O Chega cresceu “como nunca se viu” em Portugal?

O deputado e líder do Chega afirmou que o seu partido foi o que mais cresceu entre eleições, comparando resultados das legislativas com resultados das presidenciais.

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André Ventura, do Chega, teve 11,9% dos votos nas eleições presidenciais Daniel Rocha

A frase

“O Chega teve um crescimento que nunca se viu, nem nos anos 80. É um crescimento que nunca se viu na sociedade portuguesa: passar de 1,3% para 12%, praticamente.”

O contexto

Durante a entrevista à SIC Notícias, após ter sido condenado no processo que lhe foi instaurado pela família do Bairro da Jamaica, André Ventura fez várias referências ao crescimento do Chega, tanto em número de militantes como em resultados eleitorais. Questionado sobre se o Chega é um partido unipessoal, André Ventura afirmou que o partido cresceu de 1,3% nas eleições legislativas para 11,9% nas eleições presidenciais.

Os factos

Apesar dos números apresentados serem reais, a verdade é que dizem respeito a eleições que não são comparáveis. Quando falamos de eleições presidenciais – e ainda que os partidos possam apoiar formalmente candidatos – falamos de candidaturas de indivíduos e não de partidos. Ou seja, as candidaturas a Belém (ao contrário das eleições europeias ou legislativas) são uninominais e não partidárias, como consta no decreto-lei n.º 319-A/76 que regula a eleição presidencial. Assim, quando André Ventura afirma que o Chega cresceu de 1,3% de votos (eleições legislativas de 2019) para 11,9% (eleições presidenciais de 2021) faz uma comparação que não é legítima e que não pode ser imputada ao Chega. Tal seria equivalente, por exemplo, a Rui Rio afirmar que o PSD tinha crescido de 27,9% nas eleições legislativas de 2019 para 60,70% nas eleições presidenciais deste ano, o resultado obtido por Marcelo Rebelo de Sousa, apoiado pelo PSD (entre outros partidos). E recorde-se que aquele que é actualmente o maior partido, o PS, nem sequer teve candidato próprio nestas presidenciais.

Em resumo

É falso afirmar que o Chega tenha tido o maior crescimento em eleições em Portugal, uma vez que os números que sustentam a afirmação não são comparáveis. Só nas próximas eleições legislativas, em 2023, se a legislatura durar os quatro anos, será possível comparar resultados de eleições equivalentes. Até porque nas europeias de 2019, as primeiras que disputou, o Chega integrou a coligação Basta, com PPM, PPV/CDC e Movimento Democracia 21.

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