Mais de 154 mil vacinas administradas, novo recorde diário. Ministra destaca “esforço gigantesco”

Marta Temido acredita que o concurso para a contratação de novos médicos de família lançado há dias vai permitir dar médico assistente a mais de 650 mil pessoas. Mas admite que não será possível recuperar uma parte da actividade que ficou por fazer durante o primeiro ano da pandemia.

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Marta Temido LUSA/ANTóNIO COTRIM

A vacinação contra a covid-19 é agora a principal resposta contra a propagação da variante Delta e os esforços estão concentrados na campanha em curso que acelerou nos últimos dias. Na terça-feira foram administradas mais de 154 mil doses de vacinas, um novo recorde diário, destacou esta quarta-feira a ministra da Saúde durante uma audição na Comissão de Saúde na Assembleia da República, enfatizando “o esforço gigantesco” que está a ser feito e pedindo a compreensão das pessoas que têm sido obrigadas a esperar em filas para serem vacinadas nos últimos dias. Foi assumido que se ia agora “privilegiar o ritmo ao conforto”, justificou.

task force (grupo de trabalho) que gere o plano de vacinação precisou, entretanto, que na terça-feira se fizeram mais de 154.600 inoculações e que só nos últimos dois dias foram administradas mais de 297 mil doses de vacinas, um ritmo inédito de vacinação.

No Parlamento, Marta Temido recordou que as metas definidas pelo grupo de trabalho passam por “chegar a meados de Setembro com a vacinação completa de mais de 70% da população e com mais de 90% com uma dose da vacina”. E aproveitou para alertar que o certificado covid  “deve ser usado com prudência, já que há muita incerteza sobre o que é a evolução desta doença”.

Com a vacinação a acelerar, a ministra afastou para já a adopção de outras medidas e o eventual regresso ao estado de emergência, apesar de frisar que “não há impossibilidades totais”. “Queremos fazer esta corrida contra a variante Delta através da vacinação e não através de outras medidas”, disse, em resposta ao deputado Ricardo Baptista Leite (PSD) que quis saber se Marta Temido considera que as medidas que estão a ser tomadas são suficientes para enfrentar o agravamento da situação epidemiológica e se defende um regresso ao estado de emergência para viabilizar medidas mais restritivas.

Marta Temido enfatizou que isso não passa exclusivamente pelo Governo. “Não é só o Governo que opta pela utilização de um determinado mecanismo de enquadramento, também a Assembleia da República e o Presidente da República têm uma palavra e saberão, em cada tempo desta evolução, voltar ou não a recorrer a mecanismos que a lei tem especificados. Não há impossibilidades totais, há necessidades de avaliação constante”, acentuou.

Este ano já se reformaram 230 médicos

Mas a audição regimental da ministra ficou também marcada pela resposta às críticas do Movimento Saúde em Dia – constituído pela Ordem dos Médicos (OM), a Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH) e pela Roche – que esta quarta-feira divulgou um estudo sobre o impacto do primeiro ano da pandemia na prestação de cuidados no Serviço Nacional de Saúde, que indica, entre outros problemas, que em Junho passado voltamos a ultrapassar a barreira de um milhão de pessoas sem médico de família.

Marta Temido justificou o retrocesso com o número crescente de aposentações – mais de 230 médicos reformaram-se já este ano e mais de metade (131) são médicos de família - e com “o aumento de 75 mil inscritos no SNS” nos primeiros cinco meses deste ano. Em 2019 aposentaram-se 409 médicos e no ano passado reformaram-se 653, especificou.

Lembrando que na semana passada foi lançado um concurso com 459 vagas para recém-especialistas em medicina geral e familiar, a governante calculou que, se a taxa de retenção for semelhante à média observada nos últimos anos, serão contratados 359 profissionais nos centros de saúde, o que permitirá dar médico de família a “cerca de 650 mil" pessoas. As entradas “irão corrigir” a actual situação” e colocar os valores “mais próximos do que queremos atingir”.

O secretário de Estado Adjunto e da Saúde, António Lacerda Sales, recordou, a propósito, que no final de Maio passado, o SNS contava com 147.645 profissionais, “mais 7910” do que em Maio de 2020. Lacerda Sales revelou ainda que há 4730 profissionais de saúde alocados à vacinação contra a covid-19, mais de 600 dos quais são médicos e 2626, enfermeiros

Para provar a aposta no reforço dos recursos humanos, a ministra adiantou que, de Janeiro a Maio deste ano, os custos do SNS aumentaram 190 milhões de euros, e, deste total, 60 milhões foram para remunerações.

Sobre a significativa quebra no número de consultas, cirurgias, exames e outros actos assinalada no estudo encomendado pela OM e APAH, Marta Temido contrapôs que até Maio deste ano, os dados acumulados indicam que foram realizadas mais três milhões de consultas médicas nos centros de saúde do que no mesmo período de 2020 e que foram feitas mais quatro milhões de consultas de enfermagem, mas admitiu que não será possível “repor aquilo que foi a actividade não realizada”. 

“Infelizmente aquilo que falta fazer em muitos casos não poderá ser recuperado”, mas “o que nos interessa é retomar níveis de actividade em anos pré-pandémicos e isso o Serviço Nacional de Saúde está a conseguir fazer”, retorquiu.

Recorde de testes

Sobre a contenção da pandemia, adiantou que, nos primeiros dias deste mês de Julho, a média diária da realização de testes de diagnóstico do novo coronavírus atingiu o valor mais alto.

“Nestes poucos dias de Julho, a média diária de testes é a mais alta desde o início da pandemia, também acima de Janeiro”, disse Marta Temido na Comissão de Saúde. No primeiro mês deste ano, a média de testes por dia rondou os 52 mil, de acordo com dados divulgados pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge.

Questionada sobre alegados atrasos na notificação de casos e no isolamento de casos positivos e contactos, Marta Temido admitiu que o trabalho da saúde pública começa a estar “em stress”, apesar de ter garantido que ainda é possível “a identificação do link epidemiológico” num número significativo de casos.

“De acordo com os dados que temos, o isolamento de casos e o isolamento de contactos - que são indicadores indirectos daquilo que é o rastreio e a identificação do link epidemiológico - ainda são feitos às 24 horas em 98 e 78% dos casos. A saúde pública está a fazer o seu trabalho e consegue ainda ter a identificação da ligação epidemiológica em mais de metade dos casos que são reportados”, afirmou.

com Lusa

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