Há mais de 10 mil espécies em risco de extinção na Amazónia, alerta relatório

A destruição causada por mão humana põe mais de duas mil espécies de animais e oito mil espécies de plantas exclusivas da região em elevado risco, segundo um relatório que junta estudos de 200 cientistas em todo o mundo.

Foto
A Amazónia já perdeu 35% da sua área original NELSON GARRIDO

Mais de 10 mil espécies de plantas e animais correm um elevado risco de extinção devido à destruição da floresta tropical amazónica — 35% desta região já foi desmatada ou degradada, segundo a versão inicial de um relatório científico que foi publicado esta quarta-feira.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Mais de 10 mil espécies de plantas e animais correm um elevado risco de extinção devido à destruição da floresta tropical amazónica — 35% desta região já foi desmatada ou degradada, segundo a versão inicial de um relatório científico que foi publicado esta quarta-feira.

O documento, produzido pelo Painel Científico para a Amazónia (SPA, na sigla inglesa), reúne estudos realizados por 200 cientistas internacionais sobre a maior floresta tropical do mundo. É a avaliação mais detalhada do estado da floresta até à data e deixa claro que a Amazónia tem um papel vital para o clima global, mas enfrenta sérios riscos.

Redução da desflorestação é “fundamental"

A redução da desflorestação e da degradação florestal para zero em menos de uma década “é fundamental”, diz o relatório, apelando também à restauração maciça de áreas já destruídas.

A floresta tropical é um baluarte vital contra as alterações climáticas, tanto pelo carbono que absorve como pelo que armazena. Segundo o relatório, o solo e a vegetação da Amazónia contêm cerca de 200 mil milhões de toneladas de carbono, mais de cinco vezes as emissões anuais de dióxido de carbono do mundo inteiro.

Foto
Área desflorestada na bacia da Amazónia Rickey Rogers

Além disso, a contínua destruição causada pela interferência humana na Amazónia coloca mais de oito mil plantas endémicas e mais de dois mil animais em alto risco de extinção, lê-se no relatório.

A ciência mostra que os seres humanos enfrentam riscos potencialmente irreversíveis e catastróficos devido a múltiplas crises, incluindo as causadas pelas alterações climáticas e pelo declínio da biodiversidade. O alerta é feito pela professora Mercedes Bustamante, da Universidade de Brasília, numa declaração publicada pela SPA: “Há uma estreita janela de oportunidade para mudar esta trajectória”, diz Bustamante. “O destino da Amazónia é central para a solução das crises globais”.

No Brasil, a desflorestação tem aumentado desde que o presidente Jair Bolsonaro tomou posse em 2019, atingindo um pico o ano passado. Bolsonaro apelou ao aumento da actividade mineira e da agricultura em áreas protegidas da Amazónia e enfraqueceu as agências de fiscalização ambiental, o que, segundo os ambientalistas e cientistas, resultou directamente no aumento da destruição.

Partes da Amazónia estão a emitir mais carbono do que absorvem

Há cerca de uma semana, a vizinha Colômbia relatou que em 2020 a desflorestação aumentou 8% relativamente ao ano anterior para 171.685 hectares. Quase 64% da destruição ocorreu na região amazónica do país.

Segundo o relatório, 18% da bacia amazónica já foi desmatada — principalmente para a agricultura e madeira ilegal. E 17% da floresta foi degradada. Isto corresponde a uma destruição de 35% da área original floresta.

Esta realidade pode ameaçar a capacidade da floresta tropical funcionar como um dissipador de carbono, com resultados potencialmente devastadores para o clima global.

Foto
Há oito mil espécies de plantas endémicas em risco de extinção STRINGER Peru

Um estudo separado publicado na revista Nature na quarta-feira mostrou que algumas partes da Amazónia estão a emitir mais carbono do que absorvem, com base em medições de dióxido de carbono e monóxido de carbono retiradas de cima da floresta tropical entre 2010 e 2018.

A autora principal Luciana Gatti, cientista da agência de investigação espacial brasileira Inpe, sugere que o aumento das emissões de carbono no sudeste da Amazónia não é apenas o resultado da destruição directa. As emissões mais elevadas vêm do aumento da mortalidade das árvores à medida que a seca e as temperaturas mais elevadas se tornam mais comuns.