“Muita gente pode não nascer” sem políticas públicas adequadas

Ciclo de Conversas Urbanas questionou três especialistas àcerca do tipo de cidade que vai ser deixada pela actual geração àqueles que ainda não nasceram

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Paulo Pimenta

Pensar as cidades para as novas gerações é um dos grandes desafios dos actuais obreiros (políticos, arquitectos, paisagistas, cidadãos) do tecido urbano do futuro, mas o amanhã é já hoje. Por isso, urge decidir agora como vão ser os espaços que os descendentes dos nossos descendentes vão herdar, tendo em vista cidades inclusivas e integradoras das várias gerações que nelas se cruzam. Respostas há muitas, mas decisões precisam-se e foi esse o repto lançado aos convidados da terceira das dez sessões (disponíveis em podcast) que o PÚBLICO Ao Vivo dedica às cidades e o seu futuro. O tema desta conversa cruzada foi “Como se desenham cidades para quem ainda não nasceu?”.

Eduardo Vítor Rodrigues, presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, saiu em defesa de um conceito de cidade que atenda à actual realidade. “Se as cidades e as políticas públicas não forem devidamente desenhadas, há muita gente que poderá não nascer”, disse, lembrando os níveis “absurdos” de baixa natalidade vividos em Portugal. E alertou: “A geração dos que nascerão vai depender muito daquilo que as famílias tiverem hoje como suporte de políticas públicas”.

Instrumentos como o Plano Director Municipal (PDM) são elementos-chave de construção do território. A arquitecta Adriana Floret dá o exemplo do Porto, onde o PDM “tem uma grande preocupação com a mobilidade”. E se o pensamento está numa nova abordagem do conceito de cidade, do planeamento dos espaços, ao novo uso de edifícios, ruas e demais espaços públicos, então o caminho é pensar “na Geração Y, que não dá tanta importância ao carro e ao sítio onde moram, preferindo pensar em questões como a mobilidade e a tal cidade dos 15 minutos, em que os bens e serviços essenciais estão próximos”.

Menos optimista está Luís Pinto de Faria, arquitecto e director do curso de Arquitectura e Urbanismo da Universidade Fernando Pessoa. “Os PDM deveriam responder à pergunta deste debate: onde estamos e para onde queremos ir. As pessoas são o principal recurso das cidades, mas as cidades têm dificuldade em acolher as pessoas”, disse.

Sendo o PDM uma carta reescrita a cada dez anos, Eduardo Vítor Rodrigues defende que o diálogo com os cidadãos deve ser uma constante. Para isso, foram criadas diversas plataformas de informação, como é o caso do projecto “Meu bairro, minha rua”. O autarca acredita que “a democracia também se exercita”. “Dialogamos com as pessoas e devolvemos o que fizemos, ou não, e as pessoas dispõem-se mais a participar na discussão pública dos espaços que as rodeiam”, acrescentou.

Pensar o espaço público é uma missão de todos, mas há entraves: “Temos um processo pedagógico a fazer, porque, por vezes, as pessoas querem as esplanadas, mas não querem ficar sem o lugar de estacionamento. Temos de explicar os motivos de tomarmos determinadas medidas”, explicou o presidente da câmara gaiense.

Os convidados foram desafiados a deixar um desejo para o local onde moram. Se Adriana Floret quer “passeios mais largos e mais árvores nas ruas do Porto”, Luís Pinto de Faria apontou para a “necessidade de capacitar as pessoas, para que tenham mais meios para usufruir das cidades”. Já Eduardo Vítor Rodrigues manifestou a vontade de consolidar uma cidade “inclusiva e coesa”, em que os vários agentes “trabalhem em termos transversais em aspectos como a inclusão, o ambiente e a diminuição da pendularidade”.

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