Lançada plataforma para informar as mulheres sobre como preservar a fertilidade

O “Quando estiveres pronta” surgiu da constatação de “uma grande desinformação das mulheres” relativamente à sua capacidade reprodutiva e à fisiologia normal do aparelho reprodutor, revela o presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Reprodutiva.

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Nelson Garrido

Sensibilizar as mulheres para o facto de que podem ter problemas reprodutivos se adiarem a maternidade e informá-las sobre a preservação da fertilidade, como através da congelação de ovócitos, são os objectivos de uma plataforma online lançada na terça-feira.

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Sensibilizar as mulheres para o facto de que podem ter problemas reprodutivos se adiarem a maternidade e informá-las sobre a preservação da fertilidade, como através da congelação de ovócitos, são os objectivos de uma plataforma online lançada na terça-feira.

A plataforma “Quando estiveres pronta” surgiu da constatação de “uma grande desinformação das mulheres” relativamente à sua capacidade reprodutiva e à fisiologia normal do aparelho reprodutor, disse o presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Reprodutiva (SPMR), Pedro Xavier, à Lusa. “Quando falamos hoje em dia a jovens de 25, 28 anos que podem em pouco tempo ter alguma diminuição da sua capacidade reprodutiva ficam um pouco admiradas, porque se sentem jovens”, também porque a perspectiva da idade hoje é diferente do que era há 40 ou 50 anos.

O problema, apontou Pedro Xavier, é que as mulheres vão perdendo a sua capacidade fértil ao longo da vida e aos 34, 35 anos essa quebra começa a ser “muito acentuada”. “A primeira ideia desta plataforma foi alertar as mulheres que a fertilidade não é infinita, tem um limite de idade que muitas vezes é mais cedo do que a mulher pode imaginar”, sendo, por isso, o seu “grande objectivo” informar as mulheres das alternativas que existem para prevenir essa perda da fertilidade.

Umas das alternativas pode ser simplesmente a mulher ter filhos mais cedo, uma vez que já tem as condições para os ter e só estava a adiar o projecto porque achava que tinha tempo. Já para as mulheres que têm “muita vontade de ser mães”, mas não têm projecto parental, uma das hipóteses é congelar os ovócitos em idades mais novas que, apesar de não garantirem uma gravidez, aumentam as chances de isso acontecer.

Segundo Pedro Xavier, esta é uma prática com resultados, mas que deve ser feita idealmente por volta dos 35 anos ou um pouco antes porque há “um limite de idade a partir do qual nem mesmo os centros mais diferenciados do mundo conseguem ajudar”. Por isso, os especialistas têm de ser “muito claros e muito honestos com as mulheres” e explicar-lhes que congelar ovócitos depois dos 40 anos a probabilidade de eles resultarem no nascimento de uma criança saudável é muito baixa.

“O ideal é as mulheres receberem esta informação quanto mais cedo melhor para pensarem no seu planeamento familiar com outra perspectiva, e não com uma perspectiva apenas de quando tiver de ser e alguém me há-de ajudar, porque só se consegue ajudar se a qualidade dos óvulos for boa e essa qualidade perde-se com a idade limite”, alertou.

Por outro lado, o especialista explicou que se os óvulos forem usados numa mulher com perto de 50 anos, a gravidez pode ter maior risco porque a mulher pode ter alguma patologia que aumenta esse risco. “Curiosamente, o risco de malformações ou risco de implicações para o bebé pelo facto de mãe ter 48 ou 49 anos já não se coloca nessas condições”, porque a idade do ovócito é que determina o risco.

Segundo Pedro Xavier, tem vindo a aumentar o número de mulheres que recorrem a este procedimento, mas que está “claramente abaixo” da necessidade, tendo em conta “a transformação social” que se está a verificar em Portugal das mulheres adiarem a maternidade e a idade média para ter o primeiro filho já ultrapassar os 30 anos.

Em Portugal ainda não nasceu nenhuma criança resultante deste procedimento, que está “em plena aplicação” no país “há quatro, cinco anos”. “Acredito que estejamos neste momento a chegar à altura de as mulheres começarem a utilizar esses ovócitos”, mas já há crianças nascidas em países como Espanha ou nos Estados Unidos “com bons resultados em termos de complicações para os bebés que não parecem ser superiores às das técnicas convencionais de fertilização in vitro”.