Um QR Code numa campa? A ideia é recordar a vida dos que partiram

Pedro Andrade sempre achou que as informações gravadas nas lápides não eram suficientes para descrever as pessoas. Por isso decidiu criar a I-Memorial, uma plataforma de partilha de memórias de entes queridos. Um QR Code numa sepultura é tudo quanto basta para recordar quem já partiu.

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O QR code colocado na campa permite a partilha de memórias entre familiares e amigos I-Memorial

Os cemitérios nunca causaram estranheza a Pedro Andrade. Visita-os com regularidade há cerca de 20 anos e a sensação é sempre a mesma: tranquilidade. Tem o hábito observar a arquitectura dos jazigos e campas, ao mesmo tempo em que imagina como foi a vida de todas aquelas pessoas, algumas suas conhecidas. “Sempre me despertou interesse e atenção aquelas pessoas que eu já tinha conhecido e que agora estavam ali. Quer pela fotografia, quer pelo nome, começava ali a relacionar uns com os outros: ‘Este é pai daquele o outro foi filho. Lembro-me de ter almoçado com eles’”, começa por explicar em entrevista ao P3.

Para este gestor de fundos de investimento, os cemitérios são espaços onde residem as histórias de quem lá está sepultado, mas o que se vê são apenas pedras mármore, “umas maiores, outras mais pequenas, umas mais bonitas, outras mais simples”, descreve. Sobre as pessoas, para além do nome, data de nascimento e falecimento e fotografia, sabe-se pouco ou muito pouco. “Mesmo para os familiares é bastante redutor. Eu chego ali com um filho meu e tenho dificuldade em explicar quem era aquele tio-avô, aquela tia ou aquele bisavô.”

Para além disto, Pedro começou a pensar na quantidade de fotografias esquecidas nas gavetas da casa dos pais, no Alentejo, e na necessidade de as partilhar.

Foi então que decidiu criar a I-Memorial – uma plataforma digital para partilhar memórias de entes queridos. A ideia não é nova, nem tão pouco é portuguesa. A popularidade nos Estados Unidos ajudou a espalhar o conceito por vários países, entre os quais Portugal, onde têm surgido projectos semelhantes. No caso da I-Memorial, a diferença está na utilização de QR Codes para aceder ao memorial. O código, que é colocado na lápide ou no jazigo, funciona como porta de entrada para a página com mais informações sobre o (s) homenageado (s).

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Cada QR code dá para cinco homenageados. Partilhar fotografias, vídeos, mensagens ou descrições são algumas das opções I-Memorial

“Pensei que seria interessante para alguém que fosse ao cemitério e, ao fazer o scan daquele QR Code, encontrasse variadíssimas fotografias dessa pessoa. Fotografias de casamento, de festas, de férias, com a família ou com os amigos”, conta. Em suma, recordações felizes para que a morte seja encarada de outra forma.

O conteúdo é totalmente editável e a criatividade depende do conhecimento que o administrador da página tem sobre o ente querido. Adicionar fotografias, vídeos, relatos em formato áudio, uma descrição ou uma pequena biografia sobre a pessoa ou mensagens são algumas das alternativas. “O campo das mensagens veio um pouco da minha experiência, porque tinha familiares que visitavam a campa da minha mãe ou dos meus avós e depois me ligavam e diziam ‘Olha, passei pelo cemitério, deixei umas flores’. Agora podem deixar uma mensagem”, explica.

Lançado no início do ano, a plataforma já se encontra operacional e disponível para qualquer pessoa. O acesso pode ser feito no cemitério através da leitura do código QR. Neste caso e, assim como uma rede social, se a página for pública é possível aceder ao memorial de outras campas. Se o cliente optar por tornar a conta privada, coloca uma palavra-chave. Para quem não costuma ir ao cemitério ou vive longe, existe ainda a opção de partilhar o link.

Cada placa (ou Memo) de 15MB varia entre os 18 e os 16 euros, consoante o material escolhido – alumínio ou acrílico – e tem capacidade para cinco homenageados, cada um com a sua página. Se o número for superior a cinco aplica-se um acréscimo adicional

Ainda que seja recente, Pedro Andrade assume que o futuro da I-Memorial possa passar pela criação de novos postos de venda. “Estamos agora a desenvolver alguns contactos com floristas. Por exemplo, aquelas floristas que estão junto dos cemitérios. Os marmoristas também serão um potencial comercializador”, conclui.

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