As asas de uma gaivota

Para quem tinha sofrido tanto com a ditadura, o boletim de voto revestia-se de uma importância imensa, porque representava, finalmente, a liberdade. “Aquilo não é uma folha de papel, Carmen. São as asas de uma gaivota”, dizia-me o meu tio.

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"Algumas crianças querem muito crescer para poder tirar a carta. Eu queria muito crescer para poder votar" Nuno Ferreira Santos

Em dia de eleições o meu avô tirava do armário o seu melhor fato e escolhia com cuidado a boina com que procurava disfarçar a calvície. E mesmo quando o peso dos anos e os tratamentos de hemodiálise lhe tiraram a força das pernas, o ritual não deixou de cumprir-se. É certo que já não fazia a pé e de costas rectas o caminho entre a sua casa e a escola primária transformada em secção de voto. Mas quando saía dos carros do filho ou do genro o sorriso estava lá e os olhos azuis brilhavam. Deixar de votar? Só morto.

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Em dia de eleições o meu avô tirava do armário o seu melhor fato e escolhia com cuidado a boina com que procurava disfarçar a calvície. E mesmo quando o peso dos anos e os tratamentos de hemodiálise lhe tiraram a força das pernas, o ritual não deixou de cumprir-se. É certo que já não fazia a pé e de costas rectas o caminho entre a sua casa e a escola primária transformada em secção de voto. Mas quando saía dos carros do filho ou do genro o sorriso estava lá e os olhos azuis brilhavam. Deixar de votar? Só morto.