Melo contra realização do congresso do CDS por coincidir com data do Chega

Candidato à liderança pede “igualdade de armas” na disputa interna. Ânimos exaltam-se entre Francisco Rodrigues dos Santos e João Almeida

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Nuno Melo apresentou ontem, no Porto, a sua candidatura à liderança do CDS LUSA/MANUEL FERNANDO ARAÚJO

Nuno Melo, candidato à liderança do CDS, mostrou-se contra a realização do congresso do partido nos dias 27 e 28 de Novembro por ser coincidente com a data do Chega para a sua reunião magna. Na sua intervenção no conselho nacional do CDS deste domingo, que decorre virtualmente, o ex-vice-presidente disse ainda “desconfiar” do sistema de votação por não ter sido auditado, apurou o PÚBLICO.

A data proposta pela direcção de Francisco Rodrigues dos Santos tem sido bastante contestada pelos críticos internos não só por considerarem que os prazos estão a ser atropelados mas também pelo “absurdo” de ser coincidente com o congresso do partido liderado por André Ventura. Esse argumento foi usado por Nuno Melo na sua intervenção ao considerar que é até “achincalhante” para o CDS partilhar o mesmo fim-de-semana para eleger um novo líder do CDS. O eurodeputado acusou a direcção de “falta de noção” já que o CDS tem de se “distinguir” do Chega e apelou aos conselheiros nacionais que votem contra.

A direcção de Francisco Rodrigues dos Santos considera, no entanto, que o Chega não interfere com a agenda do CDS e mantém a defesa da data. 

O curto prazo da convocatória deste conselho nacional (seis dias) para a antecipação do congresso tem estado no centro da controvérsia entre direcção e oposição. Francisco Rodrigues dos Santos lembrou esta manhã que os mesmos prazos curtos foram usados anteriormente por dirigentes como Paulo Portas em vários momentos.

Os críticos respondem que não é apenas o prazo da convocatória do conselho nacional ter sido encurtado é também só ter sido conhecida a data do congresso depois de a reunião daquele órgão ter sido divulgada aos conselheiros nacionais. “Fazer um congresso em mês e meio nunca aconteceu”, comentou uma fonte ao PÚBLICO, argumentando não haver “urgência” neste conselho nacional.

Nuno Melo também defendeu que é preciso que os candidatos tenham “igualdade de armas” e que também tem de ter espaço para falar sobre o seu “projecto” aos militantes. Depois do discurso em que falou também sobre as autárquicas, o candidato à liderança do partido saiu da reunião para tomar posse na Assembleia Municipal de Famalicão, onde foi eleito como cabeça-de-lista pela coligação PSD/CDS. 

Tal como Francisco Rodrigues dos Santos já tinha assegurado, esta manhã, a legalidade da convocatória, o presidente do conselho nacional, Filipe Anacoreta Correia, reiterou, após a intervenção do antigo vice-presidente, que “não houve nenhuma violação” das regras do CDS e que a prática seguida é a “habitual” no partido. 

"Tom tasqueiro"

O secretário-geral, Francisco Tavares, haveria de responder à “desconfiança" no sistema de votação virtual assumida por Nuno Melo, lembrando que o sistema de votação foi proposto por um apoiante de Nuno Melo, Pedro Moutinho, e que está disponível para que o procedimento seja de novo fiscalizado como anteriormente.

Os ânimos exaltaram-se com a intervenção de João Almeida, que disputou o anterior congresso. Num tom irritado, Francisco Rodrigues dos Santos exigiu que o deputado “provasse” que o CDS elegeu desta vez menos autarcas do que em 2017 no momento em que a direcção está ainda a fazer o apuramento junto das coligações. João Almeida, criticando o tom “tasqueiro” da intervenção, adiantou os números: o CDS teve “menos 4 vereadores, menos 48 deputados municipais, menos 13 presidentes de juntas, menos de 167 membros de assembleia da freguesia. 

Sobre a sua ausência na campanha de João Almeida como candidato à câmara de São João da Madeira, Rodrigues dos Santos disse que esteve nas jornadas parlamentares, naquela localidade, “no primeiro comício do Nuno Melo” que João Almeida “aplaudia alegremente”. “Não vale a pena vires fazer o discurso da virgem ofendida”, disse, deixando de lado o tratamento formal. “A nossa diferença não é só no tom e na educação é na forma como enfrentamos a realidade”, ripostou João Almeida, contrariando também a ideia de que foi o único candidato do CDS nas listas como afiançou Rodrigues dos Santos. 

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