O meu voto vai para o Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina

Para a leitora Patrícia Caeiros este é um cenário “deslumbrante”. “Oiço os outros igualmente a dizer, ‘tão bonito. E há aqui qualquer coisa que eu não sei’. Pois eu sei o que é, mas não to digo, que é para seres tu a vires cá descobrir”. Pelo caminho, apela à protecção e defesa do parque.

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Cordoama, Vila do Bispo Patrícia Caeiros

Existe uma neblina que corre ligeira, empurrada desde o mar, onde ao longe as ondas rebentam desde cedo, revoltas, numa força que as faz explodir num véu que se vê branco e denso, alongado em altura, e a cobrir a linha do horizonte. O sol desenha as suas cores num contraste que não é de Inverno, e sopra um calor ao sabor do vento, num entardecer que se põe tão bonito. Há pessoas que aproveitam o tempo à beira-mar e cães que alongam o corpo numa corrida desenfreada ao longo do areal molhado, que vai ficando a descoberto pela maré que vaza.

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Existe uma neblina que corre ligeira, empurrada desde o mar, onde ao longe as ondas rebentam desde cedo, revoltas, numa força que as faz explodir num véu que se vê branco e denso, alongado em altura, e a cobrir a linha do horizonte. O sol desenha as suas cores num contraste que não é de Inverno, e sopra um calor ao sabor do vento, num entardecer que se põe tão bonito. Há pessoas que aproveitam o tempo à beira-mar e cães que alongam o corpo numa corrida desenfreada ao longo do areal molhado, que vai ficando a descoberto pela maré que vaza.

Neste silêncio de sons que é a vida a acontecer, penso na sorte que tenho de ontem ter saído de Lisboa, e hoje poder estar aqui, num momento de sossego envolta de um cenário que há muito eu acho ser deslumbrante. Sei que foram as memórias criadas neste lugar, e o repouso de todas as outras vezes, que hoje trazem magia a qualquer instante em que me deixe aqui, mas também sei que assim é, porque oiço os outros igualmente a dizer, “tão bonito. E há aqui qualquer coisa que eu não sei”.

Pois eu sei o que é, mas não to digo, que é para seres tu a vires cá descobrir, num respeito pela natureza, e pelos lugares, sem quereres mais do que o momento te oferece. Garanto-te que se for assim que vieres, saberás o que é essa qualquer coisa que tanta gente se pergunta. Mas vem em breve, e vem tu por ti. É que, a continuar a ser como hoje as coisas existem, não terás oportunidade de conhecer estes recantos como eu hoje os conheço, nem eu hoje os sei, como os sabia há 20 anos.

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Falésias próximo da praia da Arrifana

A exploração intensiva deste lugar tão bonito, numa agricultura que aos poucos e poucos vai arrasando com o ambiente e a humanidade, já muito mudou para onde os olhos se alongam. O Parque Natural do Sudoeste Alentejano vai-se apagando aos poucos, e a Costa Vicentina perdendo a diversidade que sempre foi sua. Dói ter conhecido este lugar como um dia foi, e que eu sei que já nessa altura foi menos do que antes, e conhecer as mudanças que desrespeitam os valores humanos e a protecção do ambiente, e deste nosso lugar no mundo.

É uma sensação de impotência não ter mão para mudar o rumo das coisas, não ver as pessoas a juntarem-se aos milhares numa única voz que defende a protecção dos lugares, e de todos os que vivem nesses lugares, numa prioridade que é urgente. Emergente.

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Falésias próximo da praia da Arrifana

Mas amanhã, enquanto viajante, enquanto pessoa, enquanto cidadão, tens a oportunidade de exercer a tua voz, de exigir mudança e ires votar. Os programas eleitorais estão disponíveis se ainda tens dúvidas. Lê-os. Ainda tens tempo. E amanhã, pega numa caneta, coloca uma máscara no rosto, desinfecta as mãos, mantém a distância física de segurança e vai votar. Exige pela protecção do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina. E depois, assim que puderes, oferece-te uns dias num dos lugares mais bonitos que temos. Garanto-te que te vai entrar bem fundo no coração e ficar aí dentro.

Patrícia Caeiros (texto e fotos)