Tribunal de Nova Iorque anula condenações de dois acusados do assassínio de Malcolm X

Khalil Islam e Muhammad Aziz mantiveram sempre a sua inocência desde 1965 e “não tiveram a justiça que mereciam”, disse o procurador de Nova Iorque. Novas investigações não identificaram outros suspeitos.

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Malcolm X com Martin Luther King Jr., em 1964 Reuters

O Supremo Tribunal de Nova Iorque reverteu, esta quinta-feira, as condenações de dois dos três homens que foram julgados e condenados a prisão perpétua pelo assassínio do activista afro-americano Malcolm X, em 1965. A decisão era esperada desde quarta-feira, quando o procurador-geral de Manhattan anunciou os resultados de uma revisão do processo que começou a ser feita em Fevereiro de 2020.

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O Supremo Tribunal de Nova Iorque reverteu, esta quinta-feira, as condenações de dois dos três homens que foram julgados e condenados a prisão perpétua pelo assassínio do activista afro-americano Malcolm X, em 1965. A decisão era esperada desde quarta-feira, quando o procurador-geral de Manhattan anunciou os resultados de uma revisão do processo que começou a ser feita em Fevereiro de 2020.

Um dos dois homens, Khalil Islam (conhecido na altura como Thomas 15X Johnson), foi posto em liberdade condicional em 1987 e morreu em 2009, aos 74 anos. O outro, Muhammad Aziz (Norman 3X Butler), foi libertado em 1985 e tem hoje 83 anos.

Islam e Aziz mantiveram sempre a sua inocência, o que foi confirmado desde a primeira hora pelo único autor confesso do assassínio, Mujahid Halim (Thomas Hagan, também conhecido como Talmadge X Hayer).

Halim, de 80 anos, foi libertado em 2010. Ouvido pelo New York Times, na quarta-feira, congratulou-se com a notícia da iminente absolvição de Islam e Aziz. “Deus vos abençoe, eles foram exonerados”, disse Halim.

Muhammad Aziz — o único sobrevivente dos dois homens agora absolvidos — reagiu à notícia esta quinta-feira, depois de a juíza Ellen N. Biben, do Supremo de Nova Iorque, ter aceitado o pedido de absolvição apresentado pelo procurador-geral de Manhattan.

“Eu não preciso que este tribunal, estes procuradores ou uma folha de papel me digam que estou inocente”, disse Aziz. “Tenho 83 anos e sou vítima do sistema de justiça. Espero que o sistema que foi responsável por isto também assuma a responsabilidade pelo mal incalculável que me causou.”

"Um peão"

​Malcolm X foi assassinado a 21 de Fevereiro de 1965, quando se preparava para fazer um discurso num auditório em Manhattan.

Na altura do assassínio, Islam, Aziz e Halim eram seguidores da Nação do Islão, uma organização política e religiosa fundada nos Estados Unidos, em 1930, que prega uma ideologia nacionalista e supremacista negra, e que reclama ter como base os ensinamentos do islão. Segundo Halim, Malcolm X foi assassinado por se ter afastado da Nação do Islão no início de 1964.

Uma década depois do julgamento, em finais da década de 1970, Halim nomeou outros quatro membros da mesquita de Newark que teriam executado o assassínio de Malcolm X juntamente com ele. Mas, até hoje, nenhum dos implicados foi acusado pelas autoridades.

O procurador de Manhattan, Cyrus R. Vance Jr., defendeu a absolvição de Islam e Aziz após ter identificado falhas graves na investigação original e na acusação — incluindo a sonegação, pelo Ministério Público, das declarações de um detective da polícia que estava infiltrado no corpo de segurança pessoal de Malcolm X, e cujo testemunho corroborava a versão de Islam e Aziz.

“Isto vem salientar o facto de que as forças de segurança, ao longo da História, estiveram muitas vezes aquém das suas responsabilidades”, disse o procurador, na quarta-feira, num comunicado. “Estes homens não tiveram a justiça que mereciam.”

Num artigo da revista New York, publicado em 2007, Khalil Islam disse que foi incriminado devido à sua lealdade para com a Nação do Islão.

“Eles escolheram a pessoa certa porque sabiam que eu nunca abriria a boca, mesmo que enlouquecesse”, disse Islam. “Essa era a minha mentalidade, era o que eu pensava ser um verdadeiro muçulmano. Mas a verdade é que eu era simplesmente um peão. O peão perfeito.”

Documentário decisivo

O procurador de Manhattan pediu a absolvição de Islam e Aziz no final de uma revisão que começou em Fevereiro de 2020 — o mês de estreia do documentário “Quem matou Malcolm X” no serviço de streaming Netflix.

O historiador norte-americano Abdur-Rahman Muhammad, um dos mais influentes especialistas sobre a vida de Malcolm X e o homem por detrás do documentário, congratulou-se, na quarta-feira, com a notícia da absolvição de Islam e Aziz.

“Como resultado do nosso documentário ‘Quem matou Malcolm X’, os livros de História dos EUA vão ser reescritos amanhã [esta quinta-feira], quando dois homens erradamente condenados pelo assassínio de Malcolm X vão ser exonerados ao fim de 55 anos”, disse Muhammad na rede social Twitter.