Nunca Esquecer: semear para o futuro

O conhecimento do passado é uma ferramenta essencial para, no presente, identificar e travar os indícios do Mal.

Ao comemorar hoje, 27 de janeiro, o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, recordamos o período mais negro da História recente da Europa homenageando os milhões de vítimas do nazismo, assim como os salvadores que, com riscos pessoais e familiares, conduzidos pelos valores da solidariedade e do humanismo, procuraram que alguns dos perseguidos escapassem à sanha persecutória e homicida.

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Ao comemorar hoje, 27 de janeiro, o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, recordamos o período mais negro da História recente da Europa homenageando os milhões de vítimas do nazismo, assim como os salvadores que, com riscos pessoais e familiares, conduzidos pelos valores da solidariedade e do humanismo, procuraram que alguns dos perseguidos escapassem à sanha persecutória e homicida.

Nesta data, é igualmente nosso dever retirar as lições desse passado, assegurando que os horrores de então se não repetem, seja qual for o disfarce ou a justificação com que se apresentam. O conhecimento do passado é uma ferramenta essencial para, no presente, identificar e travar os indícios do Mal.

É neste espírito que, desde 2019, Portugal é membro ativo da Aliança Internacional para a Memória do Holocausto (IHRA, no seu acrónimo em inglês) e foi com estas preocupações em mente que foi criado o Projeto Nunca Esquecer – Programa Nacional em Torno da Memória do Holocausto, e estruturado em quatro eixos distintos: Conhecimento, Educação, Memória Institucional e Divulgação.

Terminado em 31 de dezembro, nos dezoito meses da sua existência — e não obstante as limitações impostas pela pandemia — foram inúmeras as atividades que o Projeto Nunca Esquecer realizou, patrocinou, apoiou ou participou, semeando para o futuro, para a memória que importa preservar. Não pretendendo ser exaustivo, identifico alguns exemplos.

Já decorre, com seis projetos selecionados em concurso, o programa de investigação académica sobre Portugal e o Holocausto: Investigação e Memória, com o objetivo de incentivar o estudo, nas universidades portuguesas, das questões relacionadas com o Holocausto.

A digitalização dos fundos do Arquivo Histórico-Diplomático do Ministério dos Negócios Estrangeiros relativos ao período da Segunda Guerra Mundial, bem como da parte correspondente do arquivo da Cruz Vermelha Portuguesa, está a ser feita e contribuirá para o estudo sobre as relações externas de Portugal nesse período e sobre os refugiados de então.

No campo do conhecimento, destaque ainda para os três livros produzidos e editados pela Imprensa Nacional Casa da Moeda no verão passado na sua coleção O Essencial Sobre, dedicados a Aristides de Sousa Mendes (de Cláudia Ninhos), a Os Salvadores Portugueses (de Margarida Magalhães Ramalho) e às Vítimas Portuguesas do Sistema Concentracionário do III Reich (de Ansgar Schaefer, António Carvalho, Cláudia Ninhos e Cristina Clímaco, coordenado por Fernando Rosas), porventura o mais surpreendente por abordar uma realidade ainda menos conhecida: a dos portugueses presos na Áustria, na Alemanha e na Polónia, nas cadeias e campos de trabalho forçado e de morte do regime Nazi.

Nos claustros do Palácio das Necessidades, sede do Ministério dos Negócios Estrangeiros, foi plantada uma oliveira e descerrada placa de homenagem aos diplomatas e a outros portugueses salvadores, nomeadamente Aristides de Sousa Mendes, Carlos Sampaio Garrido e Alberto Lis-Teixeira Branquinho, bem como àqueles que a investigação permita identificar, que agiram para salvar vidas do Holocausto.

Esteve subjacente a todo o Projeto uma preocupação constante com o envolvimento de amplos setores da sociedade portuguesa, quer da sociedade civil, através das suas organizações próprias, quer do poder local. Ao longo da sua existência o Projeto Nunca Esquecer também colaborou e apoiou numerosas conferências, exposições e ações de formação para professores e funcionários da administração pública, em capacitação sobre direitos humanos.

As sementes estão lançadas à terra, esperando que todos saibamos cuidá-las e adubá-las para que frutifiquem.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico