Islão contra Islão: a nova Gaza na Síria

1. Com as suas lentes seculares modernas, o ocidental do século XXI tem dificuldade em entender os conflitos do Médio Oriente. Na sua mente há democratas e ditadores, progressistas e conservadores, comunistas e fascistas, capitalistas e anticapitalistas. Vê o mundo como uma luta entre opressores (ditadores de direita ou de esquerda) e oprimidos (democratas e defensores dos direitos humanos). Está viciado num pensamento secular e universalista onde há democracia, direitos humanos, etc. Esqueceu grelhas de leitura não seculares dos processos políticos, bem mais úteis do que imagina. É provável que o ocidental dos séculos XVI e XVII estivesse mais apto para ler os conflitos do Médio Oriente do século XXI do que o ocidental de hoje. As actuais lutas fratricidas no Islão são mais inteligíveis por um princípio político que os ocidentais quase esqueceram — cuius regio, eius religio, a religião do governante determina a religião dos governados. Foi usado na Paz de Augsburgo, em meados do século XVI, para pôr fim a um conflito sangrento entre católicos e protestantes do Sacro Império Romano-Germânico. Tal como nesse passado europeu, nem opressores, nem oprimidos, lutam hoje no Islão por ideologias seculares que remetem a religião para a esfera privada, ou por direitos humanos universais.

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1. Com as suas lentes seculares modernas, o ocidental do século XXI tem dificuldade em entender os conflitos do Médio Oriente. Na sua mente há democratas e ditadores, progressistas e conservadores, comunistas e fascistas, capitalistas e anticapitalistas. Vê o mundo como uma luta entre opressores (ditadores de direita ou de esquerda) e oprimidos (democratas e defensores dos direitos humanos). Está viciado num pensamento secular e universalista onde há democracia, direitos humanos, etc. Esqueceu grelhas de leitura não seculares dos processos políticos, bem mais úteis do que imagina. É provável que o ocidental dos séculos XVI e XVII estivesse mais apto para ler os conflitos do Médio Oriente do século XXI do que o ocidental de hoje. As actuais lutas fratricidas no Islão são mais inteligíveis por um princípio político que os ocidentais quase esqueceram — cuius regio, eius religio, a religião do governante determina a religião dos governados. Foi usado na Paz de Augsburgo, em meados do século XVI, para pôr fim a um conflito sangrento entre católicos e protestantes do Sacro Império Romano-Germânico. Tal como nesse passado europeu, nem opressores, nem oprimidos, lutam hoje no Islão por ideologias seculares que remetem a religião para a esfera privada, ou por direitos humanos universais.