Muamba Grove: os corpos em mudança de Vanessa Silva vão estar no Regents Park

As esculturas da série Muamba Grove, da artista Vanessa da Silva, vão integrar a Frieze Sculpture 2021, no Regents Park, em Londres. A exposição pode ser visitada entre 14 de Setembro e 31 de Outubro

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Muamba Grove Galeria Duarte Sequeira

É com esculturas inspiradas na condição de deslocada que a artista plástica Vanessa da Silva e a Galeria Duarte Sequeira, de Braga, integram a nova edição do Frieze Sculpture 2021, no Regents Park, em Londres. A escultora e a galeria participam na exposição de arte contemporânea com a série Muamba Grove, que poderá ser vista entre 14 de Setembro e 31 de Outubro.

Enquanto brasileira e emigrante em Londres desde 2001, Vanessa da Silva gosta de abordar questões de formação de identidade, migração e deslocamento. Para a artista, “Muamba Grove está intimamente ligada à ideia do deslocamento, à forma como os corpos se transformam com o deslocamento”. O projecto partiu, conforme conta ao P3, da vontade de ligar o corpo ao movimento e perceber como se transforma com a mudança. “Existe um elemento alien. Você não sabe o que acontece, mas você se molda (ao contexto), se transforma para se adaptar, para se encaixar. Como me movimento ou como me expresso vai modificando-se”, diz Vanessa que se inspirou na própria vivência para realizar estas peças.

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Galeria Duarte Sequeira

Vanessa nasceu em São Paulo, estudou design de produto na Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), também em São Paulo, e concluiu o mestrado em pintura no Royal College of Art, em Londres. Reconhece o quanto o seu corpo e as expressões se alteraram com esta mudança de país, de clima e de cultura. A escultora revela que existe, nas peças que cria, “uma relação directa com o corpo, que não tem género específico — nem 100% humano, nem 100% natureza”. “É algo novo.”

O próprio nome da série reflecte o sentimento do deslocamento. Na gíria brasileira, muamba é, segundo revela, “um produto que vem de um país para o outro, debaixo de pano, como se fosse contrabando”. Já o grove, entende Vanessa, relaciona-se em simultâneo com o movimento do corpo e as partes mais finas do trabalho. Vanessa traduz, então, Muamba Grove como “corpo em movimento, em lugares diferentes”. A condição de emigrante é um elemento catalisador nos temas de pesquisa da artista.

“Levar escultura para o espaço público, para um jardim público (Regents Park), para que as pessoas possam interagir com as peças” é o que anima a artista. As três peças que compõem a série têm entre os 2,60 e os 4,50 metros de altura, são feitas de fibra de vidro, resina e tinta UV sobre uma estrutura de ferro.

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Galeria Duarte Sequeira

Duarte Sequeira, director da galeria com o mesmo nome, considera que esta presença em Londres é a oportunidade para “estar ao lado das melhores galerias internacionais e nacionais e dos melhores artistas”.

No ano da sua residência na Galeria Duarte Sequeira, em 2020, Vanessa da Silva recebeu, ainda, o Hopper Prize (EUA) e o prémio Gilbert Bayes, da Royal Society of Sculptors, do Reino Unido.

A Frieze Sculpture 2021 reúne trabalhos que abordam temas como as estruturas de poder geopolítico, a preocupação ambiental e a arquitectura. Com curadoria de Clare Lilley, directora de programa do Yorkshire Sculpture Park, a edição de 2021 apresenta, para além de Vanessa da Silva, nomes como Rasheed Araeen, Daniel Arsham, Anthony Caro, Gisela Colón ou Solange Pessoa.

Texto editado por Ana Maria Henriques

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