Salas de cinema lamentam “trapalhada” da DGS e discriminação face a restaurantes

Desafiando as actuais orientações, a Medeia Filmes só exigirá aos seus espectadores o certificado de vacinação: “Não pode haver dois pesos e duas medidas. Estamos a exigir um tratamento igual ao que têm os restaurantes”.

Foto
O cinema em salas enfrenta novas restrições RAJAT GUPTA/EPA

“Uma trapalhada”, “um desnorte total”: é assim que os exibidores de cinema classificam os avanços e recuos de terça-feira nas normas da Direcção-Geral de Saúde (DGS) sobre o acesso a eventos culturais.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

“Uma trapalhada”, “um desnorte total”: é assim que os exibidores de cinema classificam os avanços e recuos de terça-feira nas normas da Direcção-Geral de Saúde (DGS) sobre o acesso a eventos culturais.

A DGS admitiu esta madrugada ter havido um “lapso” na divulgação das orientações a respeitar pelos recintos de espectáculos (salas de cinema incluídas), esclarecendo que até ao dia 2 de Janeiro se mantém a exigência de comprovativo de teste negativo à covid-19 (laboratorial ou rápido). Horas antes, a DGS indicara que o acesso a eventos culturais poderia ser feito mediante a apresentação de teste negativo ou do certificado digital de vacinação.

“Trapalhada é algo que se adequa. Estas alterações implicam um esforço imenso das empresas, é preciso passar a informação a centenas de trabalhadores, e isto é feito com uma leveza que, sinceramente, me custa a entender”, afirmou à Lusa Paulo Aguiar, da UCI Cinemas. Para este exibidor que é também da direcção da Associação Portuguesa de Empresas Cinematográficas, é incompreensível o nível de restrições imposto aos cinemas, tendo em conta que Portugal tem uma elevada taxa de vacinação.

“As exibidoras estão a fazer os ajustes necessários para cumprir, mas por vezes parece que se trata um sector que movimenta mais de 15 milhões de pessoas [espectadores, de acordo com as estatísticas pré-pandemia] como a mercearia da esquina, que tem cinco ou seis pessoas”, lamentou Paulo Aguiar.

“O que aconteceu ontem revela um desnorte total. Aquilo não é lapso. Alguém decidiu uma coisa e depois decidiu fazer diferente”, criticou, também à Lusa, o exibidor António Costa, da Medeia Filmes, que explora o cinema Nimas, em Lisboa, e a sala do Campo Alegre, no Porto.

António Costa argumenta que “os cinemas são mais seguros do que os restaurantes” e adianta que, por isso, a exibidora irá cumprir as regras aplicáveis àqueles estabelecimentos no período definido pelo Governo, até 2 de Janeiro. “Não pode haver dois pesos e duas medidas. Estamos a exigir um tratamento igual ao que têm os restaurantes”, disse.

A DGS estipulou que a obrigação de apresentar um comprovativo de teste negativo só se aplicará aos restaurantes nos dias 30 e 31 de Dezembro e 1 de Janeiro. Nos outros dias, o certificado digital atestando a vacinação completa é suficiente para garantir o acesso.

Nas redes sociais, em resposta a comentários de espectadores, a Medeia Filmes explica que “observará as mesmas medidas de acesso às salas que são exigidas a outros espaços equivalentes” e que dentro da sala de cinema é obrigatório o uso de máscara.

“Alterações a isto violam a Constituição. Não podemos reger-nos por normas que não respeitam os direitos fundamentais, que não respeitam o princípio da igualdade”, afirma a exibidora.

Com o aumento recente de casos de infecção no país, Paulo Aguiar espera que as exibidoras não sejam obrigadas novamente a fechar portas. “Era assumir uma falha total. As exibidoras têm feito um esforço de manter as salas abertas e cumprir o que lhes é exigido”, disse.