juntou aos restantes governantes na denúncia dos “ataques indiscriminados a civis” e bombardeamentos da Rússia “contra instalações que pela sua natureza podem provocar insegurança a nível absolutamente alarmante” — caso da central nuclear de Zaporizhzhia, a maior da Europa.

Santos Silva deu ainda conta da preocupação dos aliados com uma possível extensão da ofensiva russa do território ucraniano para a Moldávia. “Olhando para o mapa das operações, dá a ideia que a Rússia quer criar um corredor a Sul, a partir do Donbass, até essa fronteira”, disse. Pelo seu lado, Stoltenberg mencionou os riscos para o território da Geórgia e da Bósnia-Herzegovina.