Velo-city 2021: Lisboa recebe o maior evento de mobilidade em bicicleta do mundo

Entre os dias 6 e 9 de Setembro, todos os caminhos cicláveis vão dar a Lisboa. A maior conferência mundial sobre mobilidade em bicicleta realiza-se aqui e todos estão convidados a participar.

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Todos os que se interessam por mobilidade em bicicleta e desenvolvimento urbano sustentável são chamados a participar na próxima edição da Velo-city, que este ano se realiza em Lisboa, na FIL - Feira Internacional de Lisboa, entre os dias 6 e 9 de Setembro. Com mais de 250 oradores oriundos de mais de 60 países, este é considerado o maior evento internacional dedicado à temática, constituindo uma importante plataforma global de troca de conhecimentos nesta área.

Segundo Caroline Cerfontaine, directora da Velo-city 2021, esta “é uma conferência anual única com o objectivo de influenciar os decisores no sentido de uma mobilidade mais sustentável, activa e ciclável, e estabelecer ligações entre as várias partes interessadas com vista a reunir apoio em torno da bicicleta como forma de mobilidade saudável, verde e eficiente”.

Se, nos últimos anos, a bicicleta já vinha a revelar-se como uma opção para muitas pessoas em todo o mundo, com a pandemia esta escolha acabou por se tornar ainda mais natural e óbvia como realça a responsável: “A pandemia mostrou um interesse renovado em relação ao ciclismo por parte de um grupo muito grande e diversificado de cidadãos de todo o mundo, tendo em conta que, durante o confinamento, o tráfego automóvel diminuiu drasticamente, abrindo espaço para opções de mobilidade activa.”

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O mesmo é observado por Miguel Gaspar, vereador com o pelouro da Mobilidade na Câmara Municipal de Lisboa (CML), segundo o qual “Lisboa recebe a Velo-city num momento importante para a bicicleta”. Isto porque “a pandemia que vivemos alterou os padrões de mobilidade e potenciou o uso de bicicleta em muitas cidades”, refere, constatando que “a procura mundial disparou e fez com que muitas cidades acelerassem a construção de melhores condições para a utilização deste modo”. “Lisboa foi uma dessas cidades e é por isso uma oportunidade única organizar esta conferência e ter em Lisboa os melhores especialistas mundiais neste momento”, sublinha.

O impacto da Covid-19 na mobilidade em bicicleta será precisamente um dos muitos temas abordados no evento, já que, como destaca Caroline Cerfontaine, “a Velo-city 2021 oferecerá a plataforma de intercâmbio internacional perfeita entre autoridades, defensores, académicos, representantes da indústria e especialistas em mobilidade para tornar as mudanças nas cidades permanentes e encontrar soluções em conjunto para tornar o ciclismo acessível e seguro para todos”.

Lisboa: a anfitriã certa

Depois de Dublin, Irlanda, este ano é a vez de Lisboa ser a cidade anfitriã da Velo-city, evento organizado conjuntamente pela CML, a Federação Europeia de Ciclistas (ECF, na sigla em inglês) e a Empresa Municipal de Mobilidade e Estacionamento de Lisboa (EMEL). A escolha da capital portuguesa prende-se em grande parte com o caminho que aqui tem vindo a ser percorrido no sentido de tornar Lisboa uma cidade cada vez mais ciclável, como reconhece Caroline Cerfontaine: “Ao longo da última década, Lisboa tem passado por uma mudança de paradigma da mobilidade, que se traduz em grandes transformações na forma como os cidadãos se movem na cidade.

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Ao contrário da crença popular, 73% das ruas de Lisboa são planas ou têm declives inferiores a 5%, tornando-as acessíveis à maioria dos ciclistas.” De acordo com a responsável, “a cidade está a trabalhar para atingir 200 quilómetros de ciclovias, garantindo que 93% da população tenha acesso a uma ciclovia a menos de 300 metros de casa, além de oferecer um total de 7 pontes para peões e ciclistas. Nas suas palavras, esta conquista é relevante, sobretudo se se tiver em conta que em causa está “uma cidade que inaugurou os seus primeiros três quilómetros de ciclovia em 2001”. “Este tipo de mudança e apoio para que uma diferença real aconteça é verdadeiramente inspirador para todas as cidades do mundo que sonham tornar-se mais amigas do ciclismo. Portanto, escolher Lisboa como cidade anfitriã da Velo-city 2021 foi definitivamente a decisão acertada”, assume.

Da parte da CML, Miguel Gaspar admite o empenho que tem vindo a ser colocado nesta matéria, realçando que “Lisboa tem trabalhado muito nos últimos anos para se tornar numa cidade que oferece melhores condições para utilizar a bicicleta”, sendo que “esta transformação é fundamental”, diz, não só para o cumprimento das metas do Acordo de Paris, como também para a concretização dos objectivos de descarbonização com os quais a autarquia se comprometeu. Nesse sentido, recorda que, “até 2030, Lisboa tem como objectivo ter pelo menos dois terços das viagens na cidade em transporte público, a pé e de bicicleta e, por isso, consideramos fundamental dispor de uma rede segura, abrangente, conectada e segregada, para que cada vez mais pessoas possam optar por este modo de transporte, em detrimento do automóvel particular”. Já em relação à rede GIRA, o serviço de bicicletas partilhadas de Lisboa, a meta passa por “duplicar o número de estações ainda em 2021 para levar o sistema a mais zonas e a muitos mais lisboetas”.

Festejar a diversidade

Cycle diversity” é o tema da edição da Velo-city 2021 e, nas palavras de Caroline Cerfontaine, tal justifica-se porque “esta diversidade revela-se a si própria através de uma variedade de circunstâncias, com ciclistas de todas as idades, origens e géneros e com todos os tipos de bicicletas, usadas para diferentes fins”. “A bicicleta deve ser acessível a todos”, afirma, admitindo que “vivemos tempos desafiadores que exigem uma acção política ambiciosa, onde a equidade, a justiça intergeracional e a preocupação com o clima devem estar sempre presentes”. Como tal, entende que “devemos tirar partido da diversidade associada à bicicleta para enfrentar as desigualdades das nossas cidades e mitigar os seus efeitos, aumentando o acesso à utilização da bicicleta por todos”. Quanto à adequação do tema à capital portuguesa, Miguel Gaspar não poderia concordar mais. “Não só porque o uso da bicicleta e as soluções para promover a sua utilização são diversas, como a diversidade e a multiculturalidade definem o que é Lisboa”, sublinha o vereador.

Um evento (mesmo) único

A primeira edição da Velo-city realizou-se em 1980 e, desde então, tem desempenhado um importante papel na promoção da bicicleta como um meio de transporte sustentável e saudável para todos. Uma das muitas medidas que podem ser usadas para medir o sucesso deste evento prende-se com o número de participantes. “Tanto a presença como a diversidade de delegados têm aumentado constantemente ao longo dos anos, o que constitui um claro indicador de que a Velo-city é a principal conferência global de ciclismo, já que não há outra igual”, resume Caroline Cerfontaine, frisando que “as pessoas vêm à Velo-city porque é única. Por exemplo, as conferências não atraem apenas um tipo de profissionais, mas uma mistura de pessoas, profissões, capacidades e experiências, o que é uma componente muito valiosa do sucesso do evento”, aponta.

Da mesma maneira, “a Velo-city também apresenta uma emocionante combinação de sessões em que o foco está no diálogo, participação e troca de conhecimento”, enumera a directora do evento, acrescentando que “o desfile de bicicletas é um elemento inovador que também atrai e envolve activamente os residentes da cidade anfitriã e chama ainda mais a atenção para a causa do ciclismo”.

Quanto à cidade que acolhe a iniciativa, também para esta as vantagens são evidentes: “A Velo-city impulsiona a economia local através do negócio que gera e do turismo que atrai, ao mesmo tempo que destaca as aspirações da cidade e o seu progresso na transição para uma mobilidade urbana mais sustentável.” Além disso, “a cidade tem um papel na criação de seu próprio legado após a conferência, porque a Velo-city contribui sempre para a aceleração dos planos da cidade em relação à bicicleta”, resume Caroline Cerfontaine.

Repensar cidades, incluir as bicicletas

Com um programa composto por mais de 50 sessões, muitos são os temas em destaque ao longo dos quatro dias do evento, todos considerados cruciais para um futuro sustentável. Ainda assim, a responsável pela iniciativa não hesita em destacar os tópicos relacionados com repensar as cidades para serem mais activas e inclusivas, a igualdade de género na mobilidade em bicicleta e o ciclismo como a chave para uma recuperação económica verde. “Estes tópicos são essenciais para conduzir o desenvolvimento urbano no caminho certo para alcançarmos os nossos objectivos climáticos”, justifica.

Por seu turno, Miguel Gaspar chama a atenção para o tema “Reestruturação das cidades e política”, sublinhando que “o combate às alterações climáticas não se vence sem o contributo das cidades”. “Até 2050, a Organização das Nações Unidas estima que mais de 60% da população mundial viva em centros urbanos. Este aumento de população coloca muita pressão sobre os sistemas, em particular na mobilidade”.

Assim, “as cidades podem e devem liderar esta luta, começando por alterar o paradigma da mobilidade e promover a descarbonização do sector dos transportes”, sintetiza, alertando para o impacto positivo que tal acaba por ter na qualidade de vida dos cidadãos que vivem nas cidades. “O transporte público será sempre a espinha dorsal de uma mobilidade urbana mais sustentável, mas é importante criar alternativas que o complementem, e aí a bicicleta tem e terá um papel cada vez mais importante”, defende, resumindo a importância de eventos como o Velo-city 2021.