Patrões “piscam o olho” aos refugiados da guerra da Ucrânia

Conselho Nacional das Confederações condena ataque russo e “disponibiliza-se para cooperar com IEFP” na “integração profissional” dos que procurarem refúgio em Portugal.

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Refugiado ucraniano em Medyka, na Polónia, junto à fronteira com a Ucrânia Adriano Miranda

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A cúpula dos representantes do patronato português está solidária com a Ucrânia, é crítica com a Rússia, defende mudanças no Orçamento do Estado por causa do impacto económico da guerra e declara-se interessada na potencial mão-de-obra que pode entrar em Portugal por via do acolhimento de refugiados.

Segundo a Agência da ONU para os Refugiados (ACNUR), meio milhão de pessoas fugiram da Ucrânia para países vizinhos desde que tropas russas iniciaram a invasão do território ucraniano. O número foi actualizado nesta segunda-feira pelo líder da ACNUR, Filippo Grandi.

Num comunicado divulgado nesta segunda-feira, o Conselho Nacional das Confederações Patronais (CNCP) “associa-se à condenação veemente da invasão da Ucrânia pela Rússia”, assumindo que “acompanha a situação com grande preocupação”, tanto pela “tragédia humana” como “pelas suas consequências para a estabilidade europeia e para a sua economia”.

“Consciente da grave crise humanitária que este conflito também produzirá, o CNCP reitera a sua total disponibilidade, em articulação com o IEFP (Instituto do Emprego e Formação Profissional), para a integração profissional dos refugiados que Portugal possa acolher nos próximos meses.”

Horas antes desta nota de imprensa, já a indústria nacional de bicicletas tinha mostrado publicamente interesse na nova mão-de-obra que pode vir do leste da Europa, mais ainda quando há “grande escassez” de trabalhadores.

Num comunicado, o secretário-geral da associação que representa este sector, a Abimota, defendeu que o país deve “dar condições para que refugiados se instalem”. “Desta forma cumprimos dois objectivos fundamentais para nós: é uma questão de responsabilidade social e, ao cumprirmos este desígnio humanitário, estamos também a contribuir para a competitividade do sector”.

Nem os “salários mais altos que pratica” esta indústria resolvem a falta de mão-de-obra “qualificada ou não”, sendo esta insuficiente para responder às necessidades que a produção impõe, garantiu Gil Nadais. “Por isso estamos a estudar, juntamente com os nossos associados, medidas para captar a fixação, com boas condições de trabalho, de populações que queiram encontrar em Portugal um porto seguro.”

Para a CNCP, por outro lado, também é preciso defender as empresas e a economia portuguesa, porque “o impacto desta guerra será directo, sobretudo pelo aumento dos custos energéticos e de produtos agrícolas, que se repercutirá na inflação”. A CNCP reúne cinco confederações patronais: agricultores (CAP), comércio e serviços (CCP), empresarial/indústria (CIP), construção e imobiliário (CPCI) e turismo (CTP).

Além da “forte dependência europeia no domínio energético e alimentar” há que contar com a “dramática situação de seca que assola o país”, enfatizam os patrões, anotando que o impacto da guerra “será também indirecto, uma vez que toda a economia europeia será afectada”.

“Lamentavelmente, a Europa não se precaveu das suas dependências excessivas de fontes de aprovisionamento externas concentradas em determinados mercados. Não será no curto prazo que poderão ser supridas lacunas que temos denunciado, como a insuficiência de interligações entre as redes europeias de electricidade e de gás natural, nomeadamente entre França e a Península Ibérica. Apelamos, agora, para que a União Europeia desenvolva, em comum, esforços para garantir fontes alternativas de abastecimento de energia, bem como de matérias-primas e componentes críticos”, sublinham.

Apesar dos riscos, os patrões portugueses não parecem hesitar na defesa das sanções à Rússia, apesar de estas poderem atingir a própria UE. A CNCP entende que “um ataque injustificado a um estado soberano” merece “uma resposta firme e robusta”. Por isso, é preciso aplicar sanções económicas “claras e coordenadas” à Rússia, mas estas “deverão ser direccionadas de modo a atingir severamente os responsáveis pela agressão e os seus cúmplices, penalizando no menor grau possível a economia europeia e mundial”.

OE 2022 para minimizar impactos

Reafirmada a solidariedade com o país invadido, a condenação do invasor e as preocupações com o impacto, o CNCP vira-se então para o plano interno, defendendo que o Orçamento do Estado para 2022 já preveja medidas fiscais, “ajustamentos”, para “responder à subida dos preços das matérias-primas, ao aumento dos custos de energia, em particular dos combustíveis, e à inflação”.

“As empresas serão afectadas por toda esta situação, incluindo as que negoceiam e operam na Rússia e na Ucrânia, sendo justificadas, em particular, medidas de apoio para mitigar o impacto para estes operadores económicos. O CNCP recomenda, ainda, a todas as empresas e instituições um esforço acrescido em matéria de cibersegurança, num momento em que os riscos neste domínio são elevados”, alerta esta plataforma.

“O mais importante”, prossegue, “é salvar vidas”, sendo “urgente” encontrar “uma solução diplomática”.