EUA reforçam apoio militar aos Emirados Árabes Unidos em resposta a ataques dos rebeldes iemenitas

Nova estratégia dos houthis obriga Washington a voltar a envolver-se numa guerra que Biden declarou há um ano querer ver terminada. Casa Branca tem ainda de equilibrar apoio aos aliados com as negociações sobre o programa nuclear do Irão.

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Iranianos com bandeiras iemenitas num protesto contra os ataques da coligação de países árabes no Iémen EPA/STRINGER

Os Estados Unidos vão enviar um navio de guerra e caças de combate de quinta geração para os Emirados Árabes Unidos, a federação do Golfo Pérsico que sofreu há dias o terceiro ataque com mísseis reivindicado em poucas semanas pelos houthis iemenitas – os mísseis acabaram por ser interceptados pelos Emirados, mas os EUA chegaram a disparar o seu sistema antimísseis Patriot.

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Os Estados Unidos vão enviar um navio de guerra e caças de combate de quinta geração para os Emirados Árabes Unidos, a federação do Golfo Pérsico que sofreu há dias o terceiro ataque com mísseis reivindicado em poucas semanas pelos houthis iemenitas – os mísseis acabaram por ser interceptados pelos Emirados, mas os EUA chegaram a disparar o seu sistema antimísseis Patriot.

Washington pôs fim o ano passado ao “apoio ofensivo” que prestava à coligação de países árabes formada pela Arábia Saudita para intervir na guerra civil iemenita (e contrariar a influência do Irão, que apoia os houthis): os norte-americanos deixaram ainda de reabastecer a aviação da aliança, mas continuaram a vender armamento defensivo aos seus membros.

Os houthis têm atacado com alguma regularidade os sauditas, mas não reivindicavam nenhum ataque contra os Emirados (que, entretanto, tinham reduzido o seu envolvimento no conflito) desde 2018. Isto até aos disparos que mataram três pessoas há duas semanas, perto do aeroporto de Abu Dhabi. O ataque de segunda-feira, horas antes da primeira visita do Presidente de Israel, Isaac Hergoz, aos Emirados desde que os dois países normalizaram relações, em 2020, foi já o terceiro consecutivo.

O envio do contratorpedeiro de mísseis guiados USS Cole e dos caças representa “um sinal claro que os Estados Unidos apoiam os Emirados, parceiro estratégico de longe data”, lê-se num comunicado divulgado esta quarta-feira pelo Pentágono, depois de um telefonema entre o secretário da Defesa dos EUA, Lloyd Austin, e o príncipe herdeiro de Abu Dhabi, Abu bin Zaeyd al-Nahyan.

Este reforço significa um aumento do envolvimento norte-americano neste conflito, mesmo se pode ser justificado com a presença de tropas dos EUA – os Emirados recebem 2000 soldados norte-americanos, estacionados na base de Al-Dhafra, que colaboram com a sua defesa aérea e no fornecimento de informações.

Joe Biden, que há um ano defendeu que a guerra iemenita, causadora de uma crise humanitária que a ONU descrevia em 2021 como a mais grave do mundo, “tem de acabar”, afirmou agora que a “América vai defender os amigos na região”.

Ainda assim, Andreas Krieg, analista do King's College de Londres, ouvido pela Al-Jazeera, diz que esta mobilização visa acima de tudo “garantir a segurança dos bens dos EUA no país”. “Os EUA não têm nenhum interesse em deixarem-se arrastar de novo para um conflito no Médio Oriente, muito menos no Iémen”, afirma.

Os ataques dos houthis contra os Emirados seguem-se ao reacendimento da guerra no terreno e às maiores vitórias em anos das forças pró-governo. Estes avanços deveram-se em grande parte à intervenção das Brigadas Giants, compostas por tribos salafistas e apoiadas pelos Emirados – diferenças de estratégia com os sauditas levaram os Emirados a colaborar menos nos raides aéreos, mas não significaram o fim do seu apoio às forças do Sul iemenita.

Em resposta aos recentes disparos houthis, a coligação lançou ataques aéreos que fizeram mais de 100 mortos. E voltou a tornar-se coesa, com a reaproximação da Arábia Saudita e dos Emirados. Os analistas sempre especularam sobre o grau de domínio que Teerão terá sobre os rebeldes iemenitas (xiitas, como a República Islâmica), mas discordam de que estes estejam às suas ordens, como Riad afirmou para justificar a sua entrada na guerra. Ou sejam, duvidam que o Irão esteja por trás da decisão de atacar os Emirados e mesmo que pudesse, se assim decidisse, travar estes ataques.

Num momento em que as negociações sobre o programa nuclear iraniano, e o regresso dos EUA ao acordo internacional abandonado por Donald Trump, parecem estar numa fase decisiva, há quem admita que o Iémen esteja a ser usado para fortalecer a posição negocial iraniana. Certo é que a decisão de atacar os Emirados terá a bênção e o apoio iraniano. E que aos EUA caberá equilibrar as negociações iranianas com o apoio aos seus aliados do Golfo, isto enquanto mantêm esforços diplomáticos para pôr fim a um conflito que deixou 2,3 milhões de crianças com menos de cinco anos a sofrer de malnutrição aguda.